Capacidade de apropriação do capital

A esquerda precisa parar de se pautar pelos costumes, tá mais que provado que isso só alimenta a guerra de Bolsonaro e seus asseclas contra todos que se opõe a sua agenda neoconservadora.

Obra "Operários", de Tarsila do Amaral

Reconhecer o poderio do inimigo é algo importante quando se conduz uma guerra. E isso vale para o sistema capitalista. Sua capacidade de apropriação de pautas é algo dos mais fantásticos! Não pode aparecer uma batalha justa, que já chegam junto os lacaios para se apoderarem da pauta.

Temos diversos exemplos de apropriação: a pauta antirracial, a feminista, os direitos humanos e, pasmem, até a luta anti-imperialista!

A novidade dessa quinzena foi a propaganda de uma rede de cosméticos que teve como garoto propaganda um famoso ator transexual, filho de uma cantora relativamente famosa no Brasil todo.

Sob a falsa acusação de que ele não representa a paternidade, vários atacaram o ator de forma errônea simplesmente por ele ser trans, o que de fato é um verdadeiro absurdo, mas aí que veio a grande sacada do Capital!

Imaginando que os setores conservadores iriam descer a lenha na propaganda, a empresa em questão faturou consideravelmente! Além de ter sua marca nas redes sociais de maneira gratuita (para o bem ou para o mal), ela mais que duplicou as ações na Bolsa de São Paulo, mostrando que essa ação de guerra virtual devido à sexualidade do ator já era prevista pelos seu departamento de marketing.

Não é genial? Se apropria de uma justa pauta e faz com que a esquerda fique, literalmente, desbaratinada, afinal de contas, no âmbito de realizar a justa defesa de que o fato de ser trans não faz o ator em questão ser menos homem do que qualquer outro, muitos acabam entrando na defesa cega do fato em si, ou até pior, na defesa exclusiva do artista, famoso por ser ferrenho defensor de Bolsonaro.

Ao se solidarizar com a situação, o que muitos não percebem é que fazem exatamente o jogo que o imperialismo espera que seja feito, divulgando a marca aos quatro cantos sem gastar um tostão bem como o ator e a mãe, que já foram inclusive candidatos em eleições passadas. Coincidência? Eu duvido muito, afinal de contas nada parece tão sólido que não se desmanche no ar, como diria o velho barbudo…

A esquerda precisa parar de se pautar pelos costumes, tá mais que provado que isso só alimenta a guerra de Bolsonaro e seus asseclas contra todos que se opõe a sua agenda neoconservadora.

É hora de pautarmos pão, trabalho e renda, isso sim mexe com as famílias, fazer todos enxergarem o fracasso econômico que é esse governo me parece ser o desafio imediato. Não vamos derrubar o governo neofascista com saraus e poesias! No regime burguês, luta-se com as armas da burguesia, é preciso ver além do que o olho parece enxergar.

E aí? Vamos declarar guerra a quem finge nos amar ou vamos seguir sendo ludibriados pelo Capital?

Até a próxima.

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