Bolsonaro quer presidir o caos e a barbárie

Bolsonaro anunciou que veio para desconstruir, para instalar o caos e a barbárie e operar por meio deles.

Quem, para entender o que se passa no Brasil, estiver raciocinando com base nos paradigmas políticos herdados de Aristóteles, o grande filósofo grego, e desenvolvidos por outros grandes do pensamento universal, sejam eles humanistas, democratas ou que tais, está a perder tempo e neurônio. Bolsonaro, o Perverso, não opera pela política, nem aristotélica, nem liberal, nem de qualquer espécie racional catalogada. O antigo espiruleta do baixo clero parlamentar, que ora ocupa a cadeira presidencial de nossa estragada República, já disse e repetiu para quem queira ou não queira ouvir: Vim e vi para desconstruir. Ou seja: o cara taí para instalar o caos e a barbárie e operar por meio deles.

– Não exagera, poeta! – dirão muitos.

Talvez alguns destes muitos lembrem do que ocorreu na Argentina, final dos 90, início dos 2000. O caos na economia, a barbárie nas ruas. O liberalismo em sua expressão mais crua. Todos a mercê da sorte e cada um decidindo sobre a vida a seu talante. Mas alguém ganhava. Quem? Os especuladores, também conhecidos como Capital Predatório. A questão é que lá não teve ninguém para presidir e fazer perpetuar o caos. Hoje, com Macri, o capital tenta mais uma vez barbarizar a vida de nossos vizinhos, mas até o momento parece que não arrumou quem presida e de seguimento à bagunça.

No Brasil, os predadores do capital estrangeiro e os banqueiros agiotas daqui de dentro tentam com Bolsonaro a gestão do caos e da barbárie tendo por método a barbárie e o caos. Com a lei da selva debaixo do braço, os meliantes do capital ganham muito. Aliás, isso é próprio do crime organizado: é no ambiente o mais desregulado que eles impõem seu desiderato, sua lei, sua ordem – a lei e a desordem do mais forte. Mas, mesmo o ambiente bagunçado precisa ser mantido bagunçado a fim de garantir os ganhos da bandidagem. Daí, por exemplo, PCCs e correlatos oporem-se à urbanização de favelas: ruas asfaltadas e largas facilitam o caminho aos camburões, não é mesmo?

Em maior escala, o crime organizado do capital internacional, especialmente o norte-americano, também conhecido pela alcunha de Imperialismo, precisa do fim do Estado Nacional dos países que atacam e ocupam, porque assim ficam de pés e mãos soltos para especular, se apossar e depredar o patrimônio alheio, explorar até o pó a mão-de-obra e lucrar. Para isso, precisam ao menos de um preposto, um capataz no governo central. No Brasil, Bolsonaro é este preposto. Ele é o chefete de uma espécie de governo de ocupação, e cuja missão é presidir o caos para que o ambiente de barbárie propicie grandes ganhos aos seus patrões.

Não pensem vocês que essa coisa toda acima descrita não tenha sua base conceitual e mesmo filosófica. A coisa é bagunçada, mas tem sustânça. Quem tiver tempo a despender, sugiro que leia Nietzche, autor predileto de Adolf Hitler, e consulte a miríade de irracionalistas que vicejaram e ainda vicejam no mundo do alto saber. Eles dão argumentos ao fascismo, ao nazismo e ao apartheid, linhas políticas de Bolsonaro e seus asseclas, assim como, por outro lado, são fontes de todo o tipo de gente que propõe saídas extremadas, pretensamente radicais; gente adepta do pós-tudo, do multicor e do contra-todos; que acha que tudo pode, embora não saiba exatamente o que quer, e só sabe que não quer.

A descrença na civilização e na democracia é a tônica de nosso tempo. Culpa disso têm em grande medida os neoliberais, que afogaram o mundo na lógica do "todos contra todos" do mercado. Hayeck, o austríaco pai do neoliberalismo, experimentou no Chile, anos 70 do século passado, sob a ditadura de Pinochet, seus postulados, que intelectuais paulistas, tornados chefe de Estado e ministros, impuseram a um Brasil apavorado com uma inflação galopante.

É nessa descrença cevada pela mecânica do mercado que Trumps e Bolsonaros surfam. Descrença que vem se tornando oposição de amplos setores das massas pauperizadas ao civilizado e ao democrático, porque os agentes do mercado e também do velho fascismo matreiramente identificam civilização e democracia com a barbárie e o caos. Ou seja: reputam à civilização e à democracia as características que lhe são contrárias; e próprias do capitalismo em sua versão mais crua, e dos regimes nazi-fascistas, expressão política desta versão. Não é o lobo sob pele de cordeiro: é o lobo que se reafirma lobo ao convencer a maioria da fauna de que os lobos é que são vítimas dos cordeiros que não se deixam abater, e diz: "Seja um lobo você também!".

A partir deste convencimento, a burguesia autoritária vende sua barbárie sob o rótulo de Nova Ordem, e elegem seu porta-voz – que berrará, gesticulará, ameaçará, apontará seu dedo em riste contra os inimigos da pátria, e proporá a tirania como garantia da liberação do indivíduo oprimido pelo constrangimento das convenções impostas por um tal establishment.
Compreender o anti-governo de Bolsonaro nesta chave, ao contrário do que possa sugerir – que a saída está numa radicalização artificial da luta política, como propõem algumas cabeças universitárias -, aponta para a justeza da linha dos comunistas, de se construir a mais extensa união de forças políticas e sociais em defesa da democracia e do legado civilizacional brasileiro. Ampla frente democrática e nacional, que isole a extrema-direita, e seja capaz de restabelecer uma arena de disputas e embates que garanta aos trabalhadores, e à maioria do povo, as condições para empreender sua luta.

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