Uma pequena homenagem ao comunista Paulo Fonteles
Memória viva de um lutador do povo que enfrentou a ditadura, o latifúndio e o silêncio com coragem, lealdade e compromisso revolucionário.
Publicado 11/06/2025 13:04 | Editado 11/06/2025 15:41

Há 38 anos, o latifúndio, em conluio com a extrema direita, assassinou covardemente o pai de família, dirigente do PCdoB e advogado de posseiros e de trabalhadores rurais sem terra, Paulo Cézar Fonteles de Lima. Paulo tinha 38 anos de idade, cinco filhos para criar e estava exercendo sua profissão para sobreviver. Hoje estaria com 76 anos provavelmente junto ao povo brasileiro em defesa de um Brasil soberano, democrático e socialmente desenvolvido, um Brasil socialista.
As três balas que ceifaram a vida do revolucionário e patriota Paulo Fonteles não conseguiram o objetivo insano de impedir que suas ideias se multiplicassem, que sua presença continuasse viva e altiva como um castanheiro, como uma frondosa samaumeira a espalhar ao vento sementes de esperança. Muitos foram os que entraram para a luta inspirados em seu exemplo de vida dedicada à causa da transformação social, da defesa intransigente dos direitos da classe trabalhadora, da reforma agrária, dos direitos humanos, dos desvalidos.
Um intelectual orgânico, sensível e carismático, estratégico e construtor de ideias, excelente orador e combatente leal, comprometido e apaixonado por tudo o que empreendia, Paulo Fonteles viveu intensamente. Uma pessoa da classe média, simples e culta, desde jovem tomou o lado do povo por justiça social; no movimento estudantil universitário lutou por uma educação de qualidade pública e gratuita e por liberdades democráticas, pelo fim do regime militar; militante comunista contribuiu significativamente na fundação da SPDDH, sendo seu primeiro presidente, e do jornal Resistência; desceu ao Sul do Pará como advogado da CPT na arriscada e honrosa tarefa de defender os expropriados do campo.
Paulo Fonteles transformou-se no “advogado do mato” e amigo dos camponeses pobres e sem-terra levantando bem alto a bandeira da Reforma Agrária. Impulsionado pelo desejo de mudanças organizou junto com lideranças e forças progressistas da região um forte movimento que deu visibilidade ao massacre feito pelos latifundiários no campo, que ocupou terras improdutivas gerando produção de alimentos, que venceu a pelegagem sindical, que organizou diversos STTRs, e mudou a geografia da área. Paulo e tantos outros companheiros e companheiras de luta começaram a fazer parte da “Lista dos marcados pra morrer”.
Paulo Fonteles contribuiu para quebrar o silêncio oficial, a desvendar a verdade e a preservar a memória da Guerrilha do Araguaia, junto às caravanas, em busca dos desaparecidos. Se as lutas camponesas sequentes têm como inspiração a resistência heroica na selva amazônica contra a ditadura militar, a direção política delas tem a participação dos comunistas na pessoa do Paulo e de outros camaradas. Assim o PCdoB e a região Sul/Sudeste do Pará possuem uma rica e inolvidável história de construções e lutas políticas traçadas por gestos heroicos, desprendimentos, alegrias e sofrimentos. História que além de garantir terra às famílias vincou um pensamento político classista que contribuiu para a eleição do Paulo Fonteles a deputado estadual em 1982.
Paulo Fonteles realizou um mandato pautado na luta pela Reforma Agrária, contra a UDR, na denúncia das chacinas perpetradas pelos grandes fazendeiros contra os posseiros, no apoio às lutas sindicais, em defesa dos direitos humanos e na organização do seu Partido. Infelizmente a batalha acirrada pela Constituinte de 1988 não possibilitou sua eleição a deputado federal em 1986. Porém, o Paulo não se abateu assumindo o CEATRU e a tarefa de secretário sindical do PCdoB, conversando com trabalhadores, realizando encontros e cursos, acompanhando eleições sindicais. Assim, o camarada Paulo tombou em plena ação política e vitalidade pessoal.
Ao encerrar essa pequena homenagem ao grande e inesquecível camarada Paulo Fonteles, filho de Cordolina Fonteles, pai de Paulinho, Ronaldo, Juliana, Joãozinho e Pedrinho, avô dos netos e netas que o não deixaram conhecer, reflito sobre o exemplo dele para nós e as novas gerações de lutadores. Paulo foi preso pelos generais, junto com sua companheira Hecilda Veiga, torturado barbaramente nos porões de Brasília, teve um filho nascido na prisão, cumpriu pena no presídio São José, saiu e continuou a luta.
A convicção de construir um mundo melhor o movia, o fez suportar os suplícios da tortura sem entregar os parceiros da luta; o fez seguir em frente de forma destemida. Lutou bravamente contra os algozes da pátria, contra os destruidores das famílias brasileiras pela fome e pelo abandono, para que todos tivessem liberdade de escolher sua profissão de fé; inversamente aos golpistas, patéticos adoradores de “mito” e da bandeira norte-americana, fascistas promotores do retrocesso, ratos de quartel fantasiados de verde-amarelo que fogem e delatam no primeiro estalo de festim.
Paulo Fonteles vive!