No dia do Nordestino, Lula e Haddad caminham juntos para reindustrializar Campinas (SP)

Em caminhada em Campinas, ex-presidente Lula e candidato ao governo paulista Fernando Haddad apresentaram propostas para a cidade e criticaram campanhas adversárias.

Caminhada em Campinas Foto Ricardo Stuckert

Em caminhada no fim da manhã deste sábado (8), em Campinas (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva homenageou o Dia do Nordestino, comemorado hoje. As caminhadas têm permitido uma proximidade maior do presidente com os eleitores. Lula disse ter orgulho de ser pernambucano, e que é feliz com as transformações que ocorreram na região, após seus governos.

“Além de ser brasileiro sou nordestino e nós conseguimos provar que é possível melhorar esse país”, disse, contando que viu o Nordeste com mais universidades, mais escolas técnicas e com crescimento maior do que da China. Lula lembrou o desrespeito de Jair Bolsonaro com o povo da região e afirmou que os que têm origem no Nordeste não deveriam dar voto ao atual presidente.

“Eu queria saber quem aqui tem algum parente nordestino. O genocida disse que não gosta de vocês. Quem tem uma gota de sangue do Nordeste não vota nele”, disse a uma multidão que lotou a Francisco Glicério, principal avenida do Centro da cidade, em caminhada que coloriu as ruas centrais da cidade, entoando músicas da campanha e gritando frases de apoio à volta do ex-presidente ao governo.

O ex-ministro da Educação e candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, também mencionou o Dia do Nordestino, e criticou os ataques de Bolsonaro. “Bolsonaro é tão ignorante que ele passou essa semana ofendendo o povo do Nordeste. Ele não tem ideia do que é feito o povo de São Paulo. Ele não sabe que São Paulo, Campinas, foram feitas com suor dos nordestinos. Quando ele chama o povo do Nordeste de analfabeto, ele não tem noção que o Lula colocou a educação com qualidade à frente em Pernambuco e Ceará”, disse, ao lado de Lula.

Reindustrializar Campinas

Quais as propostas do meu adversário? Ele já esteve aqui? Conhece a região? Estamos fazendo um debate sério, com conhecimento do estado”, disse o candidato ao governo de São Paulo Fernando Haddad (PT) sobre seu adversário no segundo turno, Tarcísio de Freitas (Republicanos). As declarações foram dadas à imprensa após a caminhada em Campinas, ao lado de Lula. Lá, apresentou propostas para a região e falou sobre o futuro de São Paulo e do país.

“Vamos fazer o Bilhete Único Metropolitano. Faremos a reforma do ensino médio porque os indicadores estão ruins em Campinas. Vamos usar a Unicamp para reindustrializar o estado. São propostas muito objetivas para a região.”

O candidato a governador pontuou as principais propostas para a região, como levar um trem de alta velocidade desde a capital, integrado ao Bilhete Único Metropolitano, para baratear a passagem alta atual. “Nosso problema hoje é que nossas estradas estão entupidas porque as pessoas não têm como se transportar em São Paulo. Todo mundo com carro, para não falar desses pedágios que não abaixam de jeito nenhum. Leva duas, três horas para chegar na capital; não funciona”, observou.

Também está no programa de governo o estímulo ao ensino superior e tecnológico na região e o financiamento da Unicamp, considerada uma das melhores universidades estaduais do país, além da oferta de cursos universitários nos aparelhos das Escolas Técnicas do Instituto Paula Souza (Etec).

Lula concordou com Haddad sobre a necessidade de retomar a indústria nacional, sobretudo em regiões como a de Campinas, onde a proximidade com a capital e o porto favorecem a logística. “Estamos vivendo por conta da nossa agricultura que é o que temos de mais positivo. Mas o Brasil precisa voltar a se industrializar. Precisamos conversar com os empresários. Precisamos conversar com as universidades”, disse.

O candidato lembrou que o Brasil, em seu governo, era a sexta maior economia do mundo. Agora, ao fim do mandato de Bolsonaro, ocupa a 13ª. “Vamos ter que discutir a reindustrialização deste país. Vamos voltar com essa missão.”

Lula insistiu na necessidade de abrir o país para o mundo para estimular novos negócios, investimentos e a geração de empregos de qualidade. “Vamos voltar a ter investimento de muitos empresários de outros países. Coisa que não temos hoje porque ninguém quer vir aqui com medo do canibal comê-los”, ironizou, causando risos, ao fazer referência à entrevista absurda de Bolsonaro ao The New York Times, falando de “comer índio”.

Ódio e violência

Haddad criticou a proposta do adversário bolsonarista de tirar a câmera dos uniformes dos policiais militares. “Isso é proposta? O projeto tem 90% de aprovação. Ele vai trazer milícia do Rio de Janeiro para São Paulo? Esse é o objetivo? Favorecer miliciano? Vou denunciar esse tipo de proposta que vai trazer prejuízo para São Paulo”, disse Haddad, referindo-se à origem carioca do candidato, que nunca morou em São Paulo.

Na entrevista, ele também atacou o estímulo à intolerância e à violência. “A intolerância religiosa virou política de Estado. O Estado patrocinando violência religiosa, é a primeira vez que isso acontece. Isso tem repercussões”, disse.

Outra prática bolsonarista criticada por Haddad é o desestímulo à vacinação, que tem derrubado os índices de imunização das crianças. “Ninguém discutia vacinas. Agora estamos sob risco da volta da poliomelite. É isso que Tarcísio vai trazer para cá?”, indagou.

Campanha “anômala”

Em discurso durante o percurso, no qual desceu algumas vezes para cumprimentar pessoas que queriam abraça-lo e vê-lo ainda mais de perto, Lula destacou a necessidade de o Brasil voltar a oferecer emprego, salário justo, comida, educação, cultura, ir ao teatro e ao cinema, e possibilidade de as pessoas viajarem para dentro e fora do país e viverem com dignidade.

“Nossos jovens querem livros, não armas. Querem entrar no mercado de trabalho. Para isso, precisamos fazer a economia crescer”, disse, lembrando o legado dos seus governos na cidade, com entrega de 27 mil unidades do Minha Casa Minha Vida e 30 mil alunos beneficiados pelo Prouni. Lula destacou que esse momento da disputa no segundo turno é de comparação dos governos para saber o que cada um fez. Bolsonaro, afirmou, tira dinheiro da educação para colocar no orçamento secreto e não reajusta o salário mínimo nem o repasse da merenda escolar.

O ex-presidente criticou o modo “anômalo” como Bolsonaro conduz a campanha com compra de votos e uso da máquina pública, para vencer a qualquer custo, sem ser denunciado pelo Tribunal de Contas da União ou questionado pela Justiça Eleitoral. “Temos um cidadão na Presidência que utiliza a máquina do governo para fazer campanha. Quando eu fui candidato à reeleição, só saíamos para fazer campanha depois das 18 horas. Durante o dia, nós presidíamos o país. Não fazíamos acordo com prefeito, não podíamos distribuir dinheiro. Ele está fazendo tudo isso como se o Brasil fosse coisa particular”, disse Lula.

Ao fim da caminhada, Lula voltou a falar com a multidão e disse estar maravilhado com o ato. “Quero confessar que estou maravilhado”, disse, acrescentando que a caminhada foi uma lição de democracia e civilidade que o outro lado precisa entender.