Carta para não esquecer de escrever

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Podemos trocar cartas de amor. As cartas estão em desuso e o amor que nunca sai de uso, continua presepeiro. Acredito ainda nas cartas, desde que não sejam as que tragam o futuro. Vamos lançar palavras na imensidão dos nossos mares, aquecer o amor entre as águas e depois dos anos revisitar as cartas para encontrar brilhos nos olhos.

Estava procurando um jeito para te escrever, pois motivos nunca faltam. Se as cartas estão em desuso, estou escreventemente fora de moda. Quando comecei a enviar as primeiras cartas, você ainda não sabia ler e escrever, mesmo assim escrevia, era como se estivesse fazendo uma poupança de afetos, fazendo com que as palavras rendessem. Mas nunca pensei em poupar as palavras que te mandava.

Encontre as palavras que lancei nos nossos caminhos. Se um dia se perderam na imensidão do vai-e-vem, hoje elas encontram terra firme. Quantas vezes te escrevi? Não faremos a contabilidade da escrita, porque o amor é imensurável.

Releio cartas, recados em orelhas de livros.  Na tampa da caixa do jogo de pega-varetas que fiz com palitos de churrasco escrevi que a vida era um jogo e que nem sempre ganhávamos. Quando tinha cinco anos te presenteava com um livro de literatura que dificilmente entenderia e nele deixei uma carta dizendo que contaria as histórias do livro e quando estivesse sabendo ler e escrever seria sua vez de contar histórias para outras crianças. O tempo passou: já pode contar as histórias dos livros e as suas. Já pode escrever suas histórias, já pode escrever sobre tudo, inclusive sobre o amor.

Escreva filho, faça testamentos de amor em cartas, promova a rebeldia com as palavras e com cada uma delas vai construindo um mundo em que a escrita nunca seja privilégio, porque a palavra é sempre a humanidade que nos habita.

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