A Guerra Rússia-Ucrânia não é um filme de Hollywood

Tempos difíceis para ultradireita brasileira modular de hora em hora seu discurso, lembrando que para eles Bolsonaro não erra

Bolsonaristas com bandeiras dos nazistas da Ucrânia

A cobertura permanente da mídia acaba pressionando para que quem assiste tome uma posição sobre a guerra que se desenrola entre a Rússia e a Ucrânia, isso é um erro. Não cabe “tomar posição” nessa guerra: Putin está errado ao invadir a Ucrânia e desenvolver um conflito bélico, os EUA estão errados em terem pressionado para que a Ucrânia ingressasse na OTAN e, assim, descumprisse acordos estabelecidos há décadas com a Rússia, além de reforçar uma organização que perdeu o motivo de existir. A OTAN hoje cumpre o papel diametralmente oposto do que para o que foi criada, ajuda a desenvolver no século XXI um cerco as fronteiras russas e a ampliação da pressão política e econômica sobre esse país.

E a Ucrânia também está errada. O país é presidido por um populista de extrema-direita, eleito em uma onda conservadora impulsionada por redes sociais e apoiada em milícias neonazistas, a exemplo do Azov, que massacraram a oposição política e fisicamente. A notícia que circula nas redes sobre a Casa dos Trabalhadores, espaço que abrigava sindicatos e uma sede regional do Partido Comunista da Ucrânia, é apenas uma pequena demonstração do que foi perpetrado no país contra qualquer força de oposição. Zelensky conspirou para quebrar acordos firmados com o vizinho russo, flerta com o ingresso do país na OTAN e oprime belicamente as tentativas de Donetsk e Luhansk de se estabelecerem como nações independentes.

Não há lado “bom” nem “mau” no conflito, as decisões que levaram a esse foram econômicas, estratégicas e geopolíticas para todos os países envolvidos. A guerra se dá quando a diplomacia fracassa. Não é um filme de Hollywood e, no caso específico da Rússia e Ucrânia, a presença dos EUA não é de um “herói” e sim a do pivô que jogou a Ucrânia na fogueira buscando ampliar sua influência para mais além e largou o pretenso aliado em meio a um conflito bélico pesado, levando inclusive ao presidente ucraniano dizer na imprensa internacional que precisava de armas e não de asilo político…

Tudo isso se dá no contexto de um mundo unipolar desde o fim do campo socialista com a queda do muro de Berlim na década de 90 do século XX, esse vem sendo hegemonizado pelos EUA com constante ameaça de quebra dessa primazia pela China.

Esse conflito tem potencial para sacudir esse equilíbrio, podendo reforçar a posição dos EUA, ou até mesmo mudar o ator principal da economia global para China, mas pode também gerar um novo mundo bipolar ou multipolar, tendência que se reforça dia após dia, vide o impasse que vai se apresentando na ONU em como enfrentar de maneira objetiva a guerra em curso, e também na pouca efetividade das sanções adotadas pela Europa e EUA, lembrando que a Rússia sempre tem a alternativa econômica chinesa bem ao lado.

Agora, não há dúvida, desastroso e patético é o comportamento do presidente do Brasil. Na diplomacia até mesmo a neutralidade constitui uma posição. A mudança sucessiva de posições do governo brasileiro, a visita feita por Bolsonaro, sem retornos econômicos e diplomáticos reais no auge da crise, a tentativa de afirmar que a guerra não ocorreria por conselhos do atrapalhado presidente tupiniquim ao seu “colega” russo (como Bolsonaro mesmo o nominou) … tudo isso forma um desencontro de narrativa como nunca visto na diplomacia de nossa República.

Não há como imaginar a maneira como os fieis seguidores do presidente do Brasil devem estar tendo dificuldade para se adaptar as oscilações discursivas de seu “mito”, vale lembrar que, logo no começo do governo Bolsonaro, seus seguidores mais próximos promoveram uma marcha com tochas contra o STF liderados por Sara Winter, então destacada líder dessa tropa de irresponsáveis.

Esses diziam que iriam “ucranizar” o Brasil, seguiam de perto e admiravam o exemplo dado no país europeu por Zelensky, inclusive ostentavam nas manifestações bandeiras da Ucrânia e dos extremistas fascistas do Azov, partido de ultradireita daquela nação.

Agora o “mito” diz que o povo ucraniano elegeu um comediante, renega o exemplo que seguia e se soma a Putin, outra liderança de direita, acostumada a exterminar seus adversários. Tempos difíceis para ultradireita brasileira modular de hora em hora seu discurso, lembrando que para eles Bolsonaro não erra, é perfeito, mas a impressão que fica para quem assiste angustiado ao conflito é que a posição do governo bolsonarista é a pior possível, vai nos prejudicar economicamente e apresenta ao mundo um Brasil vacilante, com muita vontade de ser vassalo, ora dos EUA, ora da Rússia. Saudades do Brasil que mantinha relações diplomáticas multilaterais e atuava para aproximar nações e acabar com conflitos, respeitado na ONU, nos BRICS e no mundo.

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