Brasileiros fazem bicos para sobreviver no governo Bolsonaro

Com o rendimento médio menor e a carestia reduzindo o poder de compra, trabalhador acumula atividades extras. Muitos estão com dificuldades de comprar alimentos.

Foto: Piqsell/Creative Common

Com a carestia corroendo o já reduzido rendimento médio do trabalhador, quase a metade dos brasileiros fez algum tipo de trabalho extra – o chamado bico – nos últimos 12 meses, segundo dados do Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec). Para se ter uma ideia, no Sudeste, a região onde a prática é mais comum, somente 51% dos trabalhadores afirmaram não ter feito este tipo de serviço, que inclui atividades como passear com cachorros, oferecer hospedagem a animais de estimação ou dar aulas particulares. Em seguida aparecem o Norte e o Centro-Oeste, empatados com 52%, e o Nordeste, com 55%. Somente no Sul um contingente maior da população (63%) afirma não ter desempenhado tais atividades.

A renda média dos trabalhadores recuou 5,1% no segundo trimestre deste ano, frente a igual período de 2021, para R$ 2.652, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A diferença equivale a R$ 142. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores considera a soma de todos os trabalhos. Além de ganhar menos, o brasileiro ainda sofre com a carestia. Em julho, apesar de o país ter registrado deflação, a inflação acumulada em 12 meses permanece em dois dígitos.

Os bicos mais comuns apontados na pesquisa do Ipec sobre a desigualdade foram os de serviços gerais, como faxina, manutenção, reformas, jardinagem e “marido de aluguel”, realizados por 13% dos entrevistados. Produzir alimentos em casa para vender (bolos, pães, doces, refeições, etc.) foi a saída para 8% dos que responderam à pesquisa. Para sobreviver, ainda 6% recorreram à venda de roupas e outros artigos usados.

As atividades extras mais apontadas em seguida por 5% dos participantes cada uma foram: fazer trabalhos manuais, como bijuterias, artesanatos; serviços de beleza (cabeleireiro, barbeiro, manicure, depilação, entre outros); e revender cosméticos ou produtos de beleza. Foi mencionada por 4% a atividade de vendedor ambulante/Camelô e também por 4%, trabalhar como babá/cuidar de crianças e pelos mesmos 4%, atuar como motorista e/ou realizar entregas por aplicativo (Uber, 99, Ifood, Rappi e etc.). Ainda 3% cuidaram de idosos e 1% atuou como segurança em estabelecimentos comerciais.

Percepção da pobreza

A pesquisa realizada pelo Ipec também apontou um aumento da percepção, nos últimos 12 meses, do número de pessoas em situação de fome e pobreza. Dos entrevistados, 47% responderam que têm visto ou conhecem muitas pessoas com dificuldades para comprar alimentos; 34% afirmaram ter notado o aumento da população em situação de rua; 29% observaram mais pessoas trabalhando nos semáforos; e 17% relataram ter visto mais favelas e barracos/áreas ocupadas.