Ações policiais em assentamentos de MST e o aumento de preços

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MST produz alimentos em seus assentamentos l Foto: Divulgação

Durante a Pandemia, não é novidade, vimos aumentar e recrudescer o aparato policial militar em focos de resistência à política neoliberal e higienista que levou o fascismo ao poder. Operações policiais da polícia militar aliada ou identificada com o projeto que se implementou via golpe desde 2016 em regiões urbanas e rurais e, mais recentemente, autorização do uso da força militar, na forma de envio de tropas, para destruição de assentamentos, campos produtivos, áreas urbanas e centros de monitoramento de preservação ambiental.

O que nos horroriza por si, infelizmente, não é surpresa, já que o desgoverno e toda tropa que com ele se elegeu manifestou, ao longo dos processos que os levaram ao poder – campanha em torno da construção de uma farsa legalizante para o golpe de 2016 e os processos eleitorais que a sucederam – rechaço aos movimentos de resistência e interesse direto em suas desarticulações, declarando em seus programas a intenção de efetivá-los. O que deixa alguns analistas políticos e figuras democráticas bem-intencionadas estupefatas é o descaramento, a velocidade e o vulto de aceleração que tais medidas apresentam recentemente, em situação de isolamento social, incerteza, desesperança e impotência. Choca alguns, também, a qualidade da orquestração das medidas e o nível de inter-relação entre elas, sua coordenação e eficiência. Deixa arrepiados alguns mais experientes o avanço das diversas formas de repressão e a quantidade de defecção do desgoverno.

Não deveria nos espantar, todavia, uma vez que o processo de fascistização galopante e seu escoamento não são novos. Tampouco são desconhecidos os interesses que o conduzem e as causas que, parecendo difusas, são, na realidade, hierarquizadas de forma refinada na estrutura diversa dos movimentos de acomodação e abalos do sistema capitalista, sua causação primeira e forma de ser e se resolver. Relação complexa, é verdade, que exigiria de nós muitas e muitas páginas, tempo e dedicação.

Sobre aumento da repressão, urbana e individualizada, com recorte étnico-racial, a escalada autoritária e seus impactos na elasticidade da demanda do mercado de trabalho, com relação direta entre controle do salário mínio e do nível geral de salários praticados pelos que controlam o mercado de trabalho, mesmo tendo ainda muito a se dizer, muito já foi dito; é, por sua centralidade e fractalidade, assunto para ser melhor elaborado em outra oportunidade. Da mesma forma, sobre a base de produção do mercado de bens de consumo no Brasil e sua posição dentro o mercado de bens e serviços em perspectiva global, há uma série de estudos e debates que estão longe do esgotamento.

É esclarecedor, contudo, correlacionar a política ambiental do governo federal e o interesse na consolidação do latifúndio, o que explica as campanhas de descredibilização e desmoralização das pautas e dos líderes dos movimentos pela reforma agrária no Brasil, em especial o MST. Das orientações da política econômica mais importantes dos governos de Lula e Dilma em relação ao abastecimento doméstico estão as políticas orientadas ao pequeno produtor agrícola, desde desoneração até facilitação em relação à ocupação de algumas praças, determinando, inclusive, decisões diretamente ligada a investimentos de infraestrutura. Obviamente, tais orientações também mobilizaram, todavia, as relações do país no mercado internacional, na base de distribuição de fatores de produção, sobretudo terras e força de trabalho e, por conseguinte, impactaram a acumulação e a riqueza. Sabemos que a hiperconcentração de terras, a dobradinha monocultura e latifúndio, sendo as bases pouco alteradas da economia brasileira, garantem, assim, controle do valor da força de trabalho, manutenção e aumento escalonado e controlado da riqueza – em bases reais e monetárias –, consolidação do poder político local, regional e nacional

De modo geral, quando há reacomodação interna, com especial destaque para aumento da oferta, os preços internamente tendem a baixar – ao menos no curto prazo – e, com câmbio controlado, ocorre desarticulação de monopólios ou tendências monopolistas específicas. Há, pois, muitas formas de se controlar a taxa de câmbio, dentre as quais atrair investidores, internos e externos, para o que se utiliza contração ou expansão monetária (grosso modo, elevação ou diminuição da taxa de juros), além de aumento real e controlado do nível de salários e, em médio prazo, alargamento da cartela de opções da cesta de consumo.

Quando há muitos produtores competindo e com dificuldades de alargar a oferta de escoamento dos seus produtos no mercado externo, o impacto na riqueza dos monopolistas é considerável, através do choque que sua posição privilegiada numa fase anterior às novas regulamentação e acomodação; ou ele reinveste, ou ele desinveste, ou ele assalta politicamente o mercado. Os latifundiários brasileiros, em consonância e favorecidos pelo encontro de outros interesses internacional, combinaram duas estratégias: pactos de desinvestimento controlado e assalto político ao mercado. Foram muitas as estratégias combinadas para alcançar efeitos de reajuste do monopólio da terra e do poder político e econômico que a ele se relaciona.

No que se refere diretamente à relação entre mercado interno e externo, o que fizeram foi desarticular os maiores concorrentes internos de produtos que eram comercializados por alguns poucos agentes no mercado internacional, alcançando, assim, manter a situação de monopólio, o câmbio apreciado e, por medidas combinadas – que passam pela derisão do poder de compra do trabalhador, diminuição dos investimentos estatais e expansão monetária – a ineslaticidade da cesta de serviços, o que, por sua vez, serve ao controle do dos mercados e inibe os investimentos, influindo, também, na decisão de elevar ou não os juros.

Trocando em miúdos, para quem é rico e exportador a baixíssimo custo, o aumento do nível de preços é consequência esperada e operada, se aliada a um cenário de aterramento da concorrência e desinvestimento. Porque os ricos no Brasil são, em sua origem, ainda, os parasitas escravocratas agroexportadores, a estagnação e a captura dos salários para o mínimo necessário é desejada, o que garante poucos itens e poucas opções desses mesmos itens participem da cesta de consumo média. Por isso e para isso, além de garantir desaquecimento, demissões, pobreza, estagnação, os ricos latifundiários necessitam arrasar a política de abastecimento, controle e diversificação do mercado interno conduzida nos governos Lula e Dilma. Por isso quebram as pernas dos seus maiores concorrentes, em termos de atividade econômica, alternativa ao emprego da força de trabalho e modo de ocupação. Por isso aumento das incursões criminosas aos campos do MST; na forma da lei do Bolsonaro. A lei da morte de pessoas, de gerações, de uma nação.

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