Biden, os dois lados da moeda

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Foto: Richard Drew / AP Photo

Na luta política não se deve botar sinais de igualdade em tudo, é preciso distinguir tendências e possibilidades — aprendemos com João Amazonas.

Correto saudar a vitória de Biden no pleito presidencial norte-americano.

Resultado que, inclusive, indiretamente enfraqueceu governantes igualmente fascistóides, seguidores ardorosos de Trump mundo afora, inclusive o ex-capitão Jair Bolsonaro no Brasil.

Daí a celebrar o governo Biden como possibilidade de um novo tempo de democracia, progresso e paz e uma política externa norte-americana de convivência pacífica e mutuamente proveitosa na cena mundial vai uma distância estratosférica.

Biden trabalha para recuperar o dinamismo da economia interna em frangalhos desde a eclosão da atual crise global, em 2008, tendo como epicentro justamente os EUA. Não vacila em desrespeitar os cânones neoliberais e promove pesados investimentos estatais em áreas cruciais para retomada das atividades econômicas em seu país.

Impressionam o Plano Resgate Americano e o Plano de Emprego Americano, que somam US$ 4,15 trilhões em investimentos, cerca de 20% do PIB anual dos EUA. 

Acena ao mundo com posições aparentemente progressistas em relação a temas candentes, como a questão ambiental — com destaque para a preservação da nossa Amazônia —, sem esconder entretanto um viés claramente intervencionista.

A pesada mão do Estado para o incremento da economia interna norte-americana não é o mesmo que propugna para os demais países com os quais se esforça por manter relações desiguais e de dependência, como o Brasil.

Aqui e nos demais países periféricos e em relativa a ascensão no mundo, o novo presidente ianque segue propugnando a receita neoliberal.

Esta certamente é uma das razões que levam o outrora super ministro da economia do Brasil, Paulo Guedes, e seus Chicago Boys, a persistirem na obsessão fiscalista e privatista, em detrimento de absolutamente necessários investimentos públicos para recuperação das atividades econômicas e ativação do mercado interno.

Na euforia pós derrota de Donald Trump, em nosso país tropical abençoado por Deus vozes situadas à esquerda não tiveram nenhum pejo em cunhar a expressão “precisamos de um Biden”.

Ledo engano, como se dizia antigamente.

Precisamos sim superar o governo desastroso, antinacional e genocida de Jair Bolsonaro, substituindo-o por uma ampla coalizão de caráter progressista capaz de recuperar o país do desastre do desmonte do Estado democrático e das salvaguardas da soberania nacional e cumprir uma nova agenda econômica pautada por pesados investimentos públicos em infraestrutura, estímulo à produção nos diversos níveis com a correspondente oferta de oportunidades de trabalho e socorro a milhões de famílias brasileiras postas na sarjeta no transcurso da pandemia e da regressão econômica.

E nesse diapasão explorar em nosso proveito as contradições que se acirram entre os Estados Unidos e a República Popular da China em ascensão, em meio à reconfiguração geopolítica mundial.

Nesse sentido, retomar a política externa soberana e ativa que recoloque o Brasil no seu devido lugar no mundo.

Sem ilusões em relação a hipotéticas boas intenções do atual líder do imperialismo norte-americano.

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