Lula acerta ao não contra-atacar Bolsonaro em debate, diz especialista

Para Tiago Garrido, “enquanto o Bolsonaro falava de corrupção, o Lula colocava mais um tijolo na imagem dele do social, que é o que vai mantê-lo à frente nas pesquisas”

Os debates eleitorais, como o realizado pela Band no último domingo (28), não tendem a mudar votos, a não ser que façam parte de uma estratégia de longo prazo. A opinião é do professor Tiago Garrido, especialista em política e co-autor, ao lado do cientista político Alberto Carlos Almeida, do recém-ançado A Mão e a Luva – O que Elege um Presidente.

Em entrevista ao site da revista CartaCapital, Garrido sustenta que poucos eleitores definem seu voto com base num encontro entre presidenciáveis. “Para a maioria das pessoas, o debate funciona como um lembrete de que a eleição está chegando”, diz. A seu ver, “dificilmente teve ali uma mudança de voto. Isso é ilusório”.

O professor foge do refrão e defende, nesse sentido, a tática adotada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Band. Segundo ele, Lula recorreu à “estratégia correta” ao não cair na provocação do presidente Jair Bolsonaro (PL), evitando um contra-ataque duvidoso: “Enquanto o Bolsonaro falava de corrupção, o Lula colocava mais um tijolo na imagem dele do social, que é o que vai mantê-lo à frente nas pesquisas.” 

Na visão de Garrido, ainda que membros da campanha tenha manifestado contrariedade a essa tática, o efeito deve ser positivo para Lula no longo prazo. “Quando o Bolsonaro começou a falar de corrupção, o Lula olhou para a câmera e citou os feitos dos seus governos na área social. Foi uma vitrine”, explica.

“Não há nenhum tipo de resposta que o Lula pudesse dar contra a corrupção que fizesse muita diferença. De modo algum ia mudar o voto que ele precisa garantir no primeiro turno – que é aquele eleitorado que muda de voto sobretudo por conta da situação econômica”, agrega.

Para Garrido, a postura de um candidato nesses eventos precisa ser coerente com o discurso traçado ao longo da campanha. “O debate faz parte de uma estratégia de comunicação cumulativa”, afirma. “No Jornal Nacional, na pergunta sobre a Lava Jato, ele falou dos empregos destruídos pela operação. O pano de fundo desta eleição é a discussão sobre inflação e o desemprego – e o Lula tratou dos temas.”

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