Breve história nos 77 anos da aliança reacionária de paulistas e gauchos

A aliança conservadora entre as classes dominantes interestaduais tem sido uma das marcas da história republicana do Brasil. Seja para evitar avanços e conquistas dos trabalhadores, seja para manter o poder central em torno de seus projetos conservadores.

O mineiro Afonso Pena, que assumiu a Presidência em 15 de novembro de 1906 e morreu antes de concluir o mandato, em 14 de junho de 1909, havia sido o candidato das classes dominantes paulistas, em aliança com José Gomes Pinheiro Machado, senador gaúcho, que articulou as bancadas dos pequenos estados do País. Na época, a base da aliança que levou Pena ao poder foi a política de valorização do café, com o objetivo de controlar estoques e negociar preços. Enfim, manter os interesses econômicos dos grandes proprietários através do controle político da Primeira República, com apoio da elite rio-grandense. [1]


 


 


Em 1930, com a derrota das oligarquias paulistas, por sua vez, uma minoria de gaúchos ficou ao lado de São Paulo. Isso se deu devido à formação da Aliança que elegeu Getúlio Vargas, como Presidente do Rio Grande do Sul, em 1928, a qual havia unificado a maior parte da classe dominante gaúcha, desde grandes plantadores até pecuaristas e industriais. [2]


 


 


Com o Movimento de 1930, que levou ao poder nacional as oligarquias dissidentes do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Paraíba, São Paulo passou a ser governado por um dos mais importantes líderes tenentistas que haviam ficado ao lado de Getúlio Vargas, o pernambucano João Alberto Lins de Barros. Nomeado interventor, adotou no início de seu governo orientação diferenciada de outros estados, apresentada como “critério da revolução”, passando a defender a liberdade absoluta de pensamento. Tanto que em 7 de novembro, após acordo com os líderes do Partido Comunista do Brasil, Plínio Mello, Carneiro Leão e Luiz de Barros, foi permitido, por algum tempo, o funcionamento legal do PCB. Depois das negociações, autorizou o funcionamento da sede provisória para trabalhos de organização partidária, a efetivação de reuniões e os comícios de propaganda doutrinária, além da edição de qualquer publicação de caráter político.


 


 


Num primeiro momento uma única ressalva: os comunistas ficavam responsáveis por “qualquer tentativa material de caráter subversivo promovida por aquele partido”.[3] Com o aumento das greves, o fortalecimento comunista no movimento operário e sindical e o crescimento da propaganda do PCB, em 24 de fevereiro de 1931, dada por pressão política, João Alberto assinou um decreto que abria no Tesouro de São Paulo um crédito de 200 contos: para o pagamento de despesas para a repressão ao comunismo.


 


 


Por outro lado, o Governo Provisório não descuidou da repressão aos contra-revolucionários liderados pelo Partido Republicano Paulista (PRP).  No dia 10, o coronel Cícero Costardi, que dias antes já havia começado as investigações sobre as responsabilidades perrepistas na resistência conservadora, foi nomeado por João Alberto, como chefe da ordem política e social.


 


 


No início de dezembro de 1931, o governo Vargas modificou o Ministério da Justiça, trocando Oswaldo Aranha pelo integrante do Partido Libertador (PL) do Rio Grande do Sul, Maurício Cardoso. Este aceitou o cargo no dia 2, prometendo acabar com a censura à imprensa e encaminhar o processo da volta do país ao regime constitucional. O Governo Vargas procurava dar uma resposta à pressão conservadora oriunda de São Paulo.


 


 


No entanto, antes da posse, Cardoso viajou do Rio Grande do Sul para São Paulo. Na verdade, a liderança libertadora gaúcha realizou tal trajeto para ganhar tempo e poder fazer novas articulações políticas com os liberais e conservadores paulistas, os quais vinham defendendo, com ênfase, à volta do país ao domínio constitucional. Estas articulações também serviam para encontrar formas de enfrentar os tenentistas, contrários ao fim do Governo Provisório.


