Estado desorganizado acaba punindo o mais fraco, diz Haddad 

Futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad coloca “pingos nos is” sobre política econômica de Lula, defende Estado forte e compatibilizar responsabilidade fiscal com social

Ana Estela e Haddad. Foto: Diogo Zacarias/Facebook Haddad

Em entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (14), o futuro ministro da Fazenda de Lula, Fernando Haddad (PT), falou sobre questões estratégicas para a pasta e para o país, que precisarão ser enfrentadas pelo próximo governo. O desempenho de Haddad levou a Bolsa de Valores de São Paulo a fechar em alta, numa resposta ao “mercado” que tem, como de costume, reagido de maneira negativa às iniciativas da nova gestão, que escolheu como prioridade a pauta social. 

Questão que tem pautado a agenda política e econômica desde a eleição de Lula, o teto de gastos e a nova âncora fiscal foi um dos temas mais explorados durante a entrevista. “Todo mundo sabia que o teto de gastos era uma saída precária, não era sustentável”, disse Haddad. 

Leia também: Bolsonaro furou teto e fraudou Orçamento, diz GT

Para ele, “há maneiras mais inteligentes, na minha opinião, de fazer. Isso significa rompimento com a responsabilidade fiscal? De maneira nenhuma. Significa mostrar para o país que é possível um desenho mais confiável de longo prazo (…) É bom e sustentável e traz a trajetória para o patamar correto”. Segundo Haddad, a nova âncora fiscal para substituir o teto será apresentada via lei complementar no começo do ano.

Nesse sentido, no que diz respeito à responsabilidade fiscal, Haddad explicou: “Tem formas, na minha opinião, mais confiáveis, mais críveis, mais adequadas para compatibilizar responsabilidade fiscal e responsabilidade social, até porque eu considero a responsabilidade fiscal parte da responsabilidade social. Porque eu concordo com a tese de que um Estado desorganizado é um Estado que acaba punindo o mais fraco (…) um Estado que se desorganiza, que se deixa desorganizar, é um Estado que vai acabar desatendendo quem mais precisa dele”.

O futuro ministro destacou ainda que um Estado forte não é necessariamente grande, mas sim “ aquele que paga contas, gasta em educação e saúde, faz ferrovias, transposição do rio São Francisco, que aguenta choques externos”. Haddad declarou ainda que entre as prioridades do futuro governo Lula estão as parcerias-público privadas (PPPs), que deverão ser destravadas.

A taxa de juros, que hoje está em 13,75% — patamar mais alto desde novembro de 2016 — foi outro ponto abordado. Haddad destacou que “se a gente trouxer a taxa de juros para um dígito, e isso depende da Fazenda e do Banco Central, não tenho dúvida de que vamos zarpar”. 

Leia também: CNI manifesta apoio a Mercadante no BNDES

Como forma de contribuir no assessoramento do ministério para a formulação e implantação da política econômica, Haddad voltou a defender a criação de um “conselho de notáveis’, com nomes como Pérsio Arida, André Lara Resende e Armínio Fraga. Tal possibilidade também foi aventada por economistas como Guido Mantega e Luiz Gonzaga Belluzzo. 

No que diz respeito à mudança na Lei das Estatais, Haddad salientou: “Se você tiver controlador, governança corporativa decente, se você escolher um cara da carreira ou um cara de fora vai fazer pouca diferença”. Ao mesmo tempo, no que tange às instâncias de controle, lembrou que durante o governo Bolsonaro, a Controladoria-Geral da União passou por um processo de desmantelamento. 

Ainda sobre o atual governo, Haddad classificou como “trem da alegria eleitoral” as medidas tomadas por Bolsonaro para buscar sua vitória a qualquer custo. O futuro ministro disse que o atual presidente pediu R$ 20 bilhões para conseguir tapar o rombo que deixou — o valor está contido na PEC do Orçamento. 

(PL)