Corrupção: de quem é a culpa?

Penso que a explicação não é tão simplista como culpar o “eu”, é preciso ler o coletivo para se compreender o que tem por trás disso, ou seja, para existir corrupto é o preciso que exista o corruptor, ou seja, corrupto e corruptor são irmãmente ligados

Fotomontagem feita por Artur Nogueira com as fotos de: Karolina Grabowska/Pexels e cihat özsaray /Pexels

Um dos maiores males do nosso país é a corrupção. Isso é uma máxima que escutamos em tudo que é canto, mas será mesmo? Como bom cientista, gosto de ver todas as evidências para poder emitir minha opinião e penso que mais do que demonizar o ato corrupto, é importante questionarmos o que leva a isso.

Muitos podem pensar que a causa é a maldade, ou seja, pessoas sem caráter que querem se aproveitar da oportunidade surgida para se dar bem. Isso pode até contribuir na ação, mas não explica de maneira derradeira a motivação que leva a esse ato.

Penso que a explicação não é tão simplista como culpar o “eu”, é preciso ler o coletivo para se compreender o que tem por trás disso, ou seja, para existir corrupto é o preciso que exista o corruptor, ou seja, corrupto e corruptor são irmãmente ligados.

Isso nos faz pensar numa importante questão: quem é o culpado disso? O corrupto que está embolsando um valor para fazer alguma coisa ilícita? O corruptor que está comprando um terceiro para conseguir algo de seu interesse de forma escusa? A justiça que finge não ver a ação ilegal, podendo muitas vezes se beneficiar junto, se tornando também corrupta?

Será que a corrupção não está entranhada em tudo? Penso que pelo fato de que no sistema capitalista tudo ser moeda de troca, que temos a causa maior desse problema, ou seja, a relação comercial é a base de todas as relações, eis questão.

Vou dar um exemplo: se uma pessoa recebe o troco errado do pão que comprou na padaria e não devolve, é um ato de corrupção, entretanto essa atitude é socialmente aceita, muitas vezes com essa pessoa ficando como a espertinha.

Se isso é aceito por que o orçamento secreto do Arthur Lira para comprar deputados não pode ser? Veja que só mudam as instâncias, a atitude de se dar bem de maneira ilícita é a mesma.

Óbvio que o tal orçamento secreto está equivocado, mas também não é justo não pegar o troco correto, não se pode ter dois pesos e duas medidas, é preciso que se lute por uma nova sociedade, onde o certo seja certo e o errado seja errado, e isso perpassa por um modelo de construção social e educacional capaz de buscar relações harmoniosas e não comerciais entre as pessoas.

A essência do problema são os valores praticados pela sociedade, ou seja, em uma sociedade burguesa, valem os valores da burguesia, onde o “eu” é superior ao “nós”, portanto a causa não é de atitudes ou falta de atitudes de pessoas, mas do modelo econômico social que valoriza a corrupção como meio de relação social entre variados indivíduos ou entre estes indivíduos e empresas.

Lutar contra a corrupção é lutar por outro sistema econômico, é ilusão achar que é possível superar este tipo de relação promíscua no Capitalismo, pois ele se alimenta exatamente disso, pois é daí que ocorre a maior de todas as suas formas de exploração: que é a mais valia, mas isso é assunto para outro texto.

Para concluir, é preciso enxergar que apenas defender a honestidade como valor universal não é suficiente para se acabar com a relação corrupto x corruptor, é preciso ir na raiz do problema, lutando contra a sua causa, se não for assim estamos falando de atitudes ilusórias que satisfazem o “eu”, mas não resolvem o problema de todos nós.

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