 


 


Logo no início de 1932, o Partido Democrático (PD) rompeu com Vargas, levando muitos integrantes da classe dominante de São Paulo a uma crítica generalizada ao que chamavam de “ditadura” de Vargas. Os paulistas, que haviam apoiado 1930, se aliaram aos derrotados e passaram a utilizar a tática de reivindicação da reconstitucionalização do país. Como desdobramento, no dia 25, na Praça da Sé, um comício pró-Constituinte reuniu aproximadamente cem mil pessoas no centro da capital paulista. Logo depois, no dia 16 de fevereiro, as classes dominantes paulistas se reorganizam politicamente, reunindo o PD e o PRP, formando a Frente Única Paulista (FUP), em oposição ao Governo Federal.


 


 


Em 25 de fevereiro, um dia depois de Vargas ter assinado o Código Eleitoral, foi empastelado o jornal Diário Carioca, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. A invasão do periódico foi praticada por uma tropa de cinquenta militares do 1º Grupo de Cavalaria Divisionária. Os militares eram ligados ao Clube 3 de Outubro, uma das principais bases de sustentação do governo Vargas, fundado no Rio de Janeiro em fevereiro de 1931, e abertamente contra a reconstitucionalização do país, bandeira que o jornal passara a defender. [4]


 


 


Com este episódio, os libertadores gaúchos, que vinham ao lado de Vargas desde 1928, romperam com o Governo Provisório, em apoio aos paulistas. Com o ataque ao jornal, Baptista Luzardo (Chefe de Polícia do Distrito Federal), Lindolpho Collor (Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio) e Maurício Cardoso encontraram a justificativa para deixar o ministério de Vargas. Com eles, saíram João Neves da Fontoura, consultor jurídico do Banco do Brasil, e mais alguns outros.


 


 


Aos poucos, começou a construção do apoio do PL e de algumas lideranças do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) aos paulistas. Depois de quarenta anos, em 14 de março, Assis Brasil voltava a se aproximar de Borges de Medeiros, em um encontro intermediado por Flores da Cunha. No dia 26, Assis Brasil saiu do Ministério da Agricultura.
Em São Paulo, em 22 de maio, após um comício pró-constituinte, na Praça do Patriarca, no centro da cidade, os integrantes dirigiram-se para a Praça Tiradentes, em frente ao quartel do 1 Batalhão de Polícia e, depois, para o Quartel General da Força Pública do estado, fazendo pequenas manifestações. Na frente do Quartel General, os manifestantes organizaram uma comissão para negociar com a oficialidade. No momento em que um orador, da rua, expunha as aspirações gerais do movimento, iniciou-se um tiroteio violento, com a chegada da cavalaria da polícia, que dispersou a multidão a golpes de espada e a tiros.
No dia 23, aconteceu outro grande conflito na Praça da República, resultando em vários mortos, entre eles os estudantes: Martins, Miraguaia, Dráusio e Camargo. [5]


 


 


No dia seguinte, depois dos conflitos decorrentes da violência na capital paulista e do empastelamento dos jornais varguistas Correio da Tarde e A Razão, João Alberto, agora como Chefe de Polícia do Distrito Federal, lançou nota pública, reconhecendo o caráter político das manifestações paulistas. Diante disso, a vigilância e o policiamento de São Paulo passaram a ser dirigidos pelas tropas federais. Ao mesmo tempo, justificou que as tropas da polícia e do Exército só começaram a agir depois que a polícia civil declarou-se impotente para conter as manifestações em frente ao Clube 3 de Outubro, na capital paulista, e em outros lugares da cidade.


 


 


No mesmo dia 23, em Porto Alegre, Luzardo recebeu um telegrama de Júlio Mesquita Filho, proprietário do Estado de São Paulo, no qual relatava os acontecimentos de São Paulo.


