Denúncias-bomba de Tony Garcia complicam situação de Sergio Moro

Delator da Lava Jato disse ter feito gravações ilegais de autoridades a pedido de Moro e que atual senador teria agido para tirar o juiz Eduardo Appio do comando da operação

Tony Garcia e Sérgio Moro. Fotos: reprodução e Marcos Oliveira/Agência Senado

Revelações graves tornadas públicas nos últimos dias colocam em xeque, mais uma vez, os métodos e a idoneidade do senador e ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil-PR) quando comandava a Lava Jato. O ex-deputado Tony Garcia, delator da operação, disse ter feito gravações ilegais de autoridades a pedido de Moro e afirmou, ainda, que Moro teria agido para tirar o juiz Eduardo Appio do comando da operação. 

Segundo notícia veiculada pela revista Veja na sexta-feira (2), Tony Garcia apresentou à Justiça denúncia de que teria sido mandado, por Moro e procuradores, a gravar autoridades, entre as quais o ex-governador do Paraná, Beto Richa. Em troca da produção dessas provas, feita de maneira ilegal, Garcia teria benefícios da Justiça. 

As informações, conforme a publicação, constam de depoimento feito à juíza Gabriela Hardt, aliada de Moro, em 2021. “O caso ficou parado na 13ª Vara Federal de Curitiba até que foi remetido ao STF pelo juiz Eduardo Appio, hoje afastado do cargo”, escreve a revista.

Em entrevista à TV 247, Tony Garcia disse, ainda, que atuou como “agente infiltrado” para perseguir adversários da Operação Lava Jato. Garcia explicou que “Moro o coagiu a incriminar o advogado Roberto Bertholdo e a conceder entrevista para incriminar o ex-ministro petista José Dirceu. Garcia também alegou que desembargadores foram chantageados com informações comprometedoras”. 

De acordo com o site, Garcia contou que “ajudou Moro a localizar e apreender um vídeo em que desembargadores do TRF-4 apareceriam de cuecas e gravatas, numa festa com prostitutas na suíte presidencial do hotel Bourbon, em Curitiba”. 

Com relação ao juiz Eduardo Appio, Garcia disse à CNN, neste domingo (4), que Moro teria interferido para afastá-lo da operação para evitar que o juiz desse continuidade às investigações relativas às denúncias que ele fez em 2021.

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“Eles me amarraram nesse acordo durante dez anos. Eles ficaram me usando para obter informações, usaram informações para perseguir o PT, eles usaram da minha amizade com o Eduardo Cunha para eu colher informações de operadores do PT, operadores da Petrobras, operadores do Zé Dirceu, de tudo, eles queriam pegar tudo”, apontou Garcia à CNN.

Diante das denúncias, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) afirmou, pelas redes sociais, que apresentará nesta segunda-feira (5) requerimento para ouvir o delator na Câmara. “Estamos tomando providências para segurança de Tony Garcia e na segunda apresento requerimento para que STF tome providências e convite para que ele seja ouvido na Câmara de Deputados”, declarou. 

O deputado Zeca Dirceu (PR), líder do PT na Câmara, disse que Moro precisa ser “amplamente investigado, julgado e punido por todos os crimes cometidos, só a cassação é pouco”. 

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A líder do PCdoB na Câmara, Jandira Feghali (RJ), cobrou explicações de Moro, também pelas redes sociais: “Ex-delator da Lava-Jato revelou que foi obrigado por Sérgio Moro a dar entrevista à ‘Veja’, inclusive com roteiro do que deveria dizer para incriminar o PT. Gravíssimo! Pior: até aqui, nem um pio do senador contra as denúncias de Tony Garcia. Que moral o ex-juiz tem para se manter na vida pública depois destas graves acusações? Aguardamos suas explicações, senador. Se é que elas existem”. 

Num dos trechos da entrevista ao 247, Garcia diz: “eles me fizeram dar uma entrevista para a Veja (em 2006) incriminando o Bertholdo e o PT (…) Fui obrigado. Quem marcou a entrevista para mim foi o Sérgio Moro e o Carlos Fernando (dos Santos Lima, procurador)… Fui  ‘brifado’ pelo Moro e pelo Carlos Fernando”. Nas acusações, o delator cita ainda os então procuradores da Lava-Jato Deltan Dallagnol, deputado recém-cassado, Carlos Fernando, Januário Paludo e Diogo Castor. 


Com agências

(PL)

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