Bolsonaro e seu deboche à vida e ao sacrifício do povo

A guerra do seu Jair é para reduzir o Brasil à condição de colônia, sem indústria e sem conhecimento – uma ditadura a serviço do rentismo e da ignorância

Ilustração de Líbero para a coluna de Drauzio Varella na Folha

Na semana em que a Câmara dos Deputados, cedendo às velhas e bem conhecidas pressões do ‘mercado’, aprovou a ‘autonomia’ do Banco Central, a live presidencial foi dedicada a um apelo patético do capitão cloroquina ao povo brasileiro para ‘voltar a trabalhar’. 

Mas, onde estão os empregos, seu Jair, que seu governo, sob a gerência de Guedes, surrupiou ao sabotar o apoio às empresas produtivas durante a pandemia, permitindo que os bancos que amealharam bilhões em lucros na pandemia empoçassem outros bilhões liberados em liquidez pelo mesmo BC agora aviltado em sua soberania?

Onde estão os empregos, seu Jair, destruídos no rastro do fechamento de centenas de milhares de micro, pequenas e médios estabelecimentos, cujo faturamento a crise sanitária desidratou sem que houvesse uma mão amiga do seu governo para socorrer?

Onde estão os empregos, seu Jair, prometidos desde a impiedosa ‘reforma’ trabalhista urdida no governo anterior e aprovada com o seu voto quando deputado federal?

Em poucos anos, os empregos desapareceram como a água da chuva no bueiro saliente e até mesmo os bicos da informalidade, cada vez mais rarefeitos pela estagnação econômica.

Aos milhões de brasileiros impossibilitados de trabalhar pela ausência de um ofício, ainda que precário, está sendo negado até mesmo o auxílio emergencial, ou seja, o pão deles de cada dia que impediu, em 2020, que muitos não morressem de fome. 

O que será desses brasileiros, agora?

A emergência – reclamada, até mesmo, pelos aliados do governo no Congresso Nacional em razão da precipitação da pandemia, virou ferramenta de chantagem para Guedes que ameaça com novo ajuste fiscal ou carga tributária. 

Mataram os empregos e, agora, estão matando o povo brasileiro pelo negacionismo doentio que antes negara a prevenção, os testes, o rastreamento, o combate ativo ao vírus, as UTIs, e, agora, nega e resiste às vacinas, que chegam a passos de tartaruga, e até o oxigênio. 

Nas últimas 24 horas, foram quase 1,5 mil brasileiros que perderam a batalha para a Covid-19, pois não puderam contar com o poder público central que de público nada tem, e nem mesmo com o Ministério da Saúde, transfigurado, sob Bolsonaro e Pazuello, em posto avançado da cloroquina que mata e não salva, e que submete os colegas de farda do intendente de plantão a afrontoso constrangimento. 

Para essas famílias e às demais que perderam filhos, pais, mães, avós e amigos, o seu Jair enviou uma mensagem consoladora: “Não adianta ficar em casa chorando, não vai chegar a lugar nenhum”.

Em resumo: esqueçam os seus mortos e voltem a trabalhar, afirmou. 

Não há porque se surpreender com a afirmação. 

O que esperar de um presidente que ‘comemorou’ com um passeio de jet ski no Lago Paranoá, em Brasília, quando o país atingia a marca de 10 mil óbitos pela pandemia?

O que esperar de um presidente que vaticinou contra a CoronaVac utilizando-se de uma notícia falsa?

O que esperar de um presidente que desprezou o maior parceiro comercial do Brasil, a China, para usufruir de alguns afagos do sucumbente Trump. 

O que esperar de um presidente que chamou de ‘maricas’ os brasileiros que recorriam às máscaras para se proteger do vírus?

O rosário de disparates é ilimitado.

Seu Jair deveria ter a mesma audácia de proclamar a mais nova despropositada frase – emitida no ambiente restrito e protegido de sua live, às centenas de famílias dos trabalhadores que perderam a vida nos frigoríficos do país, pois não interromperam suas atividades durante a pandemia e acabaram se transformando em focos de propagação do vírus em razão das baixas temperaturas. 

Repita a elas, seu Jair, a mesma frase debochada, mas ao vivo e a cores. 

Vá ao encontro dos que perderam entes queridos e peçam para esquecer seus mortos e voltar à vida normal.  

Saia dos cercadinhos loteados por puxa-sacos e encare a realidade dos que perderam vidas, empregos e esperança. 

É pedir muito, seu Jair, a um presidente que se diz da República?

A inusitada diarreia verbal da live presidencial da semana é mais uma prova de que nessa raia o seu Jair não corre. 

A raia do seu Jair é a dos bajuladores e milicianos. É onde ele se sente à vontade, em casa. 

A guerra travada pelos brasileiros contra o coronavírus e a catástrofe econômica e social em curso não é a guerra do seu Jair – e nunca será, como também não é a de seu governo, por uma questão de caráter.  

Estamos diante de um presidente-genocida. 

Diante de um presidente que pretende naturalizar o genocídio, afinal, a guerra do seu Jair é para ‘armar o (seu) povo’, as milícias que busca empoderar para sustentar seu desgoverno, amedrontar as demais instituições republicanas e escalpelar a Constituição Cidadã e, com ela, a democracia e os direitos do povo.  

A guerra do seu Jair tem como comandante em chefe o sr. Paulo Guedes, a soldo e a mando do desmonte do que resta de direitos e de joias da coroa. 

A guerra do seu Jair, ao fim e ao cabo, é para reduzir o Brasil à condição de colônia, sem indústria e sem conhecimento – uma ditadura a serviço do rentismo e da ignorância. 

Não teve ninguém para dizer a ele que esse figurino não cabe ao Brasil, como a nenhuma nação – e que por esse caminho seus dias estarão cada vez mais contados. 

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