 


 


Enquanto agravava-se o conflito entre São Paulo e o Governo Federal, Flores da Cunha, após várias reuniões com os líderes de PL e do PRR, disse que era pela ordem e pela paz, prometendo: “(…) tudo hei da fazer para que a ordem não seja perturbada; mas se o Rio Grande erradamente se encaminhar para o despenhadeiro, vou para o despenhadeiro com o Rio Grande”. [6]


 


 


No dia 27, Flores remeteu telegrama para Vargas, referindo-se ao “caso paulista”: (…) No pensamento de ser mantido a todo transe a feliz solução dada ao caso paulista, os partidos políticos desse Estado, representados pelos seus chefes, Drs. Borges de Medeiros e Raul Pilla, acabaram-me de autorizar a V. Ex. o seu inteiro apoio, a fim de que nele amparados, possa V. Ex. melhor resistir a onda de anarquia em que se tenta mergulhar o país (…).[7]


 


 


Em 9 de julho iniciou o Movimento de São Paulo. Como explica Manoel Correia de Andrade, com “o evoluir da crise econômica (…) a repercussão dos movimentos de reivindicações operárias e a agressividade dos tenentes reunidos no Clube 3 de Outubro”, criou-se uma condição que amedrontou “a burguesia rural dos estados mais ricos: São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul”, criando as condições políticas para a conspiração. [8]


 


 


Flores da Cunha tomou a posição de ficar ao lado de Vargas.[9] Ele que chegara a preparar o movimento conjuntamente com a Frente Única Gaúcha (FUG), inclusive distribuindo armas, teve acesso a um radiograma, proveniente de São Paulo, onde Júlio de Mesquita Filho sugeriu que Borges de Medeiros assumisse o governo no Rio Grande do Sul. Com o início da “Constitucionalista”, este confirmou o apoio aos paulistas.


 


 


Outro motivo que fez com que Flores da Cunha tomasse a decisão contrária daquela combinada com os líderes da FUG, foi a vinda ao Rio Grande do Sul do paulista Paulo Nogueira Filho, representando o PD. Ele foi a Cachoeira, como emissário de Francisco Morato, trazendo uma carta para Borges de Medeiros (líder do PRR) e Raul Pilla (líder do PL), onde lhes comunicava “a respeito do andamento da conspiração paulista para derrubar Vargas do poder”.[10] Trocou ideias com Borges e Pilla, mas só depois Flores da Cunha ficou sabendo das negociações diretas entre a FUG e a FUP.


 


 


Antes disso, Borges de Medeiros havia enviado para São Paulo, o advogado Glicério Alves, a fim de realizar tratativas diretas com o PD. Essas negociações, por decisão de Borges, Pilla e João Neves da Fontoura, que desconfiavam das atitudes do interventor, também foram ocultadas de Flores da Cunha.[11]


 


 


Em 13 de julho, Borges de Medeiros e Raul Pilla lançaram um manifesto, afirmando que a FUG tinha compromissos com a FUP. Por isso desejavam, tanto quanto Flores da Cunha, que ele preservasse “da anarquia e da desordem o Rio Grande do Sul” e que “sua excelência procurasse contribuir com a sua autoridade moral para encontrar uma solução digna e patriótica” que pusesse termo “à luta fratricida”.[12]


 


 


Diante do apoio de Flores a Vargas, João Neves da Fontoura afirmou que iria naquele mesmo dia para o Itararé, campo de batalha fundamental para acessar ou defender a capital paulista, como já acontecera em 1930. Depois, sua alma voltaria “aos pagos, para nada mais encontrar, senão a superfície estagnada de um mar de lama”.[13]


 


 


Ainda no final de julho, sob a liderança de Baptista Luzardo, então já ao lado dos paulistas, Viana Moog e outras figuras importantes se deu o “Levante de Vacaria”, iniciando os movimentos armados no território do Rio Grande do Sul, em apoio aos reacionários de São Paulo.[14] No estado, tanto as tropas federais como a Brigada Militar e os corpos provisórios, já se movimentavam em direção a São Paulo para o combate. Luzardo, com o apoio do prefeito de Vacaria Otacílio Fernandes e outros, tomaram a cidade com armas na mão, sendo logo derrotados.
Borges de Medeiros, Luzardo, Collor e outros líderes republicanos e libertadores do Rio Grande do Sul, ao pegar em armas no território rio-grandense em apoio aos paulistas, chamaram para si boa parte da repressão das tropas federais e da Brigada Militar.[15] Em 26 de agosto, Flores cedeu poderes ao seu irmão, o coronel Francisco Flores da Cunha (chamado de Chico Flores), e para Sinval Saldanha deslocarem-se para a região de Santa Maria, onde encontrava-se Borges de Medeiros e cerca de trinta apoiadores do Movimento de São Paulo, a fim de demovê-los da ação armada. Prometia aos que depusessem as armas todas as garantias, a anistia plena e a liberdade de todos os presos políticos detidos em Porto Alegre em outros pontos do Rio Grande do Sul ou no Rio de Janeiro, onde havia gaúchos presos.[16] A rendição não foi aceita.[17]
No início de setembro, o movimento de apoio aos paulistas no Rio Grande do Sul, teve a segunda derrota. Foi rendido e preso o grupo do coronel Marcial Terra, um dos grandes estancieiros do estado, que atuava na região das Missões e era um dos maiores aliados de Borges de Medeiros. No entanto, Flores da Cunha determinou a soltura do grupo, concedendo-lhes “anistia”.


