Mercadante quer BNDES promotor do desenvolvimento

Em sua posse à frente do banco, Aloizio Mercadante defende foco na reindustrialização, no meio ambiente, no combate às desigualdades e na integração da América Latina

Mercadante, Lula e Alckmin durante posse no BNDES. Foto: Ricardo Stuckert

O ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) tomou posse nesta segunda-feira (6) como presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com a presença do presidente Lula.  Em seu discurso, Mercadante pontuou os princípios que nortearão seu trabalho à frente da instituição, ressaltando o combate às desigualdades e a necessidade de reindustrializar o país, levando em conta os avanços tecnológicos e as urgências ambientais. 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, titular da pasta de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, participaram da solenidade, juntamente com a ex-presidente Dilma Rousseff e outros ministros. 

Para Lula, o BNDES deve voltar a ser indutor do desenvolvimento e contribuir para a geração de emprego e renda. “Este banco tem que pegar dinheiro, devolver para o governo, gerando investimento, gerando emprego, gerando renda e gerando melhoria na qualidade de vida do nosso povo”, disse. 

Lula criticou a alta taxa de juros, que hoje está em 13,75% e destacou que não há justificativa para que tenha chegado a esse patamar. 

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Outro ponto forte da fala de Lula foi dirigido aos responsáveis pelos atos golpistas do 8 de janeiro. “O que aconteceu no Palácio do Planalto, na Alvorada e na Suprema Corte foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições. Nós não podemos brincar. Porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e pode resolver fazer as coisas mudarem nesse país. Eu ganhei as eleições exatamente para fazer as mudanças que não eram feitas. Esse país não pode continuar a ser governado para uma pequena minoria”, enfatizou Lula. 

O presidente também tratou do discurso recorrente de setores oposicionistas que procuram desconstruir o trabalho feito via BNDES pelos governos petistas anteriores junto a nações vizinhas. “O BNDES nunca deu dinheiro para países amigos do governo. O banco financiou serviços de engenharia de empresas brasileiras em nada menos que 15 países da América Latina e do Caribe entre 1998 e 2017. Há, sim, alguns contratos em atraso, todos cobertos por garantia. Mas, o fato é que essas operações deram lucro, além de gerar dinheiro e milhares empregos no Brasil”, apontou.

O vice-presidente Geraldo Alckmin apontou que “o Brasil vive um bom momento, voltou, é a bola da vez. O presidente Lula trouxe confiança. Foi o que ele falou a campanha inteira: estabilidade, previsibilidade, credibilidade, democracia sempre, ditadura nunca mais. De outro lado, o diálogo entre os três poderes, o que traz segurança jurídica, fundamental para o investimento em nosso país”. 

BNDES na linha de frente

Logo ao iniciar sua fala, Mercadante tratou dos ataques à democracia, desferidos por bolsonaristas contra a eleição de Lula e os Três Poderes.  “Tomo posse em um momento extremamente desafiador, no qual o Brasil sofreu a ameaça mais grave ao Estado Democrático de Direito desde o fim da ditadura militar. O respeito à soberania do voto, às instituições democráticas e à Constituição brasileira é uma exigência fundamental para a nova diretoria do BNDES e para toda a sociedade brasileira. E desta vez, presidente, sem anistia”, declarou. 

Ao falar sobre a trajetória do BNDES, destacou: “A história deste banco se confunde com a da industrialização e a da modernização da infraestrutura do país. O BNDES esteve na linha de frente para viabilizar o financiamento de longo prazo, nos grandes ciclos de investimento e desenvolvimento do país” . 

Mercadante salientou ainda que uma das dimensões importantes para um projeto estratégico de desenvolvimento são as exportações, “não apenas de commodities agrícolas, em que o Brasil é um dos principais produtores e exportadores do mundo, mas também os produtos industriais de alto valor agregado; 98% do mercado mundial está fora do Brasil”. 

Nesse sentido, defendeu que o BNDES deve apoiar o pré-embarque e o pós-embarque das exportações de bens e produtos. E afirmou que está sendo desenvolvido um projeto para a constituição de um Eximbank no BNDES, a exemplo do que já existe em outras economias. Tal instituição terá o papel fomentar as exportações. 

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Mercadante afirmou, ainda, que o banco apoiará as micro, pequenas e médias empresas, as cooperativas e a economia solidária “com R$ 65 bilhões por meio de crédito indireto do banco e alavancagem via garantias para o crédito privado”. 

Ainda com esse foco, disse que será debatido, junto ao Congresso Nacional, ajuste na Taxa de Longo Prazo (TLP) do BNDES. “Não queremos e não estamos reivindicando um retorno ao padrão de subsídio do passado, mas uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para MPMEs”, explicou. 

Em outro ponto de seus discurso, assinalou: “não pretendemos ficar disputando mercado com o sistema financeiro privado. Precisamos de parcerias e o BNDES pode contribuir para reduzir risco, abrir novos mercados, alongar prazos e elaborar bons projetos para os investimentos”. 

Meio ambiente

Quanto aos urgentes problemas ambientais, Aloizio Mercadante declarou que é preciso “enterrar de vez o obtuso negacionismo climático que nos tornou o grande vilão ambiental do planeta” e disse que o BNDES “precisa apoiar a transição justa para economia de baixo carbono, bem como promover a inclusão produtiva e a reurbanização inteligente, visando construir as cidades do futuro”, tendo como premissa a preservação da Amazônia e de outros biomas.

Ainda no âmbito ambiental, Mercadante elencou três diretrizes fundamentais: “reconstruir as condições para enfrentar o desmatamento através das operações de comando e controle; viabilizar projetos estruturais e com escala que gerem desenvolvimento sustentável e mantenham a floresta em pé, protegendo e atendendo de forma emergencial os mais vulneráveis, especialmente os Yanomami; e desenvolver a infraestrutura, a indústria limpa e a pesquisa científica, gerando novas oportunidades de emprego e renda para 28 milhões de habitantes da região”. 

Reindustrialização, América Latina e desigualdades

Outro grande desafio, disse, é a reindustrialização. “Não se trata da velha indústria. Trata-se da nova indústria: digital, descarbonizada, baseada em circularidade e, assim, intensiva em conhecimento. Essa nova indústria exigirá inovação e grandes investimentos na pesquisa aplicada”. 

O presidente do BNDES salientou, ainda, que “o nosso desenvolvimento passa necessariamente pela integração da América Latina e pela parceria com países do Sul Global” e acrescentou que assim como Lula tem defendido, “o BNDES tem que ser um banco parceiro do desenvolvimento e da integração regional”. 

Quanto ao enfrentamento às enormes desigualdades de gênero e de raça declarou que a agenda de gênero e o enfrentamento do racismo estrutural serão parte da estratégia de negócios BNDES, bem como das suas diretrizes internas. “Seremos promotores de uma sociedade mais justa e inclusiva por meio das nossas linhas de crédito e das ações de fomento que empoderem economicamente os negros e negras deste país”.