A UNE mais uma vez do lado certo da história

Lamentavelmente, os ataques à Bruna revelam a intolerância e o sectarismo de setores que parecem antagônicos, mas são apenas lados opostos de uma mesma moeda

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: UNE

Nos últimos dias, uma série de ataques foi desferida nas redes sociais contra a presidente da UNE, Bruna Brelaz. Dessa vez, esses ataques não vieram apenas das artilharias bolsonaristas, mas de alguns segmentos ditos de esquerda. Tais atos virulentos revelam uma rede de ódio que não mais é patrimônio exclusivo da direita radicalizada, mas acomete também quem se arvora dono de uma ética e de uma moral irretocáveis. Lamentavelmente, os ataques à Bruna revelam a intolerância e o sectarismo de setores que parecem antagônicos, mas são apenas lados opostos de uma mesma moeda.

A UNE está correta em dialogar com amplos setores e personalidades das distintas matizes políticas e ideológicas. O governo Bolsonaro não é apenas um governo de direita e liberal, mas tem se revelado um governo com fortes características fascistas. Portanto, a sua derrota através de um impeachment não se dará apenas com a boa vontade dos partidos e das organizações políticas identificadas com a esquerda.

É uma conta matemática e política básica. Desde a eleição do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em fevereiro de 2015, a esquerda nunca ultrapassou 130 votos no plenário. Além disso, destituir um governo fascista não é tarefa apenas da esquerda, mas sim de todos os cidadãos e cidadãs que defendem as instituições democráticas, o Estado Democrático de Direito e a Constituição Federal contra ameaças golpistas.

Bruna Brelaz foi atacada por se reunir com Fernando Henrique Cardoso, Ciro Gomes, MBL e meia dúzia de outras lideranças e organizações de centro-esquerda, de centro e de direita. Talvez os que hoje criticam a UNE por sua amplitude política queiram uma UNE deslegitimada perante os estudantes e subordinada a alguns partidos políticos. Mas a UNE e sua presidenta souberam honrar seu legado de lutas e de compromisso com o Brasil e a democracia. Em um momento complexo como esse não se apequenaram, e colocaram acima das divergências das correntes políticas de esquerda que atuam na UNE os verdadeiros interesses do Brasil.

Bruna Brelaz, presidenta da UNE, em reunião com Fernando Henrique Cardoso I Foto: UNE

Os oito anos de governo Lula sempre contaram com o apoio de partidos de direita – inclusive os que hoje compõem o chamado Centrão – e isso foi não foi ruim para seu governo. Do contrário, permitiu que com essa base de apoio ele pudesse ter feito um dos melhores governos que o país já teve. Será que Luis Carlos Prestes errou ao se encontrar com Getúlio Vargas em 1945 – Vargas foi o responsável pela prisão de Prestes e pela entrega de sua então companheira Olga Benário, morta num campo de concentração, aos nazistas alemães – ou naquele momento Prestes sabia quem era o verdadeiro inimigo?

Tenho a impressão que alguns no campo da esquerda não pretendem tirar Bolsonaro da presidência antes das eleições de 2022. Acreditam que a polarização é tão boa para Bolsonaro quanto para Lula, seu principal adversário. Por isso, atacam tudo aquilo que possa representar uma ampliação política real, que torne o impeachment algo viável. Atacaram fisicamente Ciro Gomes na passeata de São Paulo, colocaram diversos senões para não participarem do ato em conjunto com o MBL e outras organizações de caráter liberal, e, pelo mesmo motivo, atacam a UNE.

Nada é mais importante nesse momento do que a derrota do governo Bolsonaro. Para isso, há de se ter amplitude, capacidade de diálogo. Sobretudo, é necessário reacender a esperança, a alegria e o amor entre as pessoas, tão desapontadas frente ao genocídio promovido por Bolsonaro, pela miséria crescente e pelos descaminhos pelos quais o Brasil vai se aventurando.

A UNE acerta mais uma vez ao lutar por uma frente política amplíssima para derrotar Bolsonaro e defender a democracia. A esquerda não surgiu com a vitória de Lula em 2002, nem tampouco acabou com o golpe contra Dilma em 2016. A razão de sua existência é a luta por um mundo solidário, fraterno, justo, desenvolvido. A esquerda não pode pactuar com a intolerância, com o machismo, com o racismo, e sobretudo, com a falta de compreensão sobre a realidade. Toda a solidariedade à UNE e à Bruna Brelaz!

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