 


 


Pouco tempo depois, no dia 21, a Secretaria de Governo de Flores da Cunha informava que Borges, juntamente com outros cinquenta e dois combatentes haviam sido presos. Luzardo havia conseguido fugir.[18] No dia 22, Borges, seu sobrinho Joaquim e os outros presos com ele, no dia 20, depois de combates em Cerro Alegre, no município de Piratini[19], chegaram a Rio Grande, em trem acompanhado pelo 7 Regimento de Infantaria de Santa Maria. Inicialmente foram postos incomunicáveis no 9 Regimento de Infantaria da cidade portuária, ficando ali até o dia 24. Nesse dia, Borges foi embarcado para a Capital Federal.[20] Depois de quarenta e um anos, o Chefe, como era chamado Borges de Medeiros por todos os seus aliados, voltaria ao Rio de Janeiro, em 27 de outubro.[21]
Baptista Luzardo, que se reunira a Borges depois de sair de Porto Alegre, conseguiu fugir para o Uruguai e depois se exilar na Argentina. Um dia depois da chegada de Borges ao Rio, a rebelião paulista terminava com a queda de seus principais líderes, em 28 de setembro, com a rendição e o acordo do Governo Federal com Bertoldo Klinger, líder militar dos paulistas.


 


 


Ainda no dia 22, em Uruguaiana, levantaram-se o 5º RCI e o 2º GAC. Mas era tarde para qualquer revolta. A reação fora sufocada, devido às medidas repressivas do general Franco Ferreira, comandante da 3ª Região Militar, que enviou os oficiais presos para Porto Alegre.
Eram os estertores do movimento de apoio aos paulistas no estado. Os setores das oligarquias rurais, que haviam iniciado o apoio ao Movimento de São Paulo, estavam derrotados no Rio Grande do Sul. Era derrotada também a contra-revolução regional dos liberais conservadores que visavam retornar ao governo central pela via legal e eleitoral, via reconstitucionalização e reforma eleitoral.


 


 


No Rio Grande do Sul, após o Movimento de São Paulo de 1932, as classes dominantes dividiram-se politicamente. Os integrantes do PL e do PRR, que apoiaram os paulistas, rumaram para o exílio. Borges de Medeiros foi remetido preso para o Rio de Janeiro, posteriormente recebendo a pena do exílio interno, permanecendo no Recife. Para Flores da Cunha, ficar no PRR era impossível. A solução foi criar outro partido, afinado com Getúlio Vargas e o poder Federal, comandado por ele. Em 1932, Flores fundou o Partido Republicano Liberal (PRL), tornando-se seu presidente.[22]


 


 


