Trump ignora conflito de interesses e anuncia Musk no governo

Além de bilhões em contratos com o estado americano, Musk pode ter controle sobre as agências que regulam empresas como a Tesla e a SpaceX

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O bilionário Elon Musk foi anunciado pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para assumir uma nova pasta vinculada à Casa Branca. Musk chefiará o Departamento de “Eficiência Governamental” dos EUA. A nomeação ocorre após o empresário despejar 200 milhões de dólares (R$1,15 billhões) na campanha do republicano, comprando o acesso direto ao Salão Oval por quatro anos.

Musk comandará a pasta ao lado do também empresário Vivek Ramaswamy, que chegou a disputar as primárias do Partido Republicano contra Trump este ano, mas abandonou a corrida eleitoral logo no início da campanha. Bilionário do setor de biotecnologia, Ramaswamy é filho de imigrantes indianos e se posicionou contrário a qualquer tipo de imigração irregular.

O Departamento de Eficiência Governamental é um órgão que será criado por Trump e terá a sigla DOGE, em provável referência à criptomoeda Dogecoin, apoiada por Musk em diversas ocasiões. “Isso vai chocar o sistema e qualquer pessoa envolvida em desperdício dentro do governo —ou seja, muitas pessoas!”, disse Musk.

Por trás do anúncio, no entanto, existem as intenções corporativistas de Musk e toda classe de bilionários que atuam ou um dia atuaram no Vale do Silício, região na Califórnia que abriga um dos maiores centros do mundo de inovação tecnológica. No Vale, estão sediadas gigantes como Google, Apple e Meta e empresários alinhados com a figura de Trump, como Peter Thiel, Marc Andreessen, Ben Horowitz, além de outros como David Sacks e Chamath Palihapitiya.

Estes últimos, apoiaram a campanha de Trump em 2024 devido a políticas de redução de regulamentações do setor, o que facilita os interesses de negócios das Big Techs.

Conflito de Interesse

Na superfície da decisão de Trump em convocar Musk e Ramaswamy para chefiarem o Departamento de “Eficiência Governamental”, os republicanos procuram deixar claro para a população americana qual é o objetivo aparente: demissão de milhares de funcionários públicos e a promessa de o governo administrar o país como uma empresa, na velha cartilha liberalóide de enxugar o Estado para deixá-lo mais eficiente.

Nas profundezas deste anúncio, no entanto, habita os interesses conflituosos entre estado e os grandes conglomerados privados dos EUA.

No caso de Musk, algumas de suas empresas mais rentáveis, como a SpaceX e a Tesla, possuem contatos bilionários com o governo americano. Até agora, Musk não deu qualquer indício de que abrirá mão do controle das suas empresas ao ser empossado.

Hoje, as seis empresas que Musk administra estão profundamente entrelaçadas com agências federais. Elas faturam bilhões com contratos para lançar foguetes, construir satélites e fornecer serviços de comunicação via satélite. A Tesla, por exemplo, fatura centenas de milhões a mais com créditos de emissão negociáveis, criados por leis federais.

As empresas de Musk também enfrentam pelo menos 20 investigações recentes, incluindo uma focada em tecnologia de carro autônomo que a Tesla considera fundamental para o seu futuro. Agora, Musk ganha o poder de supervisioná-las diretamente.

Tesla investigada por agência estatal dos EUA

Assim que Trump venceu, Musk se apressou para declarar em suas redes sociais: “o futuro será fantástico”. Para além do suposto patriotismo americano do empresário nascido na África do Sul, o dono da Tesla, SpaceX e X (antigo Twitter), Musk pode controlar agências que regulam e investigam suas empresas.

Na última sexta-feira (8), a Administração Nacional de Segurança no Trânsito (NHTSA, na sigla em inglês) tornou público um e-mail, datado de 14 de maio, em que a agência expressa preocupações sobre uma série de postagens nas redes sociais da Tesla, que sugeriam que seu software Full Self-Driving (FSD, na sigla em inglês) possibilita o uso dos veículos como robotáxis, sem a necessidade de interação humana.

O programa de condução totalmente autônoma da empresa, no entanto, é investigado pelo órgão regulador de segurança viária dos Estados Unidos após o registro de quatro acidentes, um deles fatal, relacionados ao sistema.

A NHTSA abriu o inquérito após o sistema continuar ativo depois que veículos da marca do bilionário Elon Musk entraram em áreas com visibilidade reduzida da pista (ofuscamento do sol, neblina, poeira) e atropelaram vítimas.

A Tesla investiu grandes quantias em seu programa de condução autônoma, mas viu seu sistema envolto em polêmicas e sob a análise das autoridades americanas devido aos acidentes.

Em abril, a empresa chegou a um acordo com a família de um motorista que morreu quando seu Model X colidiu no Vale do Silício em 2018, enquanto usava o software de assistência à condução Autopilot.

No ano passado, a companhia foi obrigada a recolher quase 363 mil carros equipados com a tecnologia FSD Beta e mais de dois milhões de veículos devido aos riscos associados ao Autopilot.

Sob a administração de Musk, no entanto, esses problemas tendem a se dissipar.

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