China aposta em jogo de “ganha-ganha” com Brasil em novos polos de cooperação

Gigante estatal Power China lidera o consórcio que expande linha do Metrô em SP, enquanto empresas com sede em Chongqing estreitam laços econômicos e culturais com Brasil

Foto: Reprodução

No último dia 8 de outubro, o presidente do conselho de planejamento econômico da China, Zheng Shanjie, disse a repórteres que o gigante asiático está “totalmente confiante” em atingir as metas econômicas para 2024. Ao que depender da cidade de Chongqing, um dos quatro municípios sob administração direta do governo central da República Popular da China, a meta de crescimento de 5% do PIB (Produto Interno Bruto) estabelecida pelo presidente Xi Jinping não será um problema.

E na esteira para atingir a meta está o Brasil e a intenção de estabelecer um jogo de “ganha-ganha” entre os dois países, que em agosto completaram 50 anos de relações diplomáticas. Em meio às celebrações, a China tem investido de forma inédita no Brasil e avançado na cooperação com diferentes setores da economia nacional. 

Em São Paulo, a gigante estatal Power China, uma das empresas com sede na cidade de Chongqing, lidera o consórcio com a empreiteira Mendes Júnior, empresa destroçada pela Lava Jato e em situação de recuperação judicial, para concretizar a expansão da Linha 2 – Verde do Metrô, que pode chegar da Vila Prudente ao aeroporto de Guarulhos.

Os chineses assinaram o contrato com o governo do Estado de São Paulo em 2019 e já em 2021 começaram a operar nos lotes 3, 4 e 5 da licitação. Estas obras incluem um poço de ventilação, duas passagens de emergência e ventilação, quatro túneis subterrâneos (com um comprimento total de 2,2 km), cinco estações de metrô e um centro de transferência de transporte.

A conclusão das obras, prevista pelo governo de São Paulo para 2027, contribuirá para a expansão da capilarização dos modais de transporte na cidade, hoje ainda dependente de carros e motos para grandes distâncias. 

Segundo um dos diretores da empresa, o executivo chinês Zheng Weijia, “a conclusão do projeto irá melhorar significativamente a infraestrutura e o sistema de transporte público do estado de São Paulo, desempenhando um papel positivo na redução das emissões de carbono, alívio do congestionamento, promoção da conexão entre regiões e desenvolvimento econômico, além de impulsionar a sustentabilidade urbana.”

Tarcísio Calderaro, diretor da Power China no Brasil, afirma que é fundamental que os setores de construção civil de ambos os países unam forças para encontrarem soluções tanto para a expansão da indústria chinesa como alternativa às gigantes ocidentais, como para enfrentar a desindustrialização da economia brasileira. 

“A construção civil brasileira já foi uma referência em engenharia, com obras inclusive no Oriente Médio. Hoje, esse setor está enfraquecido. Assim como já vimos enfraquecer a indústria militar, com o fim da Engesa e agora a convalescença da Avibras. O sistema de cooperação e ganha-ganha idealizado pela China pode nos ajudar a retomar essa vocação do Brasil”.

Além da cooperação para a reconstrução da indústria brasileira, a Power China salienta o número de postos de trabalho abertos nesta obra. São dois mil empregos diretos abertos na expansão da linha de metrô paulistana e cinco mil indiretos.

E não é só na infraestrutura que os chineses têm apostado no Brasil. Nesta sexta (8), a Organização de Comunicação Internacional da China Ocidental (WCICO) promoveu o evento China, uma Oportunidade: Promoção Global das Marcas Chongqing para o Brasil, onde uma série de empresas da cidade de Chongqing buscaram estreitar os laços econômicos e culturais entre a megalópole chinesa e o Brasil, abrindo novas oportunidades para as marcas e produtos da região no mercado brasileiro.

O evento contou com autoridades de governo, organizações institucionais e de mídia, acadêmicos, formadores de opinião e representantes empresariais e comerciais da China e do Brasil.

O assessor especial da ministra Luciana Santos (PCdoB) da Ciência, Tecnologia e Inovação, Euzébio Sousa, falou sobre as expectativas do governo federal em relação ao intercâmbio com a China, apostando em um novo modelo industrial para o século 21.

“Nos fortalecermos no terreno tecnológico e de inovação é fundamental para atingirmos os nossos objetivos que é sair da condição de economia dependente, dessa forma devemos buscar um nível cada vez maior de qualificação de nossa produção industrial, científica e tecnológica”, declarou o assessor especial do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Euzébio Silveira de Sousa.

Já o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP, Yi Shin Tang, falou sobre o cenário do ensino superior do Brasil e as oportunidades de cooperação com a China e Chongqing.

“As universidades brasileiras e chinesas têm desenvolvido programas conjuntos de pesquisa, intercâmbio de estudantes e professores, além de projetos de inovação tecnológica, como o laboratório conjunto para pesquisa agrícola para aumentar a influência mundial dos dois países no domínio da biotecnologia agrícola, entre a Academia Chinesa de Ciências Agrícolas e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); a formação do Centro de Pesquisa e Inovação sobre Mudanças Climáticas e Tecnologias Energéticas China-Brasil com a Universidade Tsinghua; o acordo para desenvolver um programa de formação conjunta de pós-graduação entre a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Tecnologia de Zhongyuan; a cooperação na pesquisa e desenvolvimento de vacinas, uma parceria entre a Sinovac e o Instituto Butantan; e o acordo de cooperação entre o Instituto de Relações Internacionais da USP e a Jinan University e a Ocean University”, contou Tang.

“Para fortalecer ainda mais essa cooperação, é essencial a construção de mecanismos de cooperação relevantes e garantir a qualidade das parcerias, aprofundar os estudos sobre as realidades educacionais de ambos os países, estabelecer bancos de recursos de educação online e reforçar a cooperação no ensino profissional, promovendo a troca de conhecimentos e a formação de profissionais altamente qualificados”, acrescentou.

No evento, também foi assinado um acordo de cooperação estratégica entre a ABI e a WCICO, para a criação do Escritório de Ligação Bridging News Brasil. Este escritório aumentará a colaboração Chongqing-Brasil na divulgação de notícias sobre a expansão da indústria e do comércio, intercâmbios culturais e promoção do turismo.

O Bridging News é um aplicativo que divulga histórias de Chongqing e das cidades ocidentais da China para usuários ao redor do mundo, com riqueza de informações, padrões diversificados de interação e diferentes formas de serviços.

Chongqing é uma metrópole no interior da China, localizada no centro-oeste do país, na confluência da ferrovia China-Europa com a hidrovia do rio Yangtse. Ao que tudo indica, a cidade chinesa terá grande participação na cooperação “ganha-ganha” na relação comercial entre Brasil e China, o que promete alavancar a balança comercial entre os dois países.

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