Passados 77 anos daquela aliança e a pouco mais de um ano antes de mais uma eleição presidencial, a burguesia paulista, centrada na Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP), já vem dando as suas cartas. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, através articulação entre o PSDB e o DEM, promoveu a sustentação do projeto neoliberal, antinacional, privatista, rentista e promotor da retirada dos direitos dos trabalhadores, bem como do aumento da miséria social. Durante os últimos sete anos, esteve na linha de frente da oposição de direita que, coordenada na Avenida Paulista pelo poder econômico dos grandes bancos e indústrias, através do governo estadual de São Paulo e da mídia liberal-conservadora – O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, etc. De lá para cá vem pautando a política nacional das classes dominantes, transformando esta mídia em partido das classes dominantes.
No Rio Grande do Sul, pela aliança construída em torno de Geraldo Alckmin para a Presidência da República e pela eleição da paulista Yeda Crusius e do empresário gaúcho Paulo Afonso Feijó (líder comercial e quadro liberal gaúcho) para o governo, em 2006, o neoliberalismo fincou base de apoio no estado. Através de uma ampla aliança política de centro-direita, que também deu a vitória eleitoral ao candidato do PSDB (inexpressivo entre os gaúchos) à Presidência, o projeto de desmonte do Estado segue o seu curso com profundo teor privatizante e terceirizante, com caráter corrupto e antipopular, de profunda criminalização dos movimentos sociais.


 


 


Assim, desde já, cria-se um cenário para as eleições de 2010, tanto nacional como estadual, no qual, majoritariamente, o Rio Grande do Sul terá que optar entre dois projetos: um, liberal-conservador, em torno do atual governador de São Paulo, José Serra; outro, por um novo projeto nacional de desenvolvimento, em torno das forças políticas e sociais que perspectivam a derrota do neoliberalismo, tática essencial para a aproximação com uma estratégia socialista para o Brasil.


 


 


Para o liberalismo conservador de São Paulo, parece que as cartas estão dadas. Para o Rio Grande do Sul resta saber: os partidos de centro, ainda na base do Governo Yeda, serão palanque eleitoral do projeto das classes dominantes do País, baseados a partir da elite paulista, tendo José Serra na linha de frente?


 


 


As cartas desse jogo político estão sendo jogadas dede já. Nele, os movimentos regionais, sejam das classes dominantes, sejam dos setores populares e de esquerda, sucumbirão à questão política nacional. Assim foi em 1932, assim deverá ser em 2010.



 


 


Notas


 


Parte das considerações apresentadas aqui, em torno de São Paulo, em 1932, e o apoio de setores das classes dominantes gaúchas ao “Movimento Constitucionalista”, estão apresentadas entre dos capítulos 1 a 3 de minha tese de doutorado O fantasma do medo: o Rio Grande do Sul, a repressão policial e os movimentos sócio-políticos (1930-1937), defendida no PPGH do IFCH-UNICAMP, em 2004.


 


 


 


[1] Este apoio a São Paulo foi rompido quando Pinheiro Machado coordenou a campanha do também gaúcho Hermes da Fonseca à Presidência. Ma ocasião, articulando as lideranças dos estados do Norte e Nordeste, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, contra a candidatura mais liberal e conservadora dos paulistas, os quais apoiaram Rui Barbosa.


 


[2] Por sua vez, Vargas havia sido escolhido como Ministro da Fazenda, no governo de Washington Luiz, após este tomar posse, em 15 de novembro de 1926.


 


[3] Cf. O critério da revolução (…) O governo provisório paulista reconhece a existência legal do PCB. In. Diário de Notícias, Porto Alegre, 08/11/1930, p. 3.


 


[4] Cópias originais dos Estatutos do Clube 3 de Outubro de 1932 e do “Manifesto do Clube 3 de Outubro ao Povo do Brasil” (com críticas ao artificialismo do movimento constitucionalista) se encontram no CPDOC/FGV, CO-1 e CO/Panfleto.


 


[5] Em homenagem aos jovens mortos (Martins, Miraguaia, Dráusio e Camargo), foi criada uma Guarda Paulista, com o nome de MMDC, marca do Movimento Paulista de 1932, cuja sede de recrutamento foi a Faculdade de Direito.


 


[6] Cf. Sou pela ordem e pela paz. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 26/05/1932, p. 4,. Em 30 de junho, às vésperas do início do Movimento de São Paulo, Flores da Cunha assegurou mais uma vez que manteria a ordem no estado. Cf. Política e políticos. O general Flores da Cunha hipotecou solidariedade ao Governo Provisório. In.  Correio do Povo. Porto Alegre, 1 de julho, p. 7, Luiz Vergara conta que Flores da Cunha foi convencido por Vargas, através da intermediação de João Carlos Machado, que se encontrava no Rio de Janeiro e instalou-se na estação telegráfica do Catete, após uma sucessiva troca de telegramas, até que Vargas ameaçou Flores, caso tomasse o lado dos paulistas, de responsabilizá-lo pela perturbação da ordem no Rio Grande. Cf. Getúlio Vargas passo a passo: 1928 a 1945. 2 ed. Porto Alegre: AGE, 2000, p. 121-2.


