Afinal, quem nos traiu?

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Campanha eleitoral de 1986. Percorríamos os bairros do Recife em comícios diários – que juntavam gente e davam aos candidatos a ilusão de que um bom discurso propiciaria a conquista de votos.

Ele era é um candidato sofrível. Nem me lembro por qual legenda. Fala estridente, quase metálica. Conteúdo a mais das vezes incompreensível. Ao final, me cumprimentava efusivamente e repetia:

– Teremos muitos votos juntos, companheiro.

Não lhe perguntava aonde, nem apoiados em quem. Temia uma conta a ser assumida a título de despesas operacionais com a nossa suposta dobradinha.

E assim fluíram os quase três meses de campanha. Eu disputava uma cadeira na Câmara dos Deputados, ele na Assembleia Legislativa.

Até que chegou o momento decisivo. Já não podíamos alimentar expectativas, teríamos que cotejar a verdade das urnas.

As urnas não me trataram bem. Tive talvez a metade dos votos que me seriam necessários. Ele talvez tenha obtido muito menos.

Eu o encontro no Clube Náutico Capibaribe, onde funcionavam várias mesas de apuração.

– E aí, amigo, conseguiu se eleger?, perguntei em tom solidário.

– Nada! Meus votos sumiram. A maçonaria nos traiu, a mim e a você.

Foi quando finalmente vim a saber aonde estariam os presumíveis votos aos quais ele se referia ao me encontrar nos palanques. E até hoje não sei como e por que motivo nós – ele e eu – teríamos o apoio de tantos eleitores maçons.

Eu tenho vários amigos na Maçonaria, porém jamais tratamos de votos. Sequer imaginava que a instituição pudesse se envolver na contenda eleitoral. Nem a que título o meu colega de palanques supunha haver conquistado tão decisivo apoio.

O fato é que segui minha militância, que inclui presença direta ou indireta em pelejas eleitorais a cada dois anos, e nunca mais soube do frustrado candidato naquele fatídico pleito de 1986.

Da minha parte, o que os olhos não veem o coração não sente… Nunca vi nem ouvi de nenhum maçom alguma promessa, portanto não tenho do que me queixar.

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