Bolsonaro causa indignação por tentar uso eleitoral do Círio de Nazaré no Pará

Presença eleitoreira do candidato do PL no evento católico causou constrangimento e incomodo a governantes e religiosos. Arquidiocese disse que não permite uso político do Círio.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) causou constrangimento e indignação ao participar, na manhã deste sábado (8), em plena campanha eleitoral, de uma romaria fluvial em celebração ao Círio de Nazaré, em um rio na cidade de Belém, no Pará. A Arquidiocese de Belém precisou se manifestar sobre o assunto. A celebração em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré é considerada a maior festa católica do mundo e é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil.

No estado do Pará, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva derrotou Bolsonaro por 2.443.730 votos (52,22%), contra 1.884.673 (40,27%) no primeiro turno.

Em vez de sua campanha pagar um dos muitos barcos disponíveis, Bolsonaro aportou num navio da Marinha, pilotado por militares, em que fez um percurso de cerca de três horas. O presidente estava acompanhado das deputadas Bia Kicis (PL-DF) e Carla Zambelli (PL-SP). Ele deixou o local nesta embarcação, seguido por motos aquáticas.

A romaria fluvial integra a festividade religiosa, que voltou ao formato tradicional após dois anos de restrições impostas pela pandemia da covid-19. A expectativa é reunir 2,5 milhões de pessoas no fim de semana na capital paraense. 

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O anúncio da presença de Bolsonaro foi contestado por autoridades locais, como o governador Helder Barbalho (MDB) e o prefeito da capital Edmilson Rodrigues (Psol). O governador disse que o Círio de Nazaré é “algo de que nenhum político tem o direito de se apropriar” e o prefeito declarou que “fé de todos os paraenses não pode ser sequestrada por uma candidatura à presidência”.

A Arquidiocese de Belém, responsável pela organização do evento, divulgou nota em que diz não ter convidado “qualquer autoridade seja em nível municipal, estadual ou federal” para o Círio. “Não desejamos e nem permitimos qualquer utilização de caráter político ou partidário das atividades do Círio”, afirmou a Arquidiocese.

Uso eleitoral

A assessoria de Bolsonaro afirmou à imprensa local que o presidente participa da celebração como um “chefe de Estado” e que o comparecimento dele não é um compromisso como candidato à reeleição. No entanto, o deputado tem aproveitado qualquer grande evento religioso para pedir voto e tirar foto ao lado de lideranças religiosas. Infelizmente, ele acabou saindo do local sem discursar ou falar com a imprensa e não foi recebido por nenhum religioso.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi convidado pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), para participar do Círio neste ano, mas recusou o convite. A campanha tem repetido que não vai misturar eleições com religião, frequentando igrejas e causando desconforto nos fiéis e crentes, por exemplo. Todos os encontros com religiosos são feitos fora do contexto de celebrações ou igrejas.

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“Eu não gosto de fazer nenhum gesto que possa parecer que eu estou utilizando a religião para fazer política. Uma das coisas que eu tinha vontade de ver há muito tempo é o Círio de Nazaré, mas eu não vou porque é um ano de eleição”, disse Lula.

Para piorar o desencontro entre Bolsonaro e os religiosos, a postagem nas redes do candidato cometeu a gafe de escrever com grafia errada o nome da celebração. A mensagem dizia “Sírio de Nazaré” com a letra “S” – o que remete ao que pertence à Síria, país do Oriente Médio. A grafia correta do evento religioso, no entanto, é “Círio”, com “C”, que é uma luz de vela.