Bolsonaro é um presidente quase “perfeito”

Se o presidente da República Jair Bolsonaro tivesse inteligência acima da média, o Brasil, provavelmente, estaria mais ferrado. Felizmente não tem. Na verdade, o presidente está abaixo da média, para a relevância do cargo que ocupa e a importância do País no cenário internacional. Mas isto não o atrapalha. Talvez, ao contrário.

Fotomontagem feita com a foto de Alan Santos/PR

Para o que o presidente se dispôs a fazer, a mediocridade intelectual e política talvez sejam parceiras. Bolsonaro é quase “perfeito”, porque, para o bem ou para o mal, ele vem cumprindo o script que lhe foi definido quando foi escolhido, por quem manda no País, ser o chefe da Nação.

Ele cumpre, com relativa competência e denodo, a tarefa que lhe foi passada. Não tenham dúvida disso. Outros, com a mesma orientação política (direita) e econômica (neoliberal), talvez não tivessem a mesma capacidade, em razão da complexidade, profundidade e radicalidade que a burguesia pretendia operar essas mudanças no País, num grande “salto para trás”.

Em circunstâncias absolutamente normais, Bolsonaro não seria candidato à Presidência da República, sendo, seria ridicularizado; não seria levado a sério. Mas por tudo que aconteceu com o Brasil, desde a eleição de Lula, em 2002, o País foi sendo tirado do eixo. E ninguém que poderia ter evitado isso se deu conta do que estava sendo gestado.

A situação aparentemente calma e tranquila levou o País ao autoengano. Lembre-se, em 2005, houve o chamado mensalão, biombo usado pela direita para desestabilizar o governo, a fim de apeá-lo. Naquele contexto, foi eleito o obscuro Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara.

Fraco, o deputado não teve capacidade política para cumprir o desígnio para o qual fora eleito: abrir processo de impeachment contra Lula. Foi sacado.

Em nova eleição para comandar a Câmara foi escolhido o então deputado Aldo Rebelo, que era do PCdoB. Ele disputou com José Thomaz Nonô (AL), que era do antigo PFL.

Aldo Rebelo é eleito presidente da Câmara dos Deputados em 2005 I Foto: Agência Senado

Nonô, na época, era um dos quadros da direita nacional no Congresso. Talvez, se tivesse sido eleito, tudo que aconteceu anos depois, teria ocorrido logo após a vitória dele. Talvez, então, sob esse mesmo diapasão, a vitória de Aldo Rebelo (SP) tenha interrompido, por alguns anos, a loucura que o Brasil ora vive.

Alguns anos depois, surgiu o chamado o petrolão e a Operação Lava Jato, que dragaram o País para a crise que ora vivemos e, talvez, sejam responsáveis por tudo que surgiu na esteira dessa crise. Inclusive a eleição do obscuro e obtuso Bolsonaro.

A pandemia é caso aparte. Como Bolsonaro não fez o óbvio, o futuro dele está agendado. Melhor assim.

Bolsonaro é quase “perfeito”

O presidente da República é quase “perfeito”, porque talvez outros, mais inteligentes e preparados, não tivessem condições de fazer o que ele fez e está fazendo.

Não fez e não vai fazer mais, porque passou da conta e teve de ser contido. Ele acreditou, tolo que é, que poderia “fazer o que a ditadura não fez”, nas palavras dele. E assim, o espírito democrático das instituições republicanas e da sociedade brasileira o impediram.

A agenda que o governo Bolsonaro “toca” no Congresso não é dele propriamente. Essa é a agenda neoliberal, cuja maioria do Congresso concorda, nessa nova fase do capitalismo financeirizado.

Ele é quase “perfeito”, porque consegue — mesmo não tendo as competências formais necessárias para ser presidente da República —, fazer a agenda neoliberal seguir o curso, ao mesmo tempo em que pauta debate e agenda absolutamente secundárias, que faz com que a oposição tenha muito mais dificuldades para atuar.

Isso obriga a oposição, no Congresso, nas ruas e nas redes, a combater, ao mesmo tempo, a agenda neoliberal que destrói o Brasil, e a campanha de ódio que dilacera a sociedade, numa guerra cultural que pulveriza o debate político sobre o que de fato interessa ao País e ao povo.

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