Poeta de Belém integra coletânea em homenagem ao Centenário do PCdoB

Jetro Fagundes foi um dos selecionados, entre centenas de finalistas, para integrar, com quatro de suas obras, uma coletânea a ser divulgada, nacional e internacionalmente, por ocasião das comemorações pelo centenário do Partido Comunista do Brasil.

Jetro Fagundes é um cidadão que diariamente passa pelas ruas de Ananindeua, cidade da região metropolitana de Belém, no Pará, pegando sol e chuva numa bicicleta cargueira com grandes sacas de farinha, que vende para o sustento da família. Natural do município de Breves, Ilha do Marajó, Jetro tem 58 anos e veio para Ananindeua com 8 anos. Apesar de não ter educação formal, já lançou vários livros de poesias, como ‘Jesus o Cristo Libertador’ e ‘Marajoando em Versos e Heróis do País da Cabanagem’. Neste último, recém-lançado, recorda vários personagens paraenses, entre esses; Paulo Fonteles, líder comunista conhecido como o advogado do mato.

Já foi homenageado várias vezes na Câmara Municipal de Ananindeua, tendo recebido o Prêmio de Cidadão da Cidade, em 2014, e Homem Destaque, em 2020. Em 2016, o poeta ganhou o mais importante prêmio no Marajó: o Mérito Marajoara, concedido pela Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (Amam). É pai de 2 filhos, Filipe e Juliana, e sua companheira é a Sônia Fagundes. Ele diz que “o contato com o povo lhe rende inspiração”.

Dessa forma, é presença obrigatória nos eventos culturais e políticos sempre levando sua poesia engajada, em formato de cordel, falando das causas sociais e dos grandes personagens populares.
Jetro é conhecido pela qualidade da farinha que vende cotidianamente nas ruas da cidade e, também, pela forma poética com que manifesta sua opinião sobre a luta do dia a dia.

Leia também: Cordel para Paulo Fonteles 

Recentemente, participou da Chamada Pública Internacional de Literatura – 2022, realizado pela Editorial Ceala (Centro de Estúdios por La Amistad de LatinoAmerica, Ásia y Africa) e Fundação Mauricio Grabois (FMG), sendo contemplado com as obras: ‘Cordel da Ordem da Semana Internacional das Mulheres’; ‘Falando Dela, Dolores La Pasionária’; ‘A Flor da Paixão, Mãe da Espanha libertária’ e ‘Cordel da Ordem da Verdade Histórica, dos Estados Unidos, Império da ambição’.

A chamada faz parte das comemorações do Centenário do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) onde foram escolhidas 100 obras na categoria Poesia em homenagem aos que, nas nossas fileiras e em seu apoio, são os construtores da história da literatura e da poesia brasileiras e internacional engajadas nas lutas neste desafiador momento.

A lista de finalistas em homenagem ao centenário do Partido foi homologada pelo Conselho Editorial da coletânea ‘Festa de Pão e de Rosas: 100 Anos de Luta e Poesia’, decorrido o prazo de realização dos trabalhos da Comissão Literária, composta por cinco membros, em equidades de gênero e etnia.

“Eu ainda não sei o que isso representa, mas por ter sido lembrado, fico feliz”, afirmou Jetro. E sobre sua participação, salientou “não tenho partido. Meu Partido é todo aquele que combate o Fascismo, mas tenho muita simpatia pelo PCdoB”.

Maurício Grabois

O poeta acaba de lançar mais uma obra de cordel, dessa vez em homenagem ao Comandante Maurício Grabois, dirigente comunista do PCdoB e da Guerrilha do Araguaia, que dedicou à camarada Eneida Santos, dirigente do PCdoB Pará. Leia a íntegra:

“Do Arraial da Memória Histórica”

Falando de Maurício Grabois

Senta-te aqui, doce amiga
Eu quero hoje te contar
Dum homem mui bom de briga
Tão bravio quanto este mar
Banhador do céu baiano
Como sendo o Oceano
Que mais sabe encorajar

Há homens dos mais incríveis
Que encantam arrebois
Há os que vencem invencíveis
Dos ringues aos futebois
Mas há os de bravos níveis
Bem do tipo imprescindíveis
Como Maurício Grabois

Dos mais altivos quilates
No campo combatedor
Era filho de Mascate
O caixeiro viajor
Rompedor de estruturas
Grabois, por sua bravura
É um herói da rubra cor

De raiz ucraniana
Um homem guerreador
Nasceu na pátria baiana
Cidade de Salvador
Do mais lindo cancioneiro
Castro Alves Condoreiro
Poeta libertador

Um nordestino baiano
Descendente de judeu
Ainda ginasiano
Na cidade em que nasceu
Entre tantos estudantes
Realmente importantes
Marighella conheceu

Ainda jovem, já guerreiro
Determinado rumou
Para o Rio de Janeiro
Onde se matriculou
Na Escola de Realengo
Mas não quis ser mamulengo
Libertário se tornou

Consciente estudante
Da Escola Militar
Se tornou num militante
Esquerdista a confrontar
O fascismo que crescia
Como hoje, na covardia
De a muitos amedrontar

