Cena improvável

Vejo no Instagram uma foto perfeita, em preto e branco, de uma criança entre dois adultos num banco que me parece de trem ou metrô. Belíssima cena — embora improvável.

A criança lê um jornal e o casal de adultos se deixa concentrar cada um em seu smartphone.

Hoje cada vez menos se ler jornais impressos, quase a totalidade das pessoas, inclusive as crianças pequenas, dedica parte do seu tempo diário presas aos incontáveis estímulos do telefone celular.

Há quem faça campanha contra. Não é o meu caso. Longe de mim deter a roda da História.

O que talvez seja possível é fazer com que essa roda se mova em favor da civilização e não para o embrutecimento dos indivíduos.

Ora, se o smartphone se converteu numa peça quase que indissociável do nosso corpo e a imensa maioria da população da Terra o usa para se comunicar com o mundo exterior, por que não utilizá-lo de modo racional e minimamente disciplinado?

Mais: por que não fazê-lo instrumento de aproximação entre pessoas que, por razões diversas, vivam fisicamente distantes, em diferentes continentes até?

Não me venham dizer que assim já acontece através do WhatsApp ou do Telegram. Por esses aplicativos, que eu saiba a comunicação que rola está muito mais para diálogo de surdos do que troca de ideias e experiências.

Frases não são pronunciadas, ou seja, não são escritas por completo; convertem-se numa sequência de abreviações só compreensíveis pelos iniciados. Em grande parte as mensagens simplesmente reproduzem que alguém recebeu e, mesmo sem ler ou se inteirar do conteúdo quando em áudio ou vídeo, e já passou adiante.

Entretanto, o mundo não acabou e nada pode ser dito como irremediavelmente perdido. Muito em breve, saturado de tanta inovação tecnológica e “facilidade” eletrônica os terráqueos voltarão a valorizar a conversa olhos nos olhos e o compartilhamento de ideias, experiências e emoções ao vivo.

Então, milhões e milhões de encontros serão marcados por via eletrônica, mas aconteceram de fato, “presencialmente“.

Provavelmente não estarei vivo para testemunhar, o que lamento muito, mas creio firmemente que a Humanidade enfim encontrará o seu destino.

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