Aldo: amplitude e princípios

A festa dos 30 anos da vida pública de Aldo Rebelo, realizada no 1º  de março último, retratou bem a trajetória de sua vida pública. O elogio de lideranças políticas de legendas de variadas cores, a presença contente dos militantes do seu partido, e

Eduardo Campos, governador de Pernambuco, presidente do PSB, disse: “Aldo é o político mais preparado de minha geração”. Aqui, talvez se encontre parte da resposta. As lideranças assemelham-se ao vinho. De tempos em tempos, circunstâncias históricas propícias forjam líderes de excelente qualidade.


 


À geração a que pertence Aldo coube – lá atrás – a tarefa de ser a força-motriz da “ofensiva final” contra a ditadura militar. Num pólo, os operários do ABC que com suas greves sacudiram as pilastras do regime. Noutro, os estudantes que no peito e na raça enfrentaram as tropas de choque da polícia e devolveram as praças ao povo. Aldo, eleito presidente da UNE em 1980, se destaca nessas jornadas.


 


Em 1979 as forças democráticas já haviam arrancado do regime a Anistia. Cria-se um ambiente muito fértil no país. Jovens revolucionários passam a conviver e aprender com expoentes das gerações anteriores. Os socialistas com Miguel Arraes e outras expressões. Os trabalhistas com Leonel Brizola e outros veteranos. Os comunistas com João Amazonas e tantos outros quadros experimentados. O PT – que àquela época nascia – tem a contribuição de valorosos lideres da esquerda histórica.


 


Aldo se educa na escola política do Partido Comunista do Brasil sob a “regência” de João Amazonas. As diretrizes da tática dessa escola podem ser sintetizadas em duas palavras: amplitude e princípios. Amplitude nas alianças partidárias, amplitude nas bases sociais e fidelidade aos princípios e olhos fixos no porto a que se destina. Os comunistas, muito perseguidos ao longo da história da República, tiveram de se orientar por uma concepção que lhes foi – e ainda é – vital: um partido de fecunda convivência democrática.


 


Esta concepção se assenta na lealdade aos aliados, perseverante empenho para construir a unidade das forças avançadas, no relacionamento político amplo, na coerência e na determinação para tornar realidade projetos de interesse do país e do povo, no respeito político dispensado, inclusive, aos adversários.


 


Aldo assimilou ao seu jeito – e com a forja de seu talento – essa concepção do PCdoB. Estudioso da história de seu país tem sublinhado a recorrência de frentes políticas heterogêneas em diferentes episódios. É preciso saber lidar com a diversidade para construir maiorias que dêem governabilidade e sustentação às mudanças. Sobretudo, à época da globalização neoliberal, é preciso coesão nacional e mobilização do povo para se enfrentar a agressividade do imperialismo.


 


Amplitude, todavia, em Aldo Rebelo, não tem a ver com conciliação ou falta de nitidez quanto aos campos em disputa. Pintá-lo como o político do diálogo – que ele é –, e ficar só nisso é traçar o retrato do homem pela metade. A amplitude, o diálogo e a convivência democrática são fontes de seiva. Seiva tão necessária à árvore quando chegam as inevitáveis estações dos conflitos e dos confrontos.


 


Apenas um exemplo. Fato recente. Memória fresca. A disputa à presidência da Câmara dos Deputados, em 2005.


 


Em 2005, o presidente Lula estava numa situação que lembrava Getúlio em seu último mandato ou Jango em 1964. Um patíbulo fora erguido na Praça dos Três Poderes e a oposição e a mídia ameaçavam inaugurá-lo com o presidente. O PT estava alquebrado, vítima que fora da sanha direita. O Aldo alicerçado na força da amplitude das relações políticas e no respeito propiciado por quem sempre foi coerente com ideais que abraçou protagoniza um confronto cujo resultado foi um divisor de águas. Sua eleição à presidência da Câmara dos Deputados, em 2005, é o fato que abriu caminho à reeleição do presidente Lula em 2006.


 


Trinta anos de militância política em pouco mais de cinqüenta anos de vida. E a certeza de que Aldo continuará igual aos juazeiros de seu Nordeste natal. Mesmo na mais terrível seca sempre continuará verde, sempre a florir, sempre produzindo frutos.


 

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor