Com Lula, Brasil rompe isolamento bolsonarista e se reaproxima do mundo
País retomará tradição diplomática e posição de destaque no plano internacional com política aberta ao diálogo e à resolução de problemas como a fome e a crise ambiental
Publicado 03/11/2022 18:11 | Editado 03/11/2022 18:40
A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) gerou alívio não apenas para a maioria da população, mas também para lideranças políticas de outros países que encaram o novo governo como um retorno do Brasil à democracia e ao protagonismo internacional com a retomada do diálogo e da tradição diplomática brasileira.
O freio ao avanço da extrema-direita bolsonarista, a volta da relação ativa e altiva do país com o mundo, a busca conjunta pela preservação ambiental e pela mitigação da crise climática, a superação da miséria, o fortalecimento da América Latina e de relações comerciais estratégicas estão entre os aspectos centrais dessa nova fase do Brasil no cenário mundial.
“Os dois primeiros mandatos do Lula foram pautados por uma política externa bastante ativa e alinhada às grandes questões globais da época, não apenas sendo pautada pelo sistema internacional, mas também propondo mudanças, como a agenda de combate à fome, que levou o Programa Fome Zero a ser exportado para outros países. Nós perdemos, nos últimos anos, esse tipo de inserção internacional. Então, é muito possível que, aos poucos, retomemos essa posição”, explica Rodrigo Gallo, cientista político, coordenador do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp).
Gallo explica que há um trabalho duro de realinhamento, dado o desgaste internacional promovido ao longo da gestão Bolsonaro, porém, as sinalizações recebidas nos últimos dias são muito positivas. “Dá a impressão de que determinados chefes de Estado esperavam pela eleição do Lula para poder retomar um diálogo mais favorável com o Brasil. Isso é muito significativo, sobretudo porque alguns convites surgiram muito rapidamente”, pondera.
De fato, tão logo foi anunciado o resultado da eleição, presidentes e chefes de Estado de dezenas de países correram para felicitar Lula e o povo brasileiro pela vitória. Joe Biden, presidente dos EUA; Rishi Sunak, primeiro-ministro do Reino Unido; Alberto Fernandez, presidente da Argentina, com quem Lula teve sua primeira agenda como presidente eleito; Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal; Vladimir Putin, presidente da Rússia; Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia; Olaf Scholz, chanceler da Alemanha; Emmanuel Macron, presidente da França; Pedro Sánchez, premiê da Espanha; Josep Borrell, representante da União Europeia para assuntos internacionais; Gabriel Boric, presidente do Chile, são alguns dos líderes que enviaram suas congratulações.
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Xi Jinping, presidente da China, país tratado de maneira lamentável pelo governo de Jair Bolsonaro, salientou: “Estou disposto a trabalhar com o presidente eleito Lula, de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, para planejar e promover conjuntamente a um novo patamar a parceria estratégica abrangente entre a China e o Brasil, em benefício dos dois países e de seus povos”.
Além disso, tanto a Noruega quanto a Alemanha sinalizaram que estão dispostas a retomar o financiamento do Fundo Amazônia sob o governo Lula, que havia sido suspenso durante a gestão de Bolsonaro, marcada pela degradação ambiental e o ataque aos povos indígenas.
Vale destacar ainda que mesmo não empossado, Lula já foi convidado pelo presidente egípcio Abdel Fattah El Sisi para participar da Cúpula das Nações Unidas para o Clima (COP27), que acontece entre 7 e 18 de novembro em Sharm el-Sheik.
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Nova fase na diplomacia
A aproximação de tantos países evidencia o isolamento de Bolsonaro no plano internacional e a imagem positiva que o Brasil readquire com a mudança de comando após quatro anos de negacionismo, obscurantismo, autoritarismo, mentiras e péssima condução das relações internacionais.
Para Rodrigo Gallo, a principal diferença entre Lula e Bolsonaro nesse campo diz respeito à condução da própria diplomacia em si. “A gestão Bolsonaro, direta ou indiretamente, usou a política externa como um ‘espaço’ de discussão de questões internas que mais interessavam aos seus próprios eleitores, e não à comunidade internacional”, aponta.
Ele lembra que os discursos nas aberturas da Assembleia Geral da ONU houve questões “incompreensíveis para quem não vive a realidade brasileira, e isso gera ruídos. Fora que, em determinados momentos, houve ofensas à Argentina e à China por razões ideológicas, além de um destrato aos Estados Unidos após a eleição de Biden. Só lembrando que esses são nossos três maiores parceiros no comércio exterior. Isso sem falar em momentos de ofensa contra a França e contra a União Europeia por conta de divergências na agenda ambiental, que para os europeus é algo central”.
Gallo conclui ressaltando acreditar que “veremos um realinhamento da nossa política externa, de modo que ela fique mais consonante com a tradição do Itamaraty. Isso, sem dúvidas, nos aproximará novamente das grandes questões globais, da América Latina e da China”.