Caso Aécio: A estrada vai além do que se vê

Na terra onde os iluminados de toga passaram a mandar e desmandar, muita gente se sentiu vingada quando no dia 26 de setembro o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou o senador Aécio Neves (PSDB) de seu mandato. Esta mesma turma bradou horrores de raiva quando no último dia 18 de outubro o Senado votou e devolveu o mandato, então tirado pelo STF, para o senador mineiro.

Não há dúvidas que Aécio e sua turma são os principais responsáveis por toda a crise que nosso país se encontra desde que não aceitaram os resultados eleitorais de 2014 e passaram a sabotar o país ajudando das mais diversas formas possíveis o golpe que destituiu a presidenta eleita Dilma em 2016. Também não existem dúvidas a quem seus programas denominados “choque de gestão” favoreceram em Minas Gerais, ao tirar dinheiro da educação e saúde para colocar nas mãos da iniciativa privada.

O que muitas pessoas não entenderam, entretanto, é que neste momento de confusa leitura política, Aécio não é o maior inimigo a ser derrotado, pode parecer antagônico escrever isso, mas defender o estado democrático de direito e a Constituição de 1988 precisa estar à frente, trazendo para as trincheiras da resistência pela democracia quem pudermos.

As aberrações jurídicas e políticas levadas a cabo pelo STF e pela Lava Jato demonstram que não estamos vivendo mais o regime democrático que vivíamos até o impeachment da presidenta Dilma, estamos sob um regime autoritário e estranho, onde o poder judiciário passou a legislar ferindo as atribuições da câmara e senado federal. Isto é uma aberração gravíssima, típica de estados de exceção!

Quando os golpistas disseram lá atrás que “Aécio seria o primeiro a ser comido”, não era uma metáfora, era uma ação política pensada para afastar e prender um grande cacique da direita brasileira para dar ao Coliseu o espetáculo circense esperado! Não foi por acaso que a Globo, responsável maior por nossa crise, defendeu com tanto afinco o afastamento do senador.

Pode parecer estranho, mas o não afastamento de Neves contrariou os interesses das grandes corporações e da própria Vênus Platinada, pois ao trazer de volta as atribuições do legislativo (neste caso), desmoralizou o STF na frente de toda a nação. Não há dúvidas que o ex-governador de Minas Gerais não é santo, mas mesmo ele precisa ser julgado segundo os ritos jurídicos! Não se pode dar tratamento diferenciado a ele simplesmente por ele ser o que é!

O motivo para isso não é se basear na moral burguesa, mas no que consta na nossa legislação e, em especial, por olhar para frente, para os casos que ainda virão. Diversos senadores terão processos de afastamento a serem julgados em um futuro próximo, curiosamente quase todos de esquerda, parlamentares de muito brio e excelente atuação, como Lindberg Farias e as senadoras que ocuparam a mesa diretora para tentar barrar a Reforma Trabalhista (Gleisi Hoffmann, Fátima Bezerra, Vanessa Grazziotin, Regina Souza e Lídice da Mata).

Ao não afastar o senador tucano e não cumprir o que o STF encaminhou, o parlamento abre uma prerrogativa importante para não cassar os mandatos da esquerda, é preciso que se entenda que neste estado de exceção em que vivemos colocar o PT, o PCdoB, o PSOL e demais agremiações ideológicas na ilegalidade é questão de tempo! Toda forma de resistir é preciso, não podemos cair no estreitismo ideológico de querer se misturar só com os seus. Para defender a democracia, todo democrata é aliado! Até mesmo inimigos de classe como os liberais clássicos que não são adeptos do fascismo! Como diria um velho ditado árabe: “O inimigo do meu inimigo é meu amigo”.

Como disse no título, a estrada vai além do que se vê, resistir é preciso, ampliar também, somente com um pacto nacional capaz de reconstruir o nosso país sob a ótica nacional desenvolvimentista poderemos superar de fato toda esta crise.

Até a próxima.

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