 


[7] Cf. Para resistir à anarquia. In. Diário de Notícias. Porto Alegre, 28/05/1932, p. 1. A resposta de Vargas, em telegrama remetido no início de junho, foi considerada displicente pelas lideranças rio-grandenses, pois o chefe do “Governo Provisório” prescindira do auxílio do estado, ao afirmar que o governo estava forte, nem havia ameaças de perturbação da ordem nem de anarquia. Ver a resposta de Vargas, na íntegra, em Diário de Notícias. Porto Alegre, 02/06/1932, p. 1.


 


[8] Ver ANDRADE, Manoel Correia de. A Revolução de 30: da República Velha ao Estado Novo. Série Revisão, n. 34. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988, p 65-6.


 


[9] Em 10 de julho, Flores da Cunha trocou vários telegramas com Vargas. Em um deles afirmou: “Dr. Getúlio Vargas. Manterei a ordem ou morrerei. Abraços. Flores da Cunha”. Ver. Arquivo Flores da Cunha, FC 32.01.10, doc. III-42, CPDOC/FGV.


 


[10] Paulo Nogueira Filho, escrevendo sobre os episódios de 1932, disse que todos os chefes da Frente Única estavam convictos que tinham o Rio Grande do Sul em suas mãos e que suas decisões finais não seriam contrariadas, tanto que acreditavam que Flores da Cunha tivesse em suas mãos o destino do movimento. Ver NOGUEIRA FILHO, Paulo. A guerra cívica de 1932. Apud CARAVANTES, Rejane Marli Born. A crise política de 1932 no Rio Grande do Sul: o papel de Flores da Cunha. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUC-RS, 1988, p. 108-9.


 


[11] Sobre essa negociação com o PD, sem o conhecimento de Flores da Cunha, ver a carta de Glicério Alves, enviada de Porto Alegre, para João Neves da Fontoura, em 15/06/1932. A prova da ocultação de todas a negociação, diante de Flores da Cunha, estão na seguinte passagem: “ (…) Antes de entrar em matéria mais importante, devo lembrar-te que o pacto com os paulistas era um dos objetos da carta estritamente confidencial que enviastes aos Drs. Borges de Medeiros e Pilla (…) Como poderia eu mostrá-lo a quem quer que fosse, mesmo ao interventor, se dizias sublinhadamente que se tratava de matéria absolutamente reservada e que a carta em questão só deveria ser lida, aqui, pelo Pilla? Avivo-te a memória para que vejas que eu não tive, nem ninguém aqui, a intenção de ocultar ao general os termos do pacto. Se ele não teve conhecimento do assunto por nós, foi porque cumprimos estritamente as recomendações da tua carta (…)”. Cf. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 06, Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS).


 


[12] O manifesto encontra-se, entre outros,  no Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha/Borges de Medeiros, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 09, AHRS.


 


[13] Cf. Despedida ao Rio Grande. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Documentação Complementar, Caixa 06, AHRS. João Neves não morreu nos campos paulistas do Itararé, onde pouco entrou em combate. Aliás, antes de seguir para São Paulo, dirigiu-se ao Rio de Janeiro. De lá, depois de um tempo no Hotel Glória, escreveu para Borges de Medeiros, em 20/07/1932, afirmando: “(…) Não pude sair do Rio. (…) A viagem de automóvel era perigosa (…) a ditadura vigiava as estradas. Temi o ridículo de uma prisão. (…) Preferi ficar e aceitar o oferecimento de um amigo (..) lugar relativamente seguro. Daqui tenho assistido contristado à marcha dos sucessos e sobretudo a atitude do interventor do Rio Grande do Sul (…) Prefiro morrer com elas [hostes bandeirantes] a viver, se o Rio Grande sair degradado (…) Ficamos mal com o Rei e incompatibilizados com a Nação. (…) Fui o último que entrou no movimento. Espero ser dos últimos a sair dele. Cf. Fundo Arquivos Particulares – João Neves da Fontoura, Série Recortes de Jornal, Sub-Série 1932-1939, Caixa 29, AHRS.


