Valorizar os serviços públicos e os servidores são dois lados da mesma moeda

A degradação dos serviços públicos e a desvalorização dos servidores são os efeitos concretos das políticas neoliberais impostas pelos governantes nas três esferas.

Ao lado de uma visível degradação dos serviços públicos, as políticas neoliberais impostas ao longo dos últimos anos no Brasil e em São Paulo provocaram um dramático retrocesso no cotidiano dos trabalhadores e trabalhadoras do setor público, vitimados pelo congelamento das despesas públicas, arrocho dos salários, reformas nas regras da Previdência, terceirizações e carência de concursos, entre outros problemas.

A reforma administrativa proposta ao Congresso Nacional pelo governo Bolsonaro (PEC 32) seria o golpe mais letal contra os servidores. Acaba de vez com a estabilidade, abrindo as portas para o aparelhamento político da máquina estatal e amplia o espaço para as privatizações e terceirizações.

Na mesma toada, os governos do Estado, da capital e vários municípios implantaram, por aqui, uma política de desmonte, desvalorização, terceirização e privatização nos serviços públicos de São Paulo. Do cardápio amargo imposto aos trabalhadores e trabalhadoras constam retrocessos nas regras da Previdência, congelamento de salários, privatizações e terceirizações.

A prefeitura de São Paulo, sob o comando de Ricardo Nunes, há anos vem praticando a política do reajuste de 0,01%. A perda salarial acumulada por seus funcionários subiu a 45,14%.

Além do arrocho salarial, a segunda rodada da reforma da previdência, o Sampaprev 2, impôs regras que dificultam o acesso à aposentadoria, aumentando a idade mínima em até sete anos, e instituem para os atuais aposentados o desconto de 14% referente aos valores entre um salário mínimo (R$ 1.212,00) e o teto do INSS (R$ 7.087,22). O prejuízo mensal para o trabalhador chega a R$ 822,53.

As categorias têm reagido. Dezenas de manifestações de trabalhadores e trabalhadoras dos serviços públicos, incluindo greves, foram realizadas em todo o território nacional ao longo dos últimos meses. Trabalhadores e trabalhadoras da função pública têm colhido resultados positivos dessas batalhas, cabendo destacar entre elas o adiamento da votação da famigerada PEC 32.

As lideranças do setor têm consciência de que para mudar esta realidade é preciso, em primeiro lugar, alterar o cenário político. Uma oportunidade de ouro será apresentada ao conjunto da classe trabalhadora e do povo brasileiro nas eleições convocadas para 2 de outubro.

A degradação dos serviços públicos e a desvalorização dos servidores não são uma fatalidade ditada pelos deuses ou pela natureza. São os efeitos concretos das políticas neoliberais impostas pelos governantes nas três esferas. Por esta razão, o primeiro passo para a mudança consiste em derrotar os candidatos do neoliberalismo à Presidência, ao governo estadual, bem como ao Congresso Nacional e à Assembleia Legislativa.

Temos consciência de que a valorização do serviço público e a valorização do servidor são dois lados de uma mesma moeda. Com melhores salários, jornada e condições de trabalho os servidores serão mais produtivos e eficientes na prestação de serviços reclamados pelo povo.

O Brasil e, em especial o estado de São Paulo, demandam uma gestão que valorize os serviços e os servidores públicos, opondo-se às privatizações. Em âmbito nacional é preciso revogar a Emenda Constitucional 95, que impôs o Teto dos Gastos, bem como as reformas trabalhista e previdenciária, e cessando os ataques ao funcionalismo.

A política fiscal deve mudar para garantir investimentos na educação pública, gratuita e de qualidade, na saúde e na infraestrutura, bem como na valorização dos serviços e dos servidores públicos, abertura urgente de novos concursos, valorização das aposentadorias e pensões, melhora da vida dos trabalhadores e retomada de direitos sociais e trabalhistas.

*Renê Vicente é sociólogo, pós-graduado em Economia do Trabalho e Sindicalismo, presidente da CTB-SP, vice-presidente nacional da CTB e ex-presidente do Sintaema.

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