Enquanto ainda estudava
Com muita dedicação
Corajoso trabalhava
Para a organização
Dum Partido idealista
Combatente, Comunista
PCB, o Partidão

Vermelhante camarada
Sempre em mobilização
Naquela Escola afamada
Sofria perseguição
Mas jamais retrocedia
Até que num certo dia
Deram ordem de expulsão

Expulso de Realengo
Bem mais intensificou
O combate ao monstrengo
Que por aqui se instalou
Inimigo do nazismo
Do fascismo, do cinismo
Nunca que se amedrontou

Jovem bravo engajado
No setor de agitação
Maurício entusiasmado
Dedicou-se à construção
Da Aliança lutadora
Nacional Libertadora
De muita convicção

Ser da mais alta coragem
Para além da agitação
Vivia na panfletagem
Em ousada atuação
Um comunista completo
Em processo irrequieto
Da plena revolução

Eram anos getulistas
E o Brasil a assistir
O avanço Integralista
Democracia a ruir
A História brasileira
Viu uma única trincheira
No campo do resistir

Dedicado à Juventude
Comunista do Brasil
Nas devidas amplitudes
Foi de serventia mil
No tempo da Intentona
Que desafiou a zona
Do nazifascismo vil

Num Brasil reacionário
Sem Congresso Nacional
Sistema totalitário
Fez perseguição total
O Estado Novo agia
Por qualquer coisa prendia
Sem inquérito policial

Grabois que se envolvia
Com o grande Partidão
Julgado à revelia
Recebeu condenação
Depois de tempo passado
Foi detido, encarcerado
Pelo Estado de Exceção

Ao findar o Estado Novo
Sendo livre da prisão
Pelo consciente povo
Numa histórica eleição
Foi eleito Deputado
E de modo destacado
Fez brilhante atuação

Deputado destemido
De saber se destacar
Maurício foi escolhido
Para poder comandar
O PCB seu partido
Comunista aguerrido
Do Ideal a atuar
.
Quando um golpe sinistro
Afrontou a Legislação
Foi cassado o registro
Do PCB, Partidão
E o Deputado Maurício
Voltou pro eterno ofício
Da ação, movimentação

Parte II

Quando o mundo comunista
Se propôs a refletir
Como quem, revisionista
Querendo demais se abrir
Grabois foi bem taxativo
Sempre o mesmo, incisivo
Optou por resistir

Sendo expulso ďo Partido
Que tanto se dedicou
Junto a muitos, decidido
No Ideal perseverou
Com a massa, alinhado
Até muito mais ousado
O PCdoB refundou

Com o Golpe de Estado
Na Pátria nunca gentil
O terror pra todo lado
Só tristeza o céu de anil
Prisões, mortes, perseguidos
Exilados, foragidos
O clima ficou hostil

A garantias suspensas
Tudo se tornou brutal
Com perseguições imensas
Do Convento ao Sindical
Nisso, muitos camaradas
Rumaram pra luta armada
Contra o golpismo mortal

Corajoso companheiro
Histórico combatedor
Se tornou num guerrilheiro
Um herói pelejador
No Araguaia foi valente
Comandante resistente
Contra o Golpe repressor

Verdadeira liderança
No Araguaia a se embrenhar
Ele tinha a esperança
De a partir dali chamar
Toda a massa camponesa
No combate às torpezas
Do Regime Militar

Camarada enlouquecido
De esperançoso ardor
Confrontou Estado bandido
Matador, torturador
Paridor dum genocida
Essa coisa pervertida
Um golpista sem pudor

Grabois, desaparecido
Por jamais capitular
Foi dos inúmeros sumidos
Num Regime Militar
No Araguaia permanece
A História não o esquece
Pois vivo vai sempre estar

Quem viveu toda uma vida
Mais alta perseguição
Viu na família querida
Dor de partir coração
No filho assassinado
O genro também matado
Pela alta conspiração

Comunista Comandante
Dele se pode dizer:
Era um homem brilhante
De jamais nada temer
Arguto, sensível, prático
Incansavelmente tático
Em cada locomover

Um Herói da Humanidade
Nunca jamais se dobrou
A qualquer dificuldade
Que na vida enfrentou
Defensor das Igualdades
Dispensou comodidades
Tantas lutas encarou

Maurício Grabois Coragem
Dos Ideais da Paixão
Leva, em sua homenagem
Nome de uma Fundação
No Partido Comunista
Do Brasil, de Idealistas
Ele é Eterno Cidadão

Eterno bravo, valente
Grabois vive em qualquer ser
Consciente, coerente
Resistindo a combater
Este sistema perverso
Do atraso, retrocesso
Que faz o povão sofrer

Companheiro da bravura
Ele é quem ousa lutar
Contra qualquer ditadura
Matadora do sonhar
Grabois vive pela mata
Também numa passeata
Guerrilhando sem cessar

Homem revolucionário
Nunca só em si pensou
Sentimento igualitário
Foi o que mais motivou
Tal constante valorosa
Sua alma generosa
A todos testificou

Jetro Cabano Fagundes
Farinheiro do Marajó e de Ananin
Para Eneida Santos, Histórica Companheira Socialista
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Com informações do PCdoB-Pará

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