 


[14] Sobre a participação e apoio de Luzardo ao Movimento de São Paulo, em 1932, ver CARNEIRO, Glauco. Luzardo: o último caudilho. Vol. 2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978, p. 146-65. Sobre o episódio de Vacaria, idem, p. 153-3. Os acontecimentos de Vacaria, onde Luzardo e o prefeito teriam reunido seiscentas armas e cinquenta mil tiros, foram informados no Boletim n. 6, do Estado Maior da 3ª Região Militar, em 29/07/1932, os quais tratavam da situação política no estado. Nesse mesmo documento, os militares do Ministério da Guerra, relacionavam os acontecimentos de Vacaria com a exploração da situação por comunistas, os quais estariam desenvolvendo atividades, distribuindo panfletos que concitavam os trabalhadores a “não cooperarem com na defesa da ordem e os soldados a não obedecerem as ordens de seus superiores”. Cf. Arquivo Flores da Cunha, FC 32.01.15, 1932 – Movimentos de Tropas, Baixas, Etc., doc. I-55, CPDOC/FGV.


 


[15] Borges de Medeiros produziu um pequeno diário desde o dia que pegou em armas, passando pela prisão no início de outubro de 1932, pelo exílio no Recife e sua volta para Porto Alegre em 1934, finalizando-o no dia do golpe do Estado Novo. Ver  o Diário de minha campanha revolucionária, no Rio Grande do Sul, durante 40 dias, em 1932, no Fundo Arquivos Particulares – Borges de Medeiros e Sinval Saldanha, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 09, AHRS.


 


[16] Cf. Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha/Borges de Medeiros, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 03, AHRS. Em 14/09/1932, Sinval Saldanha recebeu do chefe de polícia tenente-coronel Agenor Barcellos Feio o livre-trânsito para circular no estado, com o intuito de demover Borges de Medeiros e integrantes da Frente Única da luta armada. Cf. idem, AHRS. Como explica Glauco Carneiro, o comandante da Brigada Militar, capitão Martim Cavalcanti, em Santa Maria, era homem de confiança de Borges. Por isso, a decisão de concentrar-se na região, como um possível núcleo para o movimento contra o interventor Flores da Cunha. Cf. op. cit., p. 153-8.


 


[17] No Diário de Borges ele faz referência a esse episódio: “27 – As 12 e 1/2 h. chegaram ao mesmo local [se referia a Bajuru] Chico Flores, Sinval, Chico Medeiros e Júlio Santos. O primeiro exibindo uma carta do interventor autorizando-o a negociar conosco, convidando-me ao abandono da luta, em troca de garantias individuais e de livre trânsito para Porto Alegre, Rio. São Paulo ou Rivera (…) recusamos peremptoriamente a proposta oficial, máximo porque já tínhamos de São Paulo a promessa de compra de armamentos. Nessa mesma tarde resolvera-se a partida do Dr. Pilla para Buenos Aires, via Aceguá-Montevidéu, a fim de providenciar sobre a aquisição dos armamentos, e a do Dr. Glicério para o Formigueiro e Cachoeira com o fim de obter a vinda de dinheiro de Porto Alegre e de armas existentes na Cachoeira (…). Ver Fundo Arquivos Particulares – Borges de Medeiros e Sinval Saldanha, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 09, AHRS.


 


[18] Um dia depois, o tenente-coronel Leite Moreira, telegrafou de Bagé, para Flores da Cunha, opinando ser conveniente pedir ao governo uruguaio prender Raul Pilla, que organizava revolucionários no país vizinho, no lugar denominado Cerro Largo, juntamente com Negrito Saraiva, descendente de Gumercindo Saraiva. Achava também conveniente para a causa nacional, que Borges fosse mantido preso com seus companheiros. Cf. Fundo Documentação dos Governantes, Série Documentos dos Governantes, Sub-Série Correspondência Recebida, Revolução Constitucionalista 1932, Maço 92, AHRS.


