1° de maio: muita luta ainda a ser feita

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Foto: Roberto Parizotti / CUT via Fotos Públicas

Comemoramos o dia do trabalhador em 2021 da mesma maneira que foi em 2020, de maneira remota, o que é uma tristeza haja vista o simbolismo da data e a sua importância.

Convivemos com um governo que fortalece quem tira da classe operária ao máximo e lhe devolve pouco, para ser exato, vivemos o cúmulo do ultraliberalismo, onde a exploração de classe chega onde nem podíamos imaginar algumas décadas atrás. Isso nos remonta um debate que nunca foi tão atual: como organizar os trabalhadores?

Até meados do século XX, a melhor forma para isso era através dos sindicatos, afinal existia um patrão físico contra quem lutar. Talvez o maior exemplo desse modus oprandi sejam as grandes greves do final da década de 1910 ou, mais recentemente, as grandes greves do ABC no fim da década de 1970, que projetou várias lideranças sindicais, com destaque para Lula.

Entretanto, os tempos mudaram. Os sindicatos, gostemos ou não, enfraqueceram. E não é por conta do tipo de sindicato, o problema vai além, ele se encontra especificamente no que o trabalhador enxerga como seu explorador e quem ele vê como seu representante.

Neste ponto, divido basicamente em três categorias: o servidor público, o celetista e o uberizado. Falemos brevemente de cada um.

O primeiro tipo é onde estão os principais sindicatos que insistem em fazer luta política. Como a maioria de seus filiados são servidores estáveis, não veem problemas em tentar fazer variados combates. Entretanto cabe a pergunta: a maioria dos servidores são filiados? E a maioria desses filiados, aprova o que a gestão faz?

Isso dá pano para manga. Para a primeira pergunta, a resposta é negativa. Mesmo com vários benefícios como planos de saúde e auxílio funeral, a maior parte não é filiada ao sindicato, ou seja, vemos uma crise de representação entre base e direção, que pode ser vista, talvez nesse caso específico dos servidores públicos, dessa forma, afinal de contas o que leva alguém a não se sentir representado? Para isso temos várias respostas, mas a perpetuação de alguns grupos que se apossam dos sindicatos e o transformam em guetos exclusivistas de políticas (pessoais inclusive) que nada tem a ver com o servidor é uma delas.

No caso do trabalhador celetista a situação é muito mais grave. Quem mexe com sindicato é perseguido e se não for dirigente sindical, na maioria das vezes é até demitido, ou mesmo precarizado como no caso da redução das horas aula de professores. Até a filiação ao sindicato é um risco, para conseguir garantir mais pessoas filiadas não faltam benefícios para que a pessoa se sindicalize. Como a maior parte dos trabalhadores era celetista até pouco tempo atrás, é onde está a maioria dos sindicatos, entretanto com a reforma trabalhista a situação mudou.

Antigos prédios onde funcionavam as sedes sindicais tiveram que ser vendidos ou alugados, funcionários que atuavam nestes recintos, demitidos, ou seja, toda a estrutura que se tinha a disposição para ajudar a fazer a luta, ruiu da noite para o dia com os ajustes dos governos ultraliberais. O que fazer? Veja que aqui não temos uma crise de direção como muitos sindicatos da rede pública, temos um ataque ao funcionamento do sindicato para que estes percam poder de barganha contra o patronato, um ataque feroz que ainda não soubemos responder à altura, para os que atuam neste meio, esse é o desafio da vez.

O terceiro tipo é o trabalhador que não tem direitos, o uberizado, o precarizado, o que se tornou a maioria desde que o golpe de 2016 foi implementado. Como se ter um sindicato de trabalhadores que “não tem patrão”? Como organizar essas novas categorias sendo que é impossível saber quem é o chefe, já que estamos falando literalmente do capital financeiro explorando através de aplicativos os mais diferentes tipos de pessoas nos mais variados locais?

Penso ser este o desafio do novo tempo, conseguir achar meios de organizar os novos trabalhadores, e não será através das ferramentas organizacionais do século XX que conseguiremos isso. A greve dos entregadores de aplicativo de São Paulo, ocorrida em 2021 é um bom exemplo de que lutas não faltam para essa nova categoria, mas como vamos organizar essas pessoas?

Esta é uma pergunta que eu ainda não sei as respostas, pois estamos falando do sujeito que gera mais valia ao máximo e recebe muito pouco por sua força de trabalho, não tendo leis trabalhistas que o socorram, ele praticamente come, trabalha e dorme (pouco), sem nenhum momento nem para lazer tampouco para se ver como um sujeito explorado por trás de um celular de última geração. O que fazer?

Enfim, trago hoje questões para reflexão e não respostas prontas, pois o dia do trabalhador é também momento de pensarmos onde estamos e para onde vamos.

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