Quase metade das brasileiras já sofreram assédio em espaços públicos

Segundo pesquisa, 47% das brasileiras alegam ter sofrido algum tipo de assédio na vida e é nos espaços públicos onde elas estão mais expostas à essas agressões

Guarda Municipal realiza ação de combate ao assédio no transporte coletivo | Foto: Marcio James/SemCom Prefeitura de Manaus

Uma pesquisa sobre ‘Desigualdades’ divulgada na última quarta-feira (10) mostra que 47% das mulheres brasileiras (o correspondente a 42.467.472), já sofreram assédio em público. O levantamento aponta ainda que o assédio contra mulheres também é mais frequente na rua e nos espaços públicos, seguido de transportes, público e privado, bares, ambiente de trabalho e até dentro de casa.

A pesquisa foi feita pelo Instituto Cidades Sustentáveis, em parceria com o IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), e ouviu 1.062 mulheres com idade acima de 16 anos de todas as regiões do país, em uma amostragem que acompanhou o perfil da população brasileira feminina apontado pelo censo populacional do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ambientes onde sofreram assédio

Em relação aos espaços pesquisados, dos 42 milhões de mulheres que já sofreram assédio em público, 29% eram locais como praças, parques e praia; 27% foram assediadas dentro do transporte público; 23% em bares e casas noturnas; 18% alegam ter sofrido algum tipo de assédio dentro do ambiente de trabalho; 14% dentro de transporte particular, como moto-táxi, táxi, Uber e 99. E 13% das mulheres ainda disseram que os assédios aconteceram em ambiente familiar.

Cultura do Estupro

A historiadora e especialista em diversidade de raça e gênero, Giselle Santos, explicou, em entrevista ao R7, que o assédio mostra a recorrência da “cultura de estupro”. “É uma percepção presente no imaginário social de que os corpos das mulheres estão disponíveis, independente de consentimento ou não. E alguns corpos são vistos dessa forma com ainda mais ênfase, como é o caso das mulheres negras”, disse.

Segundo ela, toda situação de assédio é negativa, independentemente de onde aconteça, mas o fato de que mulheres e meninas não possam estar seguras nem mesmo no ambiente familiar “demonstra quanto a violência de gênero está imbricada na sociedade e a urgência de transformar essa realidade”.

A historiadora disse ainda que um dos aspectos essenciais para o combate do assédio é o fim da impunidade. “Os assediadores precisam ser responsabilizados por seus atos de violência. Para tanto, nós, mulheres, precisamos denunciar situações de abuso e romper com o silêncio que protege os agressores. O assédio é crime e ponto final.”

Lucia Ricon, coordenadora do Fórum Nacional Permanente do PCdoB para a emancipação das mulheres, diz que o assédio é próprio de uma cultura autoritária; que expressa uma visão de poder do/a assediad@r sobre outra pessoa que lhe permite tratar com desrespeito o “ser inferior”. Segundo ela, como vivemos numa sociedade de classes, onde alguns se apropriam do trabalho de outros, o assédio faz parte do processo de afirmação desse opressor. No que diz respeito às mulheres essa situação se agrava pois o patriarcado não existiria se os homens não se considerassem superiores.

“Unem-se aí dois fatores para subordinar e oprimir as mulheres com diferentes tipos de assédio. Compreender essa realidade é o primeiro passo para enfrentá-la e superá-la. A democracia é condição para travar o enfrentamento direto, para conquistar educação e legislações que contribuam com o entendimento do que seja superação das desigualdades e construção de condições materiais para que, vivendo as diferenças homens e mulheres usufruam de possibilidades iguais.”, salienta.

De abrangência nacional, o objetivo do estudo foi levantar a percepção da população brasileira sobre múltiplas desigualdades no país. Com entrevistas realizadas entre 1º e 5 de abril, os dados representam uma mostra de todo Brasil, com margem de erro de dois pontos percentuais.

Veja o estudo completo aqui.

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Com informações de agências

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