 


[19] No seu diário Borges também relata esse episódio: “20 – Levantamos acampamento as 6hs e fomos sestear as 10hs na casa do coronel Nicanor Barbosa, em Cerro Alegre, a quatro léguas da Vila do Piratini. Aí, as 13hs mais ou menos, surpreendeu-nos uma coluna inimiga que, tendo conseguido aprisionar a minha retaguarda, inclusive o coronel João Vargas e o Dr. Sílvio Faria Corrêa, logrou aproximar-se sem ser pressentida (…) Estava eu no estabelecimento com uns vinte homens a pé e o único cavalo encilhado era o meu. Era impossível retirar-me com essa gente porque estávamos cercados. Demais, restava-me a esperança de que o Dr. Luzardo e o coronel Coriolano de Castro viessem ao meu encontro. Fiz da habitação do fazendeiro a nossa fortaleza e de dentro dela sustentamos o fogo até o último cartucho. Eram cerca de 16hs quando cessou a fuzilaria e passou o pessoal do 1. RC que penetrou na casa. Tratado com toda a consideração, fui logo conduzido para o acampamento do Estado Maior do coronel Adel Pereira, em cuja barraca passei a noite. No dia seguinte, as 11hs mais ou menos, segui de auto em companhia do coronel Hipólito Ribeiro e do major Coimbra para a Vila de Pinheiro Machado”. Cf. Fundo Arquivos Particulares – Borges de Medeiros e Sinval Saldanha, Série Revolução Constitucionalista, Caixa 09, AHRS. No dia 21, ainda em Pinheiro Machado, Borges mandou um telegrama pela Viação Férrea para sua esposa Carlinda, onde dizia, entre outras coisas: “(…) vencido ontem em combate, estou prisioneiro com toda garantia e atenções (…)”. Ver Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha, Série Revolução Constitucionalista 1932, Caixa 03, AHRS..


 


[20] Em seguida, passa a circular pelo estado, um panfleto intitulado “A prisão do Dr. Borges de Medeiros”, que entre outros pontos, afirmava: “(…) abandona o repouso de sua velhice modelar para, de fuzil na mão, na indumentária tradicional do gaúcho, de bombacha e de pala, ser preso e por quem rio-grandense? Por uma horda de provisórios, recrutados na escória da população do estado, graças aos dinheiros públicos, sugados às classes que trabalham e que produzem. (…) Borges de Medeiros – chefe do Rio Grande republicano – líder da elite mental de nossa terra – prisioneiro da ralé, do rebotalho, da salsugem social, que veio à tona nesta hora de triste evidência das mediocridades”. Cf. Fundo Arquivos Particulares – Sinval Saldanha/Borges de Medeiros, Série Impressos, Caixa 09, AHRS.


 


[21] Os feridos foram remetidos para Pinheiro Machado. Cf. “Repercussão do Movimento de São Paulo. A prisão de Borges de Medeiros”. Correio do Povo. Porto Alegre, 23/09/1932, p. 10, MCSHJC/RS. Borges chegou preso ao Rio de Janeiro, em 28 de setembro, sendo destinado para a Ilha do Rijo. Lá, encontraria o mineiro Arthur Bernardes e o paulista Pedro de Toledo, ex-governantes de seus respectivos estados.


 


[22] Dali em diante, a relação política entre Vargas e Flores da Cunha vai ter altos e baixos, encerrando-se em 1937, quando o então Governador do Rio Grande do Sul passou apoiar o paulista Armando de Salles Oliveira para as eleições presidenciais. Ali, se inicia o rompimento que levará ao plano de deposição de Flores, sua renúncia e o exílio no Uruguai, enquanto que Vargas liderará o Golpe do Estado Novo, o qual evitará as eleições presidenciais programadas para 1938. Sobre e relação entre Flores e Vargas na década de 1930, ver CAMPOS, Derocina Alves. Flores da Cunha x Getúlio Vargas: da união ao rompimento. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: PUC-RS, 1995.

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