Brasil pandêmico
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Publicado 13/07/2020 18:43
Há cerca de quatro meses imerso em uma pandemia o Brasil vai mostrando suas nuances, para o bem e para o mal. O recente episódio dos bares do Leblon carioca, entupidos de gente que parece ignorar os riscos aos quais se expõe, mas também ao próximo, é um retrato desse momento. Ali nos é mostrado o cúmulo da boçalidade de alguns, daquela turma do “você sabe com quem está falando?”, claramente representada pelo casal irresponsável e egoísta que peita um agente municipal que tentava apenas fazer o seu trabalho e garantir a segurança de todos, dentro do que determina a Lei.
Não é uma novidade isso que ocorre no Rio e em outros rincões do Brasil. No início do século XX Oswaldo Cruz penou para garantir a ordenação, limpeza e melhoria de vida do povo do Rio de Janeiro, o médico chegou ao ponto de ter dificuldade de caminhar pelas ruas da então capital do Brasil, apenas por querer estabelecer protocolos de higiene e que o povo se vacinasse. Mais uma vez ali tivemos o exemplo do individualismo sobre a necessidade coletiva, chegando até a Revolta da Vacina, com o povo na rua protestando contra algo que só melhorava sua saúde!
Esse sentimento egoísta, tão típico do capitalismo, aflora em momentos de crise e de guerras, chegando até mesmo à convulsão social. As ruas do Rio mostraram isso a um Brasil horrorizado com a turma que quer viver o momento, beber, bater papo, lotar as praias durante o dia, mesmo que todas as autoridades sanitárias do mundo digam que isso impulsionará mais uma vez o Covid-19 e aumentará o número de mortos, em particular entre os mais pobres.
Mais pobres que sofrem com a irresponsabilidade dos seus patrões que voltam das baladas, das praias, expondo mais e mais pessoas ao vírus. Momentos como esse entram para a História, de uma forma ou de outra, e simbolizam uma dicotomia entre o Brasil que quer viver, reconstruir e garantir um futuro para todos e outro que quer apenas curtir o momento, mesmo que isso custe milhares de vidas. Essa turma do “eu primeiro” naturalizou as mais de 1000 mortes registradas dia após dia no nosso país, perderam a sensibilidade e humanidade com o próximo. Seguem o péssimo exemplo do presidente da República, se inspiram no que há de pior hoje no mundo. Aos demais cabe a união nacional, em busca de um futuro diferente, de uma visão coletiva e responsável, que entende que dependemos uns dos outros, algo cravado em todas as organizações humanas em sociedade.
Nossa interdependência, nossa articulação social em rede, fortalece o sentimento de que a superação do que vivemos virá, e pode sim emergir um mundo melhor, apesar de alguns. Isso é o que nos torna cidadãos. Se assim não vier a ocorrer, se nossa adaptação ao ambiente pandêmico não levar em conta nossa responsabilidade individual ao refletir sobre si mesmo e sobre o próximo, terá fracassado a verdadeira democracia.