Catalunha pede que Real Madrid exclua vídeo que associa Barcelona ao franquismo

Provocação ocorre depois do presidente do Barça chamar o rival de “equipe do Regime”; franquismo usou os clubes de futebol para executar política fascista

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O maior clássico da Espanha ganha um novo capítulo, agora fora dos gramados. A porta voz do Governo da Catalunha, Patricia Plaja, pediu ao Real Madrid que retire o vídeo em que acusa o Barcelona de ter ligações com o ditador Francisco Franco.

A publicação foi as redes sociais do Real um dia depois do presidente do Barça, Joan Laporta, ironizar os madrilenhos, chamando os de a “equipe do Regime”. Laporta deu a declaração em entrevista coletiva, marcada para dar explicações sobre o caso Negreira – que envolve o Barcelona num escândalo milionário com a arbitragem espanhola.

A ditadura franquista começou depois que os nacionalistas venceram a Guerra Civil Espanhola (1936-39), teve apoio da Itália, de Mussolini, e da Alemanha, de Hitler, e durou até a morte de Francisco Franco, em novembro de 1975.

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Neste período, partidos políticos foram perseguidos e as minorias reprimidas (inclusive grupos étnicos, como os catalães e os bascos). A política fascista de Franco tinha como fio condutor o nacionalismo e a religião como base moral. Mais de 150 mil pessoas morreram durante o Terror Branco, além de perseguições, estupros e sequestros.

No vídeo publicado pelo Real Madrid, imagens de arquivos mostram o estádio do Barcelona, o Camp Nou, sendo inaugurado pelo então ministro e general José Solís Ruiz. Em outro corte, os merengues relembraram que os catalães condecoraram Franco por três vezes, além de nomeá-lo sócio do clube.

As acusações, no entanto, são injustas, uma vez que o Barcelona estava sob intervenção do franquismo. Sempre ligado as questões regionais de independência, depois da vitória falangista, o clube passou a ter sua presidência nomeada por um comitê, em Madrid.

Antes mesmo da ascensão de Franco, o Barça era conhecido por ser ativo na resistência aos falangistas. O clube promovia amistosos para arrecadar fundos aos republicanos. Em 1936, no início da guerra civil, o então presidente do Barcelona, Josep Sunyol, sofreu um atentado e foi assassinado enquanto levava ajuda financeira para o exército republicano.

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O tratamento dado ao Real Madrid, no entanto, tinha suas peculiaridades – todas ligadas aos interesses políticos do regime franquista. Enquanto o Barcelona simbolizava uma luta pela independência das regiões autônomas da Espanha, o Real Madrid serviria como modelo da política nacionalista do fascismo espanhol.

Quando a Champions League passou a ser a principal competição europeia de futebol, Franco decidiu por fazer do Real um símbolo de hispanicidade. A contratação do lendário Di Stéfano pelos merengues, por exemplo, é considerada até hoje uma intervenção do ditador.

Durante a ditadura, o Real Madrid conquistou 14 troféus nacionais e surpreendentes seis Champions League, cinco delas consecutivas. No período também teve seu estádio, o Santiago Bernabeu, construído com dinheiro público.

Apesar dos eventuais benefícios que o Real Madrid tenha obtido através da política de Franco, é bom lembrar que o clube também sofria com a mesma intervenção institucional que o Barcelona. E tal como o Barça, o Real Madrid também teve sua parcela de contribuição na luta contra os falangistas, cedendo seu campo de futebol para treinamentos militares.

Assim como o rival catalão, o Real Madrid teve um presidente assassinado pelo franquismo. Antonio Ortega Gutierrez, foi um militante comunista e que durante sua presidência fincou o Madrid (na época, o Real do nome ainda não existia) nas trincheiras republicanas. Depois da derrota republicana na Guerra Civil, Gutierrez se viu obrigado a fugir para a Argélia, mas foi capturado em Alicante em 1939 foi estrangulado.

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