Lula quer cultura como fonte de emprego e renda para quem produz

Em encontro com artistas em Belém (PA), ex-presidente destacou importância da cultura para a economia e para dar civilidade, nacionalidade e respeito aos povos

Em encontro com artistas paraenses, no começo da tarde desta quinta-feira (1), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou o compromisso com o setor cultural e com a valorização das manifestações de todos os cantos do país. Ele disse que retomará o Ministério da Cultura, além de criar comitês estaduais, e defendeu que os recursos para a área sejam tratados como investimento, não como gasto.

“É preciso parar de tratar a cultura como gasto. Essa é a mudança chave que nós temos que ter e entender a cultura como instrumento da economia brasileira. A cultura, ela pode gerar muitos empregos. (…) Então, nós vamos retomar o Ministério da Cultura e vamos efetivamente, criar comitês estaduais de cultura”, afirmou a uma plateia que lotou todos os espaços do Teatro da Paz, em Belém.

Enquanto ouvia relatos locais sobre os avanços ocorridos durante seus governos, Lula afirmou que, se ganhar as eleições, fará muito mais pela cultura na região. “Se vocês acham que no meu governo a cultura foi bem incentivada ou foi tratada com muito respeito, se preparem porque vocês vão ter que me ajudar a fazer muito mais. Eu não posso voltar a presidir o país e fazer menos do que eu já fiz. Eu não posso voltar e fazer igual”.

O ex-presidente declarou ainda ser preciso transformar a cultura numa atividade rentável para quem a produz e apontou os artistas e produtores como figuras centrais para fazer o Brasil dar o salto de qualidade que precisa.

Lula disse que a cultura de um país é das coisas mais importante e o que lhe dá civilidade, nacionalidade e respeito. “A cultura vai ganhar força porque nós temos que mostrar ao Brasil inteiro o que nós somos. (…). Se você visitar as regiões mais pobres do estado de Minas Gerais e for no Vale do Jequitinhonha, vai ver uma cultura exuberante que ninguém sabe, porque está lá confinada. Só vai ser exposta se alguém for lá e comprar”, destacou.

“Eu não me conformo do terceiro produtor de alimento do mundo ter 33 milhões de pessoas passando fome. Do primeiro produtor de proteína animal do mundo ter gente na fila do açougue para pegar um osso ou carcaça de frango”, lamentou o ex-presidente.

Segundo levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), o número de pessoas que passam fome no país subiu para 33,1 milhões. O país voltou ao patamar de 30 anos atrás, de onde só tinha saído nos governos de Lula e Dilma Rousseff.

Lula recordou então seu passado no agreste pernambucano, quando passou fome ainda na infância, na cidade de Garanhuns. “Quem está conversando com a gente não vê que a gente está com fome. Então, nós que temos o que comer, temos que estender a mão para aquele que não tem, nós temos que voltar a ser solidários, generosos”, argumentou.

Complexo de vira-latas

Lula disse que pretende reposicionar o Brasil na geopolítica mundial, garantindo respeito entre os países do primeiro mundo e abolindo o chamado complexo de vira-latas, termo cunhado por Nelson Rodrigues, nos anos 1950, para se referir à suposta baixa autoestima e situação de inferioridade que o brasileiro muitas vezes se coloca.

“A gente vai readquirir o respeito no mundo. Os americanos vão nos respeitar porque no nosso governo será abolido o complexo de vira-latas”, declarou nesta quinta-feira (1), em Belém, no Pará, durante reunião com fazedores de cultura.

Lula recordou com orgulho que foi o único presidente do Brasil a ser convidado para todas as reuniões do G8, sigla que denomina os oito países mais ricos e influentes do mundo.

O ex-presidente também criticou a superficialidade nas relações contemporâneas e disse que a Cultura, a partir de um Ministério que valorize artistas, pode tocar as pessoas, para que elas enxerguem um mundo diferente, melhor.

“Nós não podemos aceitar deixarmos de ser seres humanos para virarmos algoritmo. Não podemos, gente! Nós temos que ter sentimento, compaixão com os nossos irmãos e irmãs que podem menos que a gente. E quem pode fazer esse país dar um salto de qualidade se não vocês, representantes da cultura? Se não vocês, quem vai falar com milhões de pessoas todos os dias, em teatro, cinema, rádio, televisão, na rua!?”, completou.

Farol da cultura

Acompanhado da esposa Rosângela Silva, a Janja, de representantes da Coligação Brasil da Esperança e de políticos locais como Edmilson Rodrigues, prefeito de Belém, e de Hélder Barbalho, governador do Estado, Lula ouviu artistas e lideranças.

Do governador Hélder Barbalho, que é filiado ao MDB, Lula recebeu o reconhecimento público da importância dos seus governos para a cultura local e para o desenvolvimento da região. Todos os presentes lamentaram os retrocessos pelo qual o setor cultural passa no atual governo e reclamaram especialmente do veto às leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc.

Um dos pontos altos do encontro foi o depoimento da atriz Dira Paes, muito conhecida por atuações em clássicos do cinema nacional e novelas globais. Participando das gravações da novela Pantanal, ela gravou um vídeo em que diz: “Você sempre foi um farol para a cultura brasileira. (…) Você vem dando uma aula para nós todos ao longo desses anos, principalmente, diante nos anos desse governo nefasto que aqui se apresenta. (…) Lula, seja forte, saiba que estamos juntos e receba esse abraço amazônico para lhe dar muita potência nos próximos dias. Nós estaremos juntos, enfrentando a tudo e a todos para lhe ver presidente da República em 2022” afirmou.