Mentiras de Bolsonaro para Jornal Nacional não surpreenderam

Durante 40 minutos, o presidente apresentou um Brasil inexistente, negou corrupção em seu governo, e não apresentou propostas para o país

Deputados utilizaram as redes sociais para repercutir a entrevista de Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional durante a noite desta segunda-feira (22). Durante 40 minutos, Bolsonaro se esquivou das respostas, apresentou um país com geração de emprego, economia em alta, atuante no combate à pandemia. Negou os ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal e os deboches às vítimas da Covid-19, defendeu seus ministros e disse que não há corrupção em seu governo.

Se as respostas do presidente fossem verdadeiras, os brasileiros viveriam num país melhor em 2022. No entanto, após quase 4 anos de gestão, o Brasil de Bolsonaro voltou ao Mapa da Fome e tem 33 milhões de brasileiros sem comida na mesa, tem mais de 670 mil mortos pela Covid, enfrenta uma inflação galopante, subemprego, denúncias de corrupção no Ministério da Educação e na compra de vacinas, aumento no desmatamento, além de ataques rotineiros às urnas eletrônicas e à democracia.

Para os deputados, Bolsonaro já se mostrou um mentiroso compulsivo. No entanto, suas invenções não podem ficar sem respostas.

“Não é de surpreender que Bolsonaro só tenha mentido no JN. É assim que ele age. Mas não podemos ficar calados. Afirmar que o país está bem com 33 milhões de brasileiros passando fome é inadmissível! Ele não apresentou uma proposta para o país. Um novo governo dele seria a continuidade do desmonte dos direitos, de inflação galopante, carestia. Não é o que queremos. Desejamos um país onde as pessoas tenham comida no prato, emprego, educação de qualidade, saúde, segurança. Isso, sem deboche do presidente da República”, pontuou o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE).

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A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) também criticou a ausência de propostas de Bolsonaro para um novo governo. Segundo ela, o que se percebeu na entrevista é que “o coiso não tem proposta para economia, nem para geração de emprego, nem para saúde”. “Como esse homem chegou na Presidência? Em outubro, iremos dar adeus ao desgoverno, porque ninguém suporta mais quatro anos de irresponsabilidade com o nosso povo”, afirmou.

Bolsonaro imitando vítimas da Covid-19 (Foto: Reprodução)

Auxílio

Entre as mentiras ditas pelo presidente na entrevista está a de que partiu do Executivo a ideia de dar auxílio de R$ 600 à população. Não fosse a pressão da Oposição, no início da pandemia, o governo Bolsonaro não teria dado nem R$ 200 à população mais carente. Além disso, ele quis fazer crer que a Oposição não quis aprovar o aumento no Auxílio Brasil.

Na verdade, a Oposição criticou o caráter oportunista e eleitoreiro da medida de Bolsonaro tomada poucos meses antes das eleições, mas votou a favor da população.

“Não podemos esquecer que só existe auxílio de R$ 600, porque lutamos na Câmara Federal e não aceitamos os R$ 200 que #BolsonaroMentiroso queria dar por apenas três meses”, lembrou o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).

Vice-líder da oposição na Câmara, a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) reiterou a crítica à mentira de Bolsonaro sobre R$ 600 e destacou que a entrevista do candidato à reeleição provocou “o maior panelaço da história do Brasil”. “Ele mente descaradamente quando diz: “Criamos imediatamente o auxílio emergencial”. Potoca!! Mentira!!! O auxílio emergencial só saiu por pressão da Oposição”, destacou.

Pandemia

Outro ponto que gerou revolta foi em relação à pandemia. O governo Bolsonaro foi o principal ator contra as medidas sanitárias para conter o avanço da Covid-19, não fez campanha para esclarecimento da sociedade e de incentivo ao uso de máscaras, demorou para comprar vacinas contra a doença, teve denúncia de corrupção na negociação dos imunizantes, teve deboche constante protagonizado por Bolsonaro, inclusive quando pacientes em estado grave sofriam com falta de oxigênio nos hospitais, no pico da pandemia. No entanto, na entrevista ele negou sua conduta e disse que seu governo respondeu com celeridade e que nunca imitou pacientes sem ar.

