Bolsonaro tensiona no limite a vitalidade da democracia brasileira

“Bolsonaro sabe que para aplicar seu projeto antipopular, em um país com as assimetrias econômicas e sociais como o Brasil, precisa calar as vozes destoantes. Por isso ataca as instituições, os sindicatos, os movimentos sociais, a imprensa e tudo aquilo que se opõe aos seus arroubos totalitários.”

O crescente isolamento político que se abate sobre o governo Bolsonaro, materializado nos desgastes acumulados com o Congresso Nacional, com os governadores e prefeitos, com as Forças Armadas e com parcelas crescentes de seu eleitorado, especialmente da classe média, tem deixado o presidente como uma espécie de fera acuada. Sua participação em um ato político pró-fechamento do Congresso Nacional e do STF e que também pedia a edição de um novo AI 5, em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, no dia do Exército, ilustra bem o desespero do presidente.

Além de uma demonstração de completo desrespeito às orientações das autoridades sanitárias do Brasil e do mundo, colocando em risco a vida dos brasileiros, a aparição do presidente da República no ato do dia 19 de abril tem outros significados. Já virou um verdadeiro roteiro o “modus operandi” do capitão. Tensiona seus apoiadores em atos e pronunciamentos antidemocráticos nos finais de semana e ameniza as críticas sofridas em frente ao Palácio da Alvorada na segunda-feira de manhã, numa atitude de pura desfaçatez. Contudo, Bolsonaro parece agora ter ultrapassado todos os limites e ter gerado um enorme constrangimento para as Forças Armadas que se recusam a embarcar numa estratégia antidemocrática.

Um dia após o ato, o ministro da Defesa, que havia rejeitado o convite de Bolsonaro para participar da manifestação, tomou a dianteira e emitiu uma nota do Ministério sepultando qualquer dúvida sobre o papel das Forças Armadas, e reafirmou a completa obediência à Constituição brasileira e à estabilidade institucional do país. Do mesmo modo, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, abriu inquérito a pedido do Procurador Geral da República Augusto Aras para investigar a suposta participação de deputados e de empresários que teriam organizado e financiado as manifestações. O fórum dos governadores também se manifestou com uma contundente carta assinada por 20 governadores. Várias entidades da sociedade civil, partidos, entidades de classe, se somaram às inúmeras manifestações de repulsa à atitude do presidente.

Ao repetir inúmeras vezes durante a manifestação que não iria “negociar”, Bolsonaro tentou se imunizar contra o que de fato tem tentado fazer com parte do Congresso Nacional, que é oferecer cargos federais e a liberação de bilhões de reais em emendas parlamentares em troca de apoio político e a construção de um nome para substituir Rodrigo Maia na presidência da Câmara. Ou seja, como é típico de sua personalidade, diz uma coisa e faz outra. Se os parlamentares não se sujeitarem a esse jogo, Bolsonaro já tem uma narrativa pronta e apontada para a cabeça do parlamento, a quem acusa não deixá-lo governar, como uma espécie de estorvo fisiológico.

Ao contrário do que afirmou, Bolsonaro não é a Constituição, mas sim foi eleito para governar respeitando a mesma e jurou a ela obediência perante a Nação em sua posse. Somente os déspotas se acham acima das leis e governam sem o parlamento, o judiciário e as demais instituições democráticas. Bolsonaro sabe que para aplicar seu projeto antipopular, em um país com as assimetrias econômicas e sociais como o Brasil, precisa calar as vozes destoantes. Por isso ataca as instituições, os sindicatos, os movimentos sociais, a imprensa e tudo aquilo que se opõe aos seus arroubos totalitários.

Para barrar as atrocidades do governo Bolsonaro e sua sanha em atacar a democracia, implantando um governo totalmente arbitrário, será necessária uma ampla frente de salvação nacional, que tenha a questão democrática como algo central. Nesse momento, independentemente de divergências políticas e ideológicas, precisamos juntar todos os brasileiros que defendem a Constituição, a democracia e o desenvolvimento nacional. Não há maior risco para o futuro do Brasil do que a permanência de um governo como o de Bolsonaro.

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