Alerta: a Marcha da Família com Deus pela Liberdade da dupla PSDB/PFL

Seria cômico se não fosse trágico ver aquela malta de corruptos na foto de capa dos jornais do dia 26 de setembro sobre a manifestação “por um Brasil decente” promovida pela direita em São Paulo.

 


''Estamos vivendo até hoje os efeitos do golpe de 64, que era desejado pela elite mais feroz, ignorante e vulgar do mundo, que é a brasileira. Ela é a responsável, e os militares executaram esse projeto. Aliás, o golpe é um divisor de água. Depois do golpe, o Brasil entrou na era do passado.''


 


                                                                                   Mino Carta, jornalista


 


Nos penachos amarelos desfraldados pelos gatos pingados no ato dos líderes direitistas realizado no dia 25 de setembro em São Paulo havia um sinal que não pode ser debitado ao acaso: os conservadores estão isolados após a curta experiência de um modo de governar menos autoritário, menos prepotente, menos insensível às questões sociais. As má-criações de figuras subqualificadas como Fernando Henrique Cardoso (FHC), Geraldo Alckmin e José Serra têm o mérito de escancarar à nação a extraordinária capacidade que certos líderes políticos têm de reinventar a realidade para agasalhar interesses particulares.


 


Para os direitistas, os votantes em Lula são ignorantes desprovidos de informações. São os incapazes de ver a “corrupção” que tomou conta do país. Por isso, mesmo contra a vontade desse “povão”, eles se auto-intitulam os escolhidos para restaurar a ordem e a moralidade públicas. Na verdade, em nome dessas bandeiras o que se vê é o mesmo histórico amontoado de asneiras, meias-verdades e mentiras pela boca de pessoas que se julgam mais sábias do que todos e em quem o povo deve acreditar cegamente.


 


As mesmas faces, os velhíssimos ideais


 


Todo mundo sabe que eles estão mais interessados em cumprir as ameaças do presidente do PSDB, Tasso Jereissati, de manter Lula “sub judice”, do que em defender propriamente a ''moralidade'', como alegam. A pergunta que se deve fazer é singela: manter Lula “sub judice” interessa a quem? À turma que se banqueteou na festa da corrupção promovida pela “era” FHC ou à massa da imensa maioria dos brasileiros, os principais avalistas do atual governo? O desemprego cai, a renda sobe, a desigualdade social diminui… Quem lê as notícias mais importantes para o país com lentes argutas entende o motivo da tática golpista da direita.


 


A “venezuelização” do Brasil parece ser um processo inevitável (leia mais a respeito na coluna “Governo Lula: o ‘mensalama’ e o ‘mar de lama’”, disponível no lado direito superior desta página). Tirando o lixo acumulado pelo frêmito acusatório da “grande imprensa”, o poderoso braço responsável pelo tráfico de informações da dupla PSDB/PFL, o que sobra são notícias contra os conservadores. O enquistamento em curso, talvez uma reação prematura ao embate que se desenha árduo contra um presidente bastante popular às portas de um segundo mandato, traz de volta cenas que predominavam do início da década de 60. A direita magnetizada pela coesão que emana de clãs minúsculos está de volta. São as mesmas faces, tangendo velhíssimos ideais.


 


O presidente mexeu num vespeiro


 


O título do editorial do jornal Correio da Manhã que circulou no dia 31 de março de 1964 sintetizou numa palavra o desejo da elite brasileira naquele dia: ''Basta!''. No dia seguinte, 1º de abril, o jornal repetiu a dose: ''Fora!''. A “grande imprensa” vinha entoando um coro muito bem afinado contra o governo do presidente João Goulart e incitando o golpe. A Folha de S. Paulo do dia 27 de março de 1964, em editorial intitulado ''Até quando?'', indagou: ''Até quando as forças responsáveis deste país, as que encarnam os ideais e os princípios da democracia, assistirão passivamente ao sistemático, obstinado e agora já claramente declarado empenho capitaneado pelo presidente da República de destruir as instituições democráticas?''


 


O jornal O Estado de S. Paulo do dia 14 de março de 1964 disse: ''(…) Depois do que se passou na Praça Cristiano Ottoni (…), após a leitura dos decretos presidenciais que violam a lei, não tem mais sentido falar-se em legalidade democrática, como coisa existente.'' No dia anterior, cerca de duzentas mil pessoas participaram do famoso comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, no qual foi anunciado que o presidente acabara de assinar, no Palácio das Laranjeiras, o Decreto da Supra (Superintendência da Política Agrária), que propunha um plano de desapropriação dos latifúndios improdutivos acima de 500 hectares, por interesse social. O presidente mexeu num vespeiro.


 


As cores ideológicas do PRP


 


No dia 19 de março de 1964 — dia de São José, padroeiro da família — mulheres ricas paulistas lideraram a ''Marcha da Família com Deus pela Liberdade'', incitando o golpe militar. Em nome da família, de Deus e da liberdade o movimento estava defendendo os interesses terrenos dos latifundiários, banqueiros e industriais. No dia seguinte, o jornal O Globo comentou: ''Sirva o acontecimento para mostrar aos que pensam em desviar o Brasil de seu caminho normal, apresentando-lhe soluções contrárias ao ideal democrático e ensejando a tomada do poder pelos comunistas, que o povo brasileiro jamais concordará em perder a liberdade, nem assistirá de braços cruzados aos sacrifícios das instituições.''


 



Qual a diferença dos editoriais de hoje em dia? E mais: o pano de fundo do ato dos tucanos “por um Brasil decente” tem as mesmas cores ideológicas do Partido Republicano Paulista (PRP), que representava os fazendeiros de São Paulo após a proclamação da República. Apesar da distância no tempo, e da forma diferente de apresentação das propostas, as idéias do PRP não são estranhas ao nosso tempo. A tese da direita de que os “intelectuais” têm um papel definido como constituintes de um poder moral ou espiritual é a mesma que hoje compõe o “arsenal de idéias” da dupla PSDB/PFL. E ainda tem gente com coragem de negar a marcha do golpismo no Brasil!



 


 

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