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Contestada na Justiça, Vale planeja mudar nome e marca

Maior empresa brasileira, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) vai mudar de nome e de logotipo a partir de novembro. A justificativa que a empresa divulgou na praça é a de que a mudança seria para ''reposicionar a empresa no mercado de uma forma

O novo nome da empresa ainda não foi decidido e as opções estão sendo tratadas na companhia como segredo de Estado. O sigilo é tamanho que a agência de publicidade Africa foi contratada com a missão de fazer a campanha da nova marca da empresa sem saber ainda os novos nome e logotipo. A Africa pertence ao publicitário Nizan Guanaes, o mesmo que assessorou diversas campanhas eleitorais do PSDB.



Segundo o jornal Folha de S. Paulo, toda a estratégia de divulgação está sendo desenvolvida em cima dos conceitos que a CVRD quer adotar a partir de agora. Uma empresa internacional que seja imediatamente identificada com o Brasil.



Uma grande empresa nacional e uma outra americana, especializadas em marketing e criação de marcas, foram contratadas pela Vale e estão trabalhando no projeto. Aliás, a palavra Vale, como a empresa é mais conhecida no Brasil, tem grandes chances de não figurar no novo nome.



Uma das principais linhas de discussão é se apenas a sigla –CVRD– deveria ser adotada. Outra opção em estudo é focar a marca em cima apenas da expressão ''Rio Doce''.



A idéia é, dez anos depois da privatização, romper com os laços que ainda ligam a empresa à imagem de uma ex-estatal, além de reforçar a marca internacional, livrá-la do losango e das barras de seu logotipo atual, associadas de alguma forma à simbologia de patentes militares que ainda remetem à época da ditadura.



Uma reunião em um hotel na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, que acabou neste fim de semana, definiu as novas diretrizes para mudanças na imagem da empresa.



Como não tem nenhum produto facilmente associável à companhia, que fornece matéria-prima para diversas outras empresas com marcas mundialmente muito mais conhecidas do que CVRD, a idéia é criar uma marca de identificação forte e que possa ser associada a tudo o que é produzido a partir do minério de ferro: de fogões a aviões.



A conclusão dos executivos é de que a empresa é mais forte do que conhecida. Na segunda-feira, o presidente Roger Agnelli anunciou que a CVRD havia se transformado na 31ª empresa do mundo, à frente da IBM. Antes, já tinha se tornado a maior companhia brasileira, ao superar a Petrobras. Esta semana, seu valor de mercado atingiu US$ 167,3 bilhões -alta de 140% em relação à cifra do final de 2006, US$ 69,8 bilhões. O desafio é criar uma marca que espelhe tudo isso.



Privatização criminosa



A mudança também ocorre em um momento de questionamento da privatização da empresa, em que várias entidades defendem a realização de plebiscito oficial para avaliar a venda da mineradora. Um plebiscito informal já foi realizado no mês passado e recebeu a adesão de 3,7 milhões de brasileiros. Quase 95% dos que participaram da consulta manifestaram o desejo de ver a Vale reestatizada. (Leia mais aqui)



A Vale do Rio Doce foi criada pelo governo em 1° de junho de 1942. Recentemente, superou a Petrobras e passou a ser a maior empresa brasileira.



Atuando em áreas estratégicas para o futuro do país, a Vale está presente em 14 Estados da federação, possui 9 mil quilômetros de estrada de ferro, é proprietária de dez portos e está presente nos cincos continentes. Ela detém importantes e estratégicas jazidas de minérios, como nióbio, urânio, ouro, manganês. Alguns destes minerais possuem reservas somente em solo brasileiro.



Todo este patrimônio, avaliado atualmente em mais de 100 bilhões de dólares, foi praticamente ''doado'' ao capital privado em 1997 pelo governo Fernando Henrique Cardoso no bojo do processo de privatizações.


 


Naquele ano, um consórcio formado por empresas dos Estados Unidos, com participação do Bradesco e fundos de pensão, arrematou por R$ 3,3 bilhões a Companhia Vale do Rio Doce. Esta quantia é menor do que a Vale tem de lucro a cada 3 meses.
 


Apenas no segundo trimestre de 2005, o seu lucro foi de 3,5 bilhões de dólares. No ano de 2005, o lucro foi de 12,5 bilhões de reais.



O jornal Brasil de Fato denunciou que ''o diretor financeiro da empresa ao comemorar na imprensa o fato de a Vale do Rio Doce se tornar a maior empresa da América Latina, confessou que à época da privatização seu patrimônio já valia R$ 92,64 bilhões, ou seja, 28 vezes o valor pela qual foi vendida''.



Além do baixo valor da venda, o processo de privatização da CVRD está cheio de irregularidades.



Em outubro de 2005, a desembargadora federal Selene Maria de Almeida, deu entrada, na Justiça Federal, de uma ação que pede a anulação da privatização da Vale. A decisão da juíza obriga a Justiça federal de Belém a dar seguimento à ação.



Há mais de cem ações populares que foram impetradas no Poder Judiciário contra a venda da VALE. Quem figura como réu é a União, o BNDES, que financiou com dinheiro público a venda da companhia e o ex-presidente do Brasil, FHC.


 


STJ julga ações nesta semana


 


A Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deverá julgar amanhã a reclamação que discute o destino de dezenas de ações populares contra o leilão da Vale. Os ministros irão analisar o voto-vista do ministro João Otávio de Noronha. O relator da reclamação é o ministro Luiz Fux.



Segundo a defesa responsável por ações populares, o objetivo da contestação é proteger um patrimônio público dilapidado pelos governantes.



Na reclamação, a CVRD pede que o resultado de duas ações benéficas à venda da empresa sirva de parâmetro para as demais e pede a extinção de toda e qualquer ação pendente na Justiça contra a privatização da empresa.
 


Na questão, o STJ não discute a privatização em si, mas apenas a necessidade ou não de reunir ações populares para evitar decisões contraditórias.



Da redação,
com agências