Mulheres que escrevem. Por Luciana Bessa

A história das mulheres, dentro ou fora do universo literário, foi/é marcado pela exclusão, pela violência e pelo silenciamento.

Ser quem eu sou, mulher-nordestina, me impulsionou a criar o Blog Literário Nordestinados a Ler, ferramenta que tem o propósito de criar e fomentar a literatura produzida na região Nordeste, marcada pelas desigualdades sociais e econômicas, mas com um histórico de lutas e talentos, especialmente concebida pelas mulheres, que durante décadas, foram negados o acesso à leitura e à escrita.

Ser mulher em uma sociedade patriarcal não é fácil. Ser mulher-escritora, então, nem se fala.  A história das mulheres, dentro ou fora do universo literário, foi/é marcado pela exclusão, pela violência e pelo silenciamento. Sem voz, tiveram que assistir, a deturpação de si.

A naturalização do papel secundário da mulher, o servilismo e o fato de não frequentarem os bancos escolares e acadêmicos, ocultou a participação e a importância do sexo feminino em todas as áreas do conhecimento.

Nascida do “osso que protege a vida do homem”, santificada como um ser “frágil”, a mulher foi modelada para casar, gerar filhos e cuidar do lar. Nunca nos foi perguntado se era isso que queríamos.

Desde, então, criou-se a ideia de mulher mãe, mulher casadoira, mulher como um ser sagrado. E, pasmem, em plena a Pós-Modernidade, com crises ambientais, mutação genética, novas tecnologias, governos ditatoriais, ecoou o bordão: “Bela, recatada e do lar”.

Da mesma forma que a Democracia precisa reafirmar, a todo instante, sua legitimidade e importância, as mulheres têm que gritar a plenos pulmões: “lugar de mulher é onde ela quiser”.

Tudo isso me veio à mente, porque dia 25 de janeiro foi o aniversário da escritora inglesa Virgínia Woolf. Dentre suas obras icônicas, destaco Um Teto todo seu (1928), nascida de um convite para que Woolf pudesse palestrar sobre “Mulheres e a ficção”.

Das muitas premissas desse livro, a mais conhecida é que toda mulher precisa de um teto todo seu e 500 libras por ano, ou seja, um espaço para ela trabalhar e uma situação financeira estável.

Na prática, até hoje, é um patamar difícil de ser conquistado. Senão vejamos.  Para se ter um lugar para escrever, é primordial que ele seja guardado de interrupções e aporrinhações externas. Quanto ao dinheiro, se a mulher não nasceu herdeira, é preciso trabalhar para pagar por esse teto, além da água, energia, telefone, etc.

Mulheres não podem continuar sendo vistas como o “segundo sexo”, para lembrar Simone de Beauvoir. Precisam ganhar o mesmo que os homens, não serem postas à prova a todo momento, tão pouco se preocupar com o “mito da beleza” (Naomi Woolf). Faz-se urgente políticas públicas (eficazes) para garantir sua própria vida.

Embora façamos parte de uma sociedade democrática e que prega a igualdade entre os sexos, na prática, os homens continuam a escrever as normas e as leis, salvo raras exceções, que regem o mundo no qual estamos inseridos. Por mais empatia, mais sororidade, mais visibilidade. Leiamos mais mulheres!

Autor