Brasil já vive sob um governo totalitário

O presidente se tornou a maior ameaça a retomada econômica, respeito a Lei, instituições e defesa do papel protagonista do Brasil no mundo.

As ameaças à democracia aumentaram muito mais depois da posse de Bolsonaro l Foto: Alan Santos/PR

Analistas, políticos e setores variados da sociedade têm se mobilizado em defesa da democracia brasileira, do nosso Estado democrático consagrado na Constituição de 1988. Porém, o mais correto (ao menos na minha opinião) seria a luta para restaurar a democracia, garantir o cumprimento do pacto estabelecido há séculos atrás por Montesquieu em sua “Teoria dos Três Poderes”, marco dos Estados democráticos contemporâneos e fonte inspiradora da Constituição dos Estados Unidos e praticamente todas as democracias ocidentais, inclusive a nossa.

A maneira como o atual presidente do Brasil se relaciona com os outros poderes, imprensa, movimentos sociais, governos de outros países e a ONU (para estabelecer um fim na lista, pois há muito mais a ser adicionado nela) tem o DNA do totalitarismo. Bolsonaro governa desde o dia da sua posse apenas para os que nele votaram, um perigo ainda maior devido ao encolhimento dessa fatia do eleitorado brasileiro, que vai ficando cada vez mais resumida a extremistas políticos de cunho fascistóide e fundamentalistas religiosos.

O governo Bolsonaro já é totalitário na sua essência, apenas não teve força para dar um golpe de Estado que subjugasse os outros poderes da República, algo que defende abertamente, diga-se de passagem. O conteúdo dos discursos do presidente, atitudes e práticas constituem largo arcabouço de crime contra o Estado brasileiro e nossa democracia, o presidente se tornou a maior ameaça a retomada econômica, respeito a Lei, instituições e defesa do papel protagonista do Brasil no mundo.

Não há como ignorar esse comportamento e nem tão pouco acreditar que a eleição que se avizinha será disputada dentro dos marcos democráticos, ao menos se depender do presidente que ora governa o país. Por isso, acredito ser um desserviço e uma ilusão bravatas que dão a entender que Bolsonaro não estaria nem entre os candidatos que irão ao segundo turno, bem como a atitude de cruzar o país para construir uma ou mais candidaturas de oposição. Essas iniciativas pecam por subestimar o adversário e acreditar que o jogo será jogado dentro das regras.

Quando o totalitarismo, que no caso bolsonarista tem traços fortes e explícitos de fascismo, chega ao Poder Executivo é preciso que se entenda que a retirada dessa representação política do mesmo, no geral, não ocorre de maneira serena, pacífica e moderada, vide o exemplo Trump nos EUA, para citar o mais recente.

O momento que o Brasil atravessa pede por uma concertação de forças a mais ampla possível, que não configure uma simples frente eleitoral, mas garanta a estabilidade política, a democracia e o Estado brasileiro com seus freios e contrapesos equilibrados, inclusive para que haja eleições em 2022. Essa frente só terá êxito com profundo desprendimento, colocando divergências menores em segundo plano, unindo direita, centro e esquerda, inclusive trazendo para esse bojo os bolsonaristas arrependidos, que não pactuam com o fascismo e nem com o rompimento democrático. Sim, eles existem e não são poucos ou inexpressivos.

Nós brasileiros ainda não conseguimos desde a proclamação de nossa República garantir um tempo expressivo de continuidade democrática, sem sobressaltos ou interrupções. Estávamos atravessando o maior período: de 1985 até 2016, quando ocorre o impeachment da presidente Dilma. Esse percurso todo teve sempre a marca forte da luta de classes, contradições de interesses e tudo mais, mas havia um respeito as regras democráticas, da relação entre os poderes, a primeira fissura surge com o pedido de recontagem solicitado por Aécio Neves na reeleição de Dilma e todo arrivismo no resultado.

O gênio do fascismo e do totalitarismo ali saiu da garrafa, ganhou musculatura, se autoproclamou um gigante e dono do direito de defender as cores da bandeira e se dizer brasileiro, algo também típico de fascistas. Esse movimento disputou e venceu a narrativa das ruas, mesmo com bandeiras equivocadas e conservadoras ao extremo, mostrou densidade e capilaridade, mas hoje não é mais o mesmo, perdeu força, representatividade e pauta.

É possível e necessário dividi-lo, trazer para frente ampla em defesa da democracia os militares, religiosos, empresariado, meios de comunicação, políticos de direita e quem mais não pactuar com o totalitarismo em curso. Isso pode colocar Bolsonaro na estatura real que tem, tirar de seu alcance o que ainda lhe resta de capilaridade, isolá-lo para derrotá-lo. E quando digo derrotá-lo me refiro a necessidade de dar andamento aos vários pedidos de impeachment que se acumulam no Congresso Nacional.

Escrever isso é fácil, executar exige muito de todos os que amam o Brasil, defendem a democracia e querem ver nosso povo voltar a sorrir e andar orgulhoso nas ruas com as camisas verde e amarelo. Com Bolsonaro no Palácio do Planalto isso não é possível.

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