Ucrânia: sutileza da ingerência estrangeira
A ingerência estrangeira na crise da Ucrânia aflora de forma mais aguda, enquanto persiste um estancamento na busca de um compromisso entre o Governo e a oposição para uma saída do conflito, em uma luta pelo poder.
Publicado 12/02/2014 18:43
O Governo do presidente Víktor Ianukovitch e os principais líderes opositores pró-ocidentais não conseguem chegar a posições de compromisso (palavra-chave no jargão político) em torno das modificações a serem feitas na Constituição e da formação de um novo gabinete de ministros.
Em contraste com as concessões realizadas por Ianukovitch, para dissipar o clima de confrontação e a fragmentação do país, os líderes de Bakitschina (Pátria), Udar (Golpe) e Svoboda (Liberdade) exigem um governo próprio, a volta da constituição de 2004, inspirada pela revolução laranja apoiada pelo Ocidente.
O afastamento de Ianukovitch do poder também está nas agenda dos líderes dos partidos citados, na ordem: Arseni Iátseniuk, Vitali Klitchko e Oleg Tiagnibok.
Para o cientista-político ucraniano Rostislav Ischenko, o clima de tensão e de prolongada crise política que domina hoje o panorama interno pode levar a uma perigosa explosão.
Ele lamentou que os fatores econômicos e políticos reais, junto à conduta de certos políticos locais e a ingerência externa agudizem a crise.
Os Estados Unidos, de forma muito explícita, têm respaldado a oposição do Maidán (protestos antigovernamentais na praça da Independência), em uma luta não pela Ucrânia propriamente, senão contra a Rússia e sua crescente influência na região, afirmou Ischenko durante uma vídeo conferência interativa entre Moscou e Kiev.
Ele citou como um dado importante da situação a incapacidade opositora de derrubar o Governo sob as pressões do Maidán e, de outro lado, a postura radical dos setores da direita que anulam alguns passos moderados da oposição nas negociações com o Executivo.
Para o sociólogo Evgueni Kopatko, a existência desses elementos, que não querem um compromisso, e não abrem mão da confrontação, cria sérios problemas à sociedade, em referência aos perigos de uma guerra civil, o desmembramento do país e até o desaparecimento da Ucrânia como Estado.
Em uma conjuntura de instabilidade política e em uma situação econômica e financeira difícil, com o sistema bancário nacional à beira do colapso, a União Europeia e os Estados Unidos mobilizam todos os recursos de pressão possíveis para mudar o mapa político desse país e contar com líderes ligados aos seus interesses geopolíticos.
Um comentário do jornal Segodnya (Hoje) indica que o Ocidente está pronto para oferecer US$ 20 bilhões a Kiev em troca de uma fórmula ideal para o novo gabinete, ou caso contrário, pressionarão os dirigentes ucranianos com sanções.
A chamada questão ucraniana "não sai da boca dos políticos ocidentais", aponta o jornal, que cita comentários do porta-voz do Departamento norte-americano de Estado, Jen Psaki, sobre a ajuda de Washington não apenas com a mediação das negociações entre o Governo e a oposição, mas também com as finanças.
Mas, vale esclarecer, crédito chegará apenas após a formação do novo gabinete de ministros e antes das eleições presidenciais, como exigem os opositores.
A recente visita a Kiev da subsecretaria estadunidense de Estado Victoria Nulland teve muito que ver com essas intenções, sobretudo, para avaliar, no terreno, os possíveis candidatos aos postos de Presidente e premiê.
A União Europeia também está por trás desses planos e, ainda ontem, o conselheiro para a ampliação comunitária, Stefan Fule, reuniu-se com os líderes opositores.
Com diferentes gradações, os políticos europeus utilizam o método do chicote e de fazer cerimônia, quando anunciam que avaliam todas as variantes de pressão sobre as autoridades ucranianas, desde as sanções mencionadas até uma eventual assistência financeira.
No entanto, essa ajuda econômica da UE segue atada ao cumprimento, pela Ucrânia, das exigências do Fundo Monetário Internacional, relacionadas a uma série de reformas estruturais e impopulares.
Enquanto isso, uma negociação de compromisso entre o governo de Ianukovitch e a oposição continua débil e sem uma nova convocação ao diálogo à vista.
Fonte: Prensa Latina