100 anos do PCdoB: um evento amável e memorável!

O Festival Vermelho “Floresce a Esperança” recebeu nos dias 25 e 26 de março milhares de comunistas e amigos/as para diversas atividades, desde eventos sobre comunicação, o direito à informação, a intrincada conjuntura internacional, os debates feministas, os da juventude, questões sindicais, antirracistas, e sobre meio ambiente

Litoral, meio da costa atlântica. Em Niterói, nove sonhadores brasileiros, sob inspiração da Revolução Russa e da bagagem teórica de dois rebeldes alemães, Marx e Engels, inventaram de criar um partido para emancipar os trabalhadores da antiga colônia portuguesa e a nação, fundando o Partido Comunista do Brasil, em março de 1922. Não sabiam ainda eles que seu ideal contagiaria milhões e que, cem anos depois do ousado feito, esse partido, estigmatizado e perseguido, faria uma imensa festa celebrando a luta deles e de inumeráveis trabalhadores e trabalhadoras do país.

Com este sentimento, tomada dessa emoção, fui ao Festival Vermelho em Niterói, cidade da fundação do Partido Comunista do Brasil, que celebrou seu centenário. A meu lado outras duas militantes paranaenses, num percurso de Curitiba ao estado do Rio de mais de 800 km. Como eu e elas, milhares de camaradas de todo o país dispostos ao esforço de atravessar muitas estradas para comemorar essa caminhada de cem anos.

Com direito a pneu furado no meio da viagem, além do joelho lesado há três meses, ajudaram na travessia as companhias das camaradas Matsuko Mori Barbosa (coordenadora da UBM/PR) e Vera Mânica (secretária de organização do PCdoB de Curitiba), seu filho e ainda outros/as militantes. Viajamos cheias de expectativas sobre as atividades do Festival Vermelho dos 100 Anos, das memórias e dos sonhos que continuamos tendo, ansiosas/os por rever centenas de camaradas que iríamos reencontrar depois de tanto distanciamento motivado pela pandemia da Covid.

Chegando na Rodoviária de Niterói, após 16 horas de viagem, fomos ao hostel indicado pela organização do evento, em seguida recebidas com carinho pelos/as trabalhadores/as que lá estavam nos portões da belíssima obra de Oscar Niemeyer, um patrimônio arquitetônico projetado pela arte e inteligência desse arquiteto comunista reconhecido no Brasil e no mundo por suas criações. O Caminho Oscar Niemeyer é um conjunto de instalações compondo um centro cultural em bairros litorâneos na cidade fluminense. Uma obra gigantesca rodeada pelo verde mar, uma beleza impressionante misturando a perfeição da natureza com a criação inconfundível de Niemeyer.

O Festival Vermelho “Floresce a Esperança” recebeu nos dias 25 e 26 de março milhares de comunistas e amigos/as para diversas atividades, desde eventos sobre comunicação, o direito à informação, a intrincada conjuntura internacional, os debates feministas, os da juventude, questões sindicais, antirracistas, e sobre meio ambiente.

No corre-corre para acompanhar tantas atividades, pude participar do evento “Florescer a Esperança: desafios da comunicação em tempos de ódio e desinformação” mediado por Renata Mielli e Dani Balbi, com destacada fala da Manuela D’ Avila, do deputado por São Paulo Orlando Silva e do editor-executivo do portal The Intercept, Leandro Demori. O tema do combate à máquina de ódio e das fake news no processo eleitoral de 2022, os desafios da luta pela democratização das comunicações tomaram o centro da discussão, nos alertando para os embates eleitorais de 2022, que serão pesados e exigirão atuação firme dos movimentos sociais e partidos que almejam a democracia.

Também pudemos acompanhar os vários eventos ocorridos na Tenda das Mulheres, organizada pela Secretaria Nacional da Mulher do PCdoB, que reuniu uma centena de camaradas da UBM, da Confederação das Mulheres, da CTB, da Unegro, da UNA, parlamentares e militantes sociais, que desenvolveram temas como o programa “Respeita as Minas”, a cargo da Secretaria Estadual de Mulheres da Bahia. Ainda uma palestra de Julieta Palmeira e a apresentação de Ana Rocha, que relatou sua experiência de militante partidária, ainda na ditadura militar brasileira, na Rádio Tirana, da Albânia, que transmitia em ondas curtas a resistência dos/as comunistas no Brasil, um referencial na luta pela liberdade no Brasil. Vereadoras do PCdoB falaram sobra a participação política das mulheres, cada vez mais necessária. Tendas da União da Juventude Socialista (UJS), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da valente Unegro também tiveram seu espaço.

Passo a passo, visitando as banquinhas lotadas de materiais celebrando o centenário do PCdoB, vimos toda a criatividade da arte brasileira, como a figura de uma margarida estilizando a foice e o martelo, símbolo da luta da aliança operário-camponesa, representando os sentimentos de coragem e amor pelo trabalho e pela pátria, que sumarizam a história de combates do Partido Comunista do Brasil. Indo adiante, mais barraquinhas oferecendo alimentação, debaixo de um calor de 37 graus, típico do Rio, para suprir as milhares de pessoas que acompanharam as belíssimas comemorações do partido mais longevo do Brasil.

Foto: Liz Filardi

O Festival Vermelho “Florescer a Esperança”, coordenado pela competente deputada Jandira Feghali, trouxe ao palco do Caminho Niemeyer shows inesquecíveis, como os de Zélia Duncan, B. Negão e Francisco El Hombre, que agitaram a primeira noite. Zélia, com sua poderosa voz grave, encantou a plateia com suas músicas “Catedral”, “Alma”, “Enquanto durmo”, dentre tantas outras, permeadas por falas em defesa da democracia, a favor do feminismo e contra o fascismo, enquanto, nos intervalos, gritávamos “Fora Bolsonaro!”

O Ato politico da Frente Ampla para Florescer a Esperança, no final da tarde do segundo dia dos eventos, reuniu importantes lideranças de esquerda do país, demonstrando a respeitabilidade e amplitude do PCdoB, juntando parlamentares e dirigentes do PCdoB, deputados do Psol, PSB, PV e PT, em que a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, reconheceu seu legado de formação inicial no PCdoB de Curitiba.

Lula ouviu da presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, a proclamação do apoio oficial do partido dos/das comunistas brasileiros/as a sua candidatura à Presidência da República como o caminho que possibilita a unidade antifascista para derrotar Bolsonaro. Nosso candidato a presidente sabe que, em Niterói, há cem anos, foi fundado um Partido cuja história está indelevelmente entrelaçada com a do Brasil e das lutas de seu povo. Ele, emocionado, reforçou os ânimos e emoções dos milhares de participantes, agradeceu o apoio e fez sua fala expressando sua inteligência, lucidez e identidade com o povo brasileiro. Destacou momentos de sua vida política vividos com comunistas como João Amazonas, Renato Rabelo e Haroldo Lima. Evidenciou seu carinho e respeito pelo PCdoB. A esperança está lançada com o já tradicional jingle “Lula lá”, que, com certeza, se espraiará por todo o país, para reviver a esperança de novos melhores tempos por todo o país.

Foto: Ricardo Stuckert

Com pronunciamentos emocionantes no ato politico destacamos Vanja Andréa Santos, presidenta da UBM que no palco puxou uma paródia de Ô Abre Alas!, de Chiquinha Gonzaga: “Ô abre alas, que eu quero passar / Sou feminista, não posso negar / Estou com Lula, este é o meu lugar”, renovamos esperanças, sonhos, planos para 2022. Assim voltamos para Curitiba.

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