A empregada Mirtes, a patroa Sari e Miguel

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Ilustração: Nando Motta

Esperei até as 18 e 30 de 03/12/2020 por uma atualização da audiência de Sari Corte Real, a patroa cuja negligência e descaso permitiu a morte da  criança Miguel, de 5 anos de idade, no Recife.

Eu já havia escrito contra esse crime aqui: Miguel, os 5 anos mortos, e a escravidão.

Depois, aqui: A empregada Mirtes e a patroa Sari.

Mas eu precisava atualizar os textos com os testemunhos e audiência de Sari no Recife.

Esperei, esperei, e de tanto esperar, na urgência da hora de enviar o artigo, terminei por descobrir que a notícia já estava atualizada. Por tudo e toda desgraça de antes, por toda infelicidade caída sobre a vida de um menininho e da sua brava mãe negra, a notícia estava atualizada. Isto é, eis a sua atualização: o crime contra a infância ainda vai ter que esperar justiça neste caso e em todos os outros onde os negros são apenas sobrevivência de escravos. De fato, eu soube ao fim que na audiência, de tão longa e cansativa, a coitada Sari nem foi ouvida.  Então percebi que o mais atual é esta declaração de Mirtes, no calor da sua consciência:

“A justiça do nosso país para os ricos é branda, para nós que somos negros, pobres, periféricos, ela é extremamente pesada”

Mirtes Renata de Souza

Essas palavras de Mirtes são a profecia do sofrimento iluminado pela consciência. Então esperemos e esperemos os trâmites dos próximos e longos meses. Para os negros e pobres, o tempo da justiça é um tempo especial, sempre vagaroso, se algum dia chegar.

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