A pedagogia revolucionária e os enganos da caridadezinha

 

O confronto entre o poder imperialista liderado pelo governo dos Estados Unidos e o da China – que afirma como meta a construção de uma sociedade comunista – exige uma conjugação das forças políticas de esquerda e democráticas na árdua tarefa de difundir uma pedagogia revolucionária de baixo para cima, coletivista e aplicada aos problemas sociais concretos, para unir a participação complementar das camadas que detêm os conhecimentos (intelectuais, científicos, técnicos, ideológicos, artísticos), na consolidação de planos de ação política, com a classe trabalhadora urbana e rural.

Na rica Europa a direita desenvolve uma política mistificadora para atrair os jovens e os ingênuos. Fazem "concessões" para aceitarem o fim do racismo e a liberdade da mulher (que já não podem escravizar) promovendo a "beleza e o talento" de alguns e distribuindo "afeto ou sopa dos pobres" para os demais. Propositalmente confundem a caridade (esmolas dos superiores) com a solidariedade que só existe entre "iguais".

O caminho ilusionista da "proteção dos ricos" usa fartamente a natureza para sensibilizar os que são por eles explorados (crianças, jovens, idosos, pessoas com carências de todo tipo). Assim nasceu um partido PAN – pessoas, animais e natureza – que, depois de eleger representantes nos Parlamentos de Portugal e da União Europeia e defender os direitos de cães e gatos (que suprem as carências afetivas das populações da classe média e consomem produtos alimentares e tratamentos de saúde que faltam à população mais pobre), agora propõe a criação de Tribunais Especiais – que a Constituição democrática do 25 de Abril proibe – para combater a corrupção.

Vemos, assim, ser reproduzido em Portugal o mesmo caminho de destruição do sistema judiciário sofrido pelo Brasil. Os ricos corrompem e roubam fartamente e, com o poder pessoal, desviam-se das punições legais, e agora querem controlar Tribunais Especiais para combater a oposição política que é social e explorada por pertencer à classe trabalhadora.

O modelo vem da Idade Média com a criação dos Tribunais da Inquisição que condenaram tantos cientístas e filósofos que divergiam dos estreitos limites do conhecimento, imposto pelos poderosos, que mantinham os povos na ignorância e na ingenuidade. Vão condenar como corruptos os que se viram obrigados a roubar para alimentar ou tratar a saúde dos filhos, ou os que usam terras férteis abandonadas para plantar hortaliças, ou os que estudando a História Social defendem a distribuição das rendas por toda a população. No Brasil este Tribunal Especial foi instituido, sem título, pelo juiz Moro (hoje conhecido como criminoso pelas revelações do Vaza Jato) para prender o herói Lula que implantou a reforma democrática nacional.

As espertezas do jogo político imperialista têm pouca imaginação. Conseguiram enganar os eleitores ingênuos que confiaram nas "fake news" que a mídia, corrompida pelo sistema capitalista, inoculou como se os Governos fossem merecedores de fé por serem honestos. Da mesma maneira deixam que caiba aos cães e gatos fazerem companhia aos humanos que estão abandonados pelos serviços sociais do Estado. Agora querem criar Tribunais Especiais, fora do sistema judiciário constitucional.

Este poder de persuasão para manter a população alheia ao desenvolvimento social e político mundial, foi elaborado durante a Guerra Fria para combater as idéias revolucionárias divulgadas pela União Soviética e demais países socialistas que combateram a exploração dos pobres por aqueles que acumularam o capital produzido socialmente. As iniciativas revolucionárias entusiasmam qualquer pessoa que trabalha e luta pela subsistência familiar, que é garantida pelo Estado socialista. A direita tudo fez, com a difusão do preconceito anti-comunista para impedir que os povos vissem a realidade socialista que é o direito à habitação, ao emprego e ao transporte, além da educação, saúde e segurança social, para todos.

