Cardeal Scherer é alvo de ataques após reflexão sobre brigas políticas

“Parece-me reviver tempos da ascensão do fascismo”, disse o clérigo; ele chegou a ser chamado de “comunista” por usar vestes vermelhas

Dom Odilo Scherer celebra missa do Domingo de Ramos, na Praça da Sé, em São Paulo (20/03/2016) | Foto: Cris Faga/Fox Press Photo

Dom Odilo Scherer, cardeal e arcebispo metropolitano de São Paulo, foi alvo de ataques bolsonaristas por publicar em seu Twitter uma reflexão sobre “briga política” entre amigos e familiares neste domingo (16). Após ser chamado de “comunista” ele ainda precisou explicar que o uso das vestes vermelhas, traje típico dos cardeais católicos, significa o “sangue derramado de Cristo” e simboliza “o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for”.

Segundo a Igreja Católica, quando recebem o título cardinalício das mãos do Papa, os cardeais se comprometem a “defender a fé até a morte, até o ponto de dar seu sangue”.

“A fé em Deus permanece depois das eleições; assim, os valores morais, a justiça, a fraternidade, a amizade, a família… vale a pena colocar tudo isso em risco no caldo da briga política?”, escreveu dom Odilo.

Após a declaração, o arcebispo foi duramente criticado e, além de ser chamado de “comunista”, internautas o acusaram de apoiar o aborto, prática repudiada pela Igreja Católica. Dom Odilo também foi associado ao candidato à presidência, Luís Inácio Lula da Silva (PT) e a uma suposta “ditadura da esquerda”.

Além disso, o cardeal fez uma comparação ao “fascismo” por causa de ataques que sofreu e alertou para as “consequências”.

Em uma sequência de tuítes, o religioso pediu “calma”, dizendo que fez “uma pergunta” e que “não era preciso xingar tanto quem fez a pergunta”. Dom Odilo ainda lembrou que “depois das eleições, todos precisam continuar a viver juntos!”.

O clérigo tem sido crítico assíduo do que chama de “instrumentalização da fé” para campanhas eleitorais. Ele e outros sacerdotes do clero brasileiro, além da própria Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), viraram alvo frequente de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, incluindo o Papa Francisco.

Veja a sequência abaixo a sequência de publicações feitas pelo cardeal Scherer 

“A fé em Deus permanece depois das eleições; assim, os valores morais, a justiça, a fraternidade, a amizade, a família… vale a pena colocar tudo isso em risco no caldo da briga política?

Olá, gente boa: eu só coloquei uma questão e fiz uma pergunta: vale a pena? Está bem, o debate de poucas horas já deu matéria para escrever um livro… Mas não era preciso xingar tanto quem fez a pergunta. Calma, povo! Depois das eleições, todos precisam continuar a viver juntos!

Alguém tem dúvidas? Creio em Deus, em JCristo Salvador, amo a Palavra de Deus e da Igreja. Sou a favor da família, contra o aborto e toda violência contra a pessoa; não aprovo comunismo nem o fascismo; sou a favor da moral dos mandamentos de Deus. Estou em comunhão com o Papa…

Tempos estranhos esses nossos! Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!

Se alguém estranha minha roupa vermelha (perfil), saiba que a cor dos cardeais é o vermelho (sangue), simbolizando o amor à Igreja e prontidão ao martírio, se preciso for. Deus abençoe a todos. Mas… ninguém machuque ninguém!

Escrevi muitos artigos contra o aborto, colocando claramente minha posição. Escrevo toda semana um artigo no Jornal O São Paulo. Ver no Portal http://arquisp.org desafio alguém encontrar pauta a favor do aborto! Envio muita mensagem p/Twitter. Alguém quer conhecer? Olhe lá.

Para ser mais claro: parece-me reviver os tempos da ascensão do fascismo ao poder. E sabemos as consequências…”

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