Imediatamente vídeos passaram a circular nas redes sociais com as demonstrações do presidente da República em lives e entrevistas. A conduta também foi rechaçada pelos comunistas.

“Mentiras contadas não podem passar sem contestação. Ele zombou de pessoas morrendo por falta de oxigênio. Propagou remédios sem eficácia. Ele é responsável pelo desmatamento recorde na Amazônia. Fez o Brasil voltar ao mapa da fome. Ele é o pior presidente que o Brasil já teve”, afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A deputada Alice Portugal também rebateu Bolsonaro. “Teve a cara pau de dizer que não imitou os pacientes com falta de ar no pico da pandemia. Não temos memória curta, senhor presidente! Foram mais 670 mil vidas perdidas pela irresponsabilidade do seu governo”, disse.

Já Daniel Almeida destacou que Bolsonaro não assume a responsabilidade por nenhum de seus atos. “A todo tempo tentou se esquivar das suas falas, ações e omissões durante a pandemia. Debochou e negligenciou a saúde pública e as múltiplas crises que se desdobraram disso. Ele mente e covardemente não assume a responsabilidade”, afirmou.

Sobre as mentiras e deboche na pandemia, a líder do PSOL na Câmara, Sâmia Bonfim (SP), diz que a história e o povo brasileiro cobrarão a fatura. “Vamos derrotar esse criminoso, e seguiremos a luta pra que ele e toda a sua gangue paguem pelos crimes que cometeram”, afirmou.

Centrão x Oposição

Ao ser questionado sobre sua “parceria” com o Centrão, Bolsonaro quis imputar a William Bonner seu apreço ditatorial ao afirmar que o jornalista o incentivava a ser “um ditador” com a pergunta. Afirmou que precisava se aliar ao Centrão para governar, uma vez que não daria para dialogar com os opositores, citando partidos da esquerda como PCdoB, PSol, PT.

Bolsonaro “esqueceu” de mencionar, no entanto, que foram essas legendas que defenderam direitos para a população na pandemia, enquanto o seu governo ignorava as mazelas enfrentadas.

“Ninguém deve se admirar das mentiras de Bolsonaro no Jornal Nacional. Afinal, ele as comete rotineiramente. Mentiroso compulsivo. Mas vimos que o PCdoB incomoda esse fascista genocida… Disse que “não dá pra dialogar com o PCdoB”… Ora, ora, que medinho é esse, Bolsonaro?”, ironizou o deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA).

Já o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) afirmou que foi um “atestado de dignidade”. “Bolsonaro no Jornal Nacional: “Não dá pra dialogar com o PCdoB”. Pra mim isso é um atestado de dignidade. Se Bolsonaro não gosta, aí a convicção triplica! Mas o saldo da entrevista foi que ele falou, falou, falou e mentiu. Tem muita gente ainda caindo na dele, não se enganem. Parece meme, piada de mau gosto, mas Bolsonaro mente e não tem nada de burro. O sujeito comanda uma verdadeira quadrilha no MEC e vem falar de governo sem corrupção? Lembra do Bolsolão do MEC? Mentiroso no JN!”, concluiu.

O líder da oposição na Câmara, Wolney Queiroz (PDT-PE), destacou o questionamento sobre a política do ex-ministro do Meio Ambiente que defendeu ‘passar a boiada’ na desregulamentação das leis na área. “Ricardo Salles é a política de Bolsonaro aplicada ao meio-ambiente. A destruição da vida, destruição do planeta e a destruição da economia. Esse é o desgoverno de Bolsonaro!”, disse.

“Além de mentir muito no JN, vocês repararam numa coisa na entrevista do Bolsonaro? Ele interrompeu muito mais a Renata do que o Bonner, quando ficou incomodado com as perguntas. Não é à toa que as mulheres rejeitam esse sujeito: misógino, machista, arrogante”, observou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).


 

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