Angu de caroço

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Bolsonaro e Guedes beneficiam os ricos em detrimento das pessoas mais pobres

Na Lagoa Seca da minha infância, quando algo não ia bem a gente logo dizia “tem caroço nesse angu”.

A expressão se aplica ao governo do ex-capitão Jair Bolsonaro. Em todas as áreas.

Sobretudo quando se trata da execução orçamentária, em que frequentemente colidem intenções demagógicas do presidente e o rigor fiscal que, a duras penas, seu ministro Paulo Guedes, tenta implementar.

A duras penas porque o governo é desorganizado mesmo. Um consórcio de interesses conflitantes. E o ministro, que ontem veio a público dizer que não havia recebido o cartão vermelho do presidente (suprema humilhação!), comete a insensatez de especular com mais cortes de programas sociais para financiar o pretenso Renda Brasil.

Na verdade, o governo não ampliaria investimentos – o termo exato é esse, e não gastos – na área social, apenas realocaria recursos entre rubricas.

Tudo é perecível no governo, menos o cumprimento rigoroso dos compromissos com a dívida pública, que drena recursos preciosos para o sistema financeiro.

Aí o presidente se dá conta de que, nesse caso, a mão da redução das despesas com idosos e portadores de deficiência não resolveria plenamente sua intenção de substituir o Bolsa Família e ainda lhe renderia um desgaste político imenso.

Melhor então suspender tudo, deixar o Bolsa Família seguir adiante e, de lambujem, uma reprimenda demagógica ao ex-superministro da Economia.

Concomitantemente, a grande mídia monopolizada pressiona o governo em favor do limite de gastos. A agenda econômica é prioritária. Deve ser implementada a todo custo!

Dá pra ver o tamanho da empreitada em que as forças oposicionistas estão metidas. Arrostar as ameaçadas à democracia, a subserviência aos EUA e a agenda ultraliberal não se faz apenas com memes ou declarações retóricas.

Urge um programa alternativo que possa sinalizar uma alternativa ao que aí está. Um rol de proposições que unifiquem em âmbito nacional extensas e diversificadas forças sociais e políticas no combate ao desastroso governo do ex-capitão.

Algo que ultrapasse as eleições municipais, nas quais partidos convergentes nacionalmente se digladiam em função do poder local – o que é natural e compreensível no calendário eleitoral brasileiro, na complexidade das diferenciações regionais e intra-regionais e na pulverização da representação partidária.

O pleito municipal não afeta, na essência, a empreitada nacional.

E às correntes populares cabe enfrentá-lo com um olhar no imediato e outro na continuidade da luta nacional.

Sim, trata-se de um imenso angu de caroço – que é possível enfrentar com discernimento e habilidade tática.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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