Alguns filmes exibidos pelo Mubi

“Sary mysyq”, “The Company”, “O futuro perfeito”, “Eureka” e “Até logo, meu filho”, filmes exibidos pela plataforma “Mubi” de streaming

Essa plataforma Mubi de “streaming” é especial porque todos os dias lança um novo filme e sai da programação o filme que estava há um mês. E todos são filmes escolhidos por alguma comissão de seleção de Festivais de Cinema. Assim, o espectador tem a chance de ver sempre um filme selecionado, isto é, que deve ter uma certa qualidade estética. Mas nem sempre o espectador deve gostar, porque isso já não é uma questão estética, mas metafísica. Durante o mês de agosto eu voltei a assinar o Mubi, vi praticamente todos os filmes lançados e aqui trago o que escrevi sobre alguns, mas sem ordem de classificação.

Gato amarelo do Cazaquistão

Cena do filme “Sary Mysyq”

No Mubi, o título do filme é “Sary mysyq”, mas em inglês deram o título de “Yellow cat”. A produção do filme é do Cazaquistão. A minha impressão era de que eu iria ver uma obra cinematográfica em estilo mais primitivo, e durante muito tempo fiquei procurando os princípios mesmo que o filme pretendia. Só depois vi que se trata de uma produção sofisticada, e com um cinema certamente inspirado em muitos filmes italianos e norte-americanos, inclusive com referências a Fellini, Gene Kelly e Alain Delon. É um filme que tem as estepes desertas do Cazaquistão como cenário e a estória é uma espécie de fábula onde um grupo da máfia massacra um integrante que quer sair do grupo. O diretor Adilkhan Yerzhanov, que é também o roteirista e o montador, quis criar uma narrativa onde o clima poético dominasse. E existe um casal que foge pelas estepes e que se mostra como se a moça fosse uma espécie de Gelsomina, de La Strada, de Fellini. Enfim, é um filme novo e belo, lançado no mundo em 2020.

Olinda, 04.09. 21

The company – De corpo alma

Cena do filme “The Company”

Um cineasta realmente norte-americano, Robert Altman nasceu em 1925 em Kansas City, Missouri, Estados Unidos. Sem dúvida é um clássico do cinema de Hollywood e tem uma obra de grande força dramática, que não fez sucesso popular, mas que o marcou como grande realizador, “Short cuts” (Cenas da vida). Também fez um filme de sucesso popular, que gerou debate por causa das críticas à ação militar dos Estados Unidos, M.A.S.H.. Hoje vi talvez o último filme dirigido e produzido por Robert Altman, “The company”. É um filme que não se define como documentário, mas que poderia ser dito assim. Documenta o ballet que é feito pela companhia Joffrey Ballet de Chicago. Uma companhia privada e que faz uma dança muito agradável para o espectador, certamente com o interesse de ganhar sucesso. Porém um trabalho muito limpo e belo. São quase duas horas de dança com só alguns momentos sem imagem subordinada ao ritmo da dança. Às vezes são filmadas cenas dos espetáculos e muitas outras vezes as cenas são extraídas dos ensaios. Robert Altman sabe jogar com todo esse material e me parece que não fez um documentário por questões contratuais com a produção do filme. Certo que é um cinema menor na sua filmografia, mas mesmo assim é consistente. Foi exibido em agosto no Mubi.

Olinda, 01.09. 21

O futuro perfeito

Cena do filme “O futuro perfeito”

Os filmes cada vez mais são feitos para exibição em “streaming” e outros sistemas online, e não para espetáculos em salas de cinema. Também cada vez mais são internacionalizados, e não pertencentes a uma cinematografia nacional.

Esse “El futuro perfecto” (título original) é um exemplo mais que perfeito do que escrevi acima. Sem dúvida, é um filme de uma enorme simplicidade. E está como argentino, mas se fosse apresentado como brasileiro seria aceito tranquilamente, pois não tem nenhuma característica argentina, a não ser a fala em espanhol. A diretora é a cineasta Nele Wohlatz, que fez também a produção. Ela é argentina, mas nasceu na Dinamarca, e, assim, tem uma origem não latina, embora more em Buenos Aires. O filme é sobre a vida de imigrantes chineses em Buenos Aires se especificando em uma delas. E procura com naturalidade mostrar que se pode viver sendo imigrante. O importante é saber encontrar o caminho. Assim, temos um filme simples, mas que tem importância para o estudo da sociedade que se está formando no mundo atual. A direção de fotografia do filme é de um francês, Roman Kasseroller, e de uma argentina, Agustina San Martín. Não sei a nacionalidade do roteirista Pio Longo. Enfim, um filme simples, mas com uma cinematografia alegre. Com atores muito simpáticos. Talvez esse seja o caminho que os mais jovens procuram para fazer seus filmes. O de ser belo, agradável e muito inteligente na construção.

Olinda, 31.08. 21

Eureka Yurika japonês

Filme “Eureka”

Uma produção cinematográfica japonesa lançada no ano 2000 e com dois prêmios no Festival de Cannes, “Eureka” (Yurika) é um filme com quase quatro horas de duração. Penso que seria mais explícito se o diretor tivesse procurado palavras mais adequadas para sua obra, que inclusive possui tanta força quando acompanhamos o seu desenvolvimento dramático. O realizador é o cineasta Shinji Aoyama, que nasceu em 1964 no Japão, e assim ainda é um jovem de 57 anos de idade. Ele já possui uma produção variada, tanto de longas de ficção, quanto de curtas e obras documentais. Na sua biografia consta uma ligação bastante intensa com a cultura Ocidental e inclusive influências do cinema de Jean-Luc Godard. Afirma-se que ele se ligou ao cinema depois de conhecer o filme “Apocalipse now”. Trabalhou no cinema suíço e estudou na Universidade no próprio Japão. Sua atividade é variada como gênero e vai da direção até a crítica e é autor de romance.

Em “Eureka”, ele desenvolve uma pequena estória, mas com implicações que me parecem poder interessar principalmente aos psicanalistas. A cena se inicia com um sequestro de um ônibus, no qual morrem muitos e apenas escapam três, o motorista e um casal de irmãos. Em torno deles é que Shinji Aoyama cria suas longas e belas elucubrações dramáticas. Vale estudar e ver quanto um drama de culpabilidade pode ser denso.

Assim temos para assistir tanto ao drama do grupo humano quanto assistir à beleza cinematográfica. E por isso as 3h40min se passam tranquilamente.

Olinda, 29. 08. 21

Até logo, meu filho

Cena do filme “Até logo, meu filho”

Um melodrama chinês no mesmo estilo dos melodramas de Hollywood esse “So long, my son”, que o Mubi está exibindo. Desde os primeiros anos do governo chinês comunista, eles começaram a montar uma indústria cinematográfica que se assemelhasse à dos norte-americanos. Desde os anos 50. E este melodrama dirigido por Wang Xiaoshuai mostra que eles conseguiram. È um melodrama que tem as características do gênero, mas com muita sobriedade. E mostrando em detalhes a estrutura da família chinesa com os princípios adotados pelo governo comunista. O tema centralizado é a estória do filho único e o drama que um casal pode viver quando o filho mimado se rebela. O casal de atores principal inclusive ganhou prêmio de interpretação em Veneza, Wang Jingchun e Yong Mei.

Olinda, 27.08. 2021

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