Vencida a desinformação que impede a liberdade de cada um pensar por si, com liberdade, os poderes de direita entraram em crise ao mesmo tempo em que o sistema financeiro entrou em colapso. Daí a mudança de imagem da direita que passa a ser "caridosa e beijoqueira" com os que dormem nas ruas e as idéias de permitir que os cães frequentem restaurantes e transportes coletivos com os mesmos direitos das crianças pobres (com a devida "coleira" do adulto que o leva).

Apesar de quase um século de campanhas anti-comunistas e de perseguições mortíferas aos revolucionários que se organizam em todas as nações, a luta permanente e o aprofundamento do conhecimento das ciências sociais alastrou a defesa de uma consciência livre que clarifica as idéias dos povos superando as ingenuidades. A falta de acesso às escolas e a subordinação ao patronato explorador, tem impedido que todos pensem com a própria cabeça e deixem de obedecer cegamemente aos poderosos que invadem as suas casas pelos noticiários e a televisão.

Quando perceberem que o tempo que gastam passeando animais podia ser dedicado à população carente reduzindo os seus sofrimentos e que o custo de manutenção de cães e gatos é maior do que a maioria das crianças pobres consome, verão que estão a colaborar com a política do "consumismo" que enriquece os ricos e os mantêm no poder. A questão que precisa ser debatida é a integração social dos cidadãos face à alienação que envolve cada um tornando-o individualista e egoista com o seu semelhante. Nada temos contra cães e gatos, lutamos pela distribuição igualitária dos recursos existentes na sociedade que deve ser implantada como base de uma sociedade democrática com um Estado de Direito.

Os problemas de miséria estão em todo o mundo, mesmo nos países ricos que fecham as portas aos imigrantes pobres. Nos Estados Unidos, por exemplo, "40 milhões de pobres, 2 milhões de presos, 27,4 milhões de pessoas sem seguro de saúde, cerca de 4,2 milhões de crianças e jovens sem-abrigo, incluindo os que vivem na rua e em albergues, e os que estão temporariamente em casa de terceiros por não terem o seu próprio alojamento". O país sofre um "colapso financeiro e do dólar, com um dívida impagável de 22,4 milhões de milhões de dólares que aumenta 1 milhão de milhões por ano , 105% do PIB, uma dívida privada (empresas e famílias) 73 milhões de milhões incluindo 1,6 milhões de milhões de dívida estudantil". "Cada vez mais o império só consegue dirigentes incompetentes, corruptos, mentirosos, criminosos. Democratas e patriotas são ou tentam que sejam substituídos por vassalos daquele tipo que criam Estados disfuncionais.

Os EUA podem ameaçar, tornar o mundo mais instável, retrair a economia, promover a riqueza das camadas oligárquicas, mas não podem pelas suas próprias contradições, tornar o mundo mais seguro e mais feliz e além do mais, já não podem ultrapassar certos limites sem que eles próprios corram riscos da sua própria destruição.

Os EUA não conseguem resolver nenhum dos seus problemas e contradições sem uma “mudança de regime”, neste caso o seu, passando de, como afirma Stiglitz, do sistema de “um dólar um voto”, isto é, uma oligarquia, para um sistema efetivamente democrático e progressista ao serviço do seu povo e não do domínio mundial a favor da oligarquia transnacional. (cit. Daniel de Carvalho – Junho/2019 –)

E, na Europa, os países desenvolvidos vão pelo mesmo caminho. Agarrados ao capital financeiro destruiram as suas indústrias e agricultura expulsando os trabalhadores para outras funções, outros países, ou para o desespero que multiplica os casos de assassinatos familiares e suicídios. Abrem caminho para uma extrema direita fascista como o exemplo de Mussoline e Hitler.

A maioria da população que vive no planeta é pobre, com elevada percentagem vivendo na mais profunda miséria. A minoria rica explora o trabalhador e despreza as suas famílias deixando-as sofrerem carências por puro egoismo, por se sentirem superiores, porque rouba permanentemente o produto do trabalho e a terra, a água e o ar puro, que é da humanidade em geral. A ignorância é imposta aos pobres para que não lutem pelos seus direitos e continuem subordinados aos exploradores.

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