CUT-24 anos: Articulação manobra contra CSC

A disputa acirrada entre dois grupos da Articulação Sindical atingiu a Corrente Sindical Classista (CSC) em cheio. No 9º Congresso da CUT, a tendência majoritária manobrou o máximo que pôde para esvaziar a participação dos classistas na central. A

O primeiro discurso de Artur Henrique da Silva Santos como presidente da CUT, eleito no 9º Congresso da central realizado entre os dias 2 e 9 de junho de 2006, soou como uma espécie de tentativa de aprumar o rumo depois do ziguezague que o levou ao cargo. “Neste Congresso definimos um plano de lutas e vamos precisar de muita unidade para encaminhar nossa plataforma de luta. Temos de avançar nas conquistas, defender a reeleição do companheiro Lula e apresentar para o governo e à sociedade nossas reivindicações”, afirmou.


 


A disputa pela presidência da central colocou em posições opostas dois grupos da Articulação Sindical — um deles liderado por João Felício e outro por Artur. Na aparência, o centro da disputa era o grau de autonomia da central frente ao governo Lula. Felício seria mais ''autonomista'' do que Artur. Havia, sem dúvida, este fator; mas, no fundo, as divergências refletiam a delimitação de espaços entre os dois grupos da Articulação Sindical no comando da central.


 


Desdobramentos imponderáveis


 


Artur tentou minimizar a crise. “Essa questão da autonomia tem que ser melhor analisada, porque fazer discurso é fácil. Tem que ver na prática. Fomos nós que fizemos as últimas grandes greves, sindicatos ligados a nós, como os eletricitários e o setor dos bancos públicos. Essa polêmica foi mais uma tentativa de dividir a Articulação Sindical”, disse ele. Os métodos utilizados pelo grupo vencedor, no entanto, deixaram ressentimentos no lado perdedor — cujos desdobramentos ainda são imponderáveis.


 


Já nos preparativos do Congresso, ficou evidente que a disputa por espaços na Articulação Sindical eliminaria qualquer possibilidade de unidade entre as tendências da central. A Corrente Sindical Classista (CSC) adotou o lema “Por uma CUT autônoma, unitária e combativa”, proclamando que o movimento sindical brasileiro se deparava com o desafio de mobilizar os trabalhadores para “estimular a luta pelas mudanças no país, tendo como objetivo a viabilização de um novo projeto de desenvolvimento nacional, com soberania e valorização do trabalho”.


 


Casuísmos congressuais


 


Para a CSC, havia indícios de que o hegemonismo da Articulação Sindical — tema de uma histórica divergência dos sindicalistas classistas com a tendência majoritária da CUT — seria reforçado. “Esse ponto põe em perigo a participação da central no jogo político. Mesmo tendo aliados, a Articulação Sindical age com exclusivismo – o que pode levar a CUT a uma divisão mais profunda. Se não mudar esse comportamento, a Articulação Sindical pode jogar no lixo um projeto construído ao longo de muitos anos”, disse Wagner Gomes, vice-presidente da CUT e membro da coordenação nacional da CSC.


 


Em artigo intitulado ''Como a CUT nacional derrotou o sindicalismo baiano'', publicado no site da CUT-Bahia, o então presidente da entidade naquele Estado, Everaldo Augusto, também membro da CSC, descreveu os métodos da Articulação Sindical para garantir o seu hegemonismo. “A decisão da CUT nacional, de 'fabricar' maioria a favor de um grupo político, através de casuísmos congressuais, derrotou o movimento sindical baiano e deu a 'vitória' ao grupo Articulação Sindical”, disse ele. “Não é a primeira vez que a cúpula da central interfere nos congressos da CUT na Bahia”, escreveu.


 


Novas divergências


 


Segundo Everaldo Augusto, os métodos utilizados pela Articulação Sindical eram concebidos no núcleo central da CUT. “Todo o processo de preparação e realização de congressos da CUT é centralizado, de modo absoluto, pela direção nacional, sobretudo pela tesouraria e a secretaria-geral. Nos anos anteriores, a CUT nacional se dava ao requinte de enviar um funcionário da tesouraria nacional para ser uma espécie de interventor no congresso estadual. A ele cabia a última palavra sobre quem participava ou não do congresso”, disse. Métodos semelhantes também foram usados em outros congressos estaduais.


 


Depois do Congresso, novas divergências se manifestaram com força entre a Articulação Sindical e a CSC. Para atender aos acordos internos, a tendência majoritária se recusava a manter o cargo de vice-presidente da CUT em mãos classistas. ''Nós ajudamos na construção da central e temos crescido nos últimos anos, por isso queremos manter esse espaço'', ressaltou Wagner Gomes. Artur disse que a vice-presidência foi oferecida à CSC antes da definição das chapas que concorreriam à direção da central. ''Mas eles preferiram sair sozinhos e quebrar a aliança com a Articulação Sindical”, justificou.


 


Cargos loteados


 


A primeira reunião da nova executiva foi tensa. Para a CSC, a manutenção da vice-presidência era legítima e natural, dado o seu fortalecimento no sindicalismo e também na CUT. ''Somos uma corrente ascendente, combativa e autônoma'', disse o coordenador nacional da CSC, João Batista Lemos. Mas, com a postura irredutível da Articulação Sindical, dirigentes da CSC abandonaram a reunião.


 


Em nota divulgada no dia  23 de junho de 2006, a CSC condenou novamente a postura hegemonista da Articulação Sindical. “(Os cargos) já tinham sido previamente loteados dentro da própria Articulação Sindical”, dizia o documento. “A decisão de abocanhar também a vice-presidência seria uma forma de sufocar ainda mais as outras correntes e aprofundar a partidarização da central”, afirmou a nota. “Ao encabeçar a 'Chapa 2' no pleito que definiu a nova direção, na plenária final do 9º Congresso, a CSC foi motivada basicamente pela necessidade de lutar por uma CUT democrática, autônoma e combativa”, acrescentava.


 


Fendas abertas


 


Segundo o documento da CSC, a atitude da Articulação Sindical ameaçava a unidade da CUT. “A questão não é meramente sindical.Trata-se de consolidar uma frente política no interior da central tendo em vista objetivos estratégicos maiores, destacando a defesa de um novo projeto nacional de desenvolvimento, fundado na soberania e na valorização do trabalho, que hoje passa pela reeleição de Lula. É uma batalha política de classes, na qual não se deve subestimar o poder de fogo das classes dominantes”, finalizava.


 


A controvérsia terminou no dia 28 de julho de 2006, quando a Articulação Sindical decidiu dividir o cargo na nova executiva nacional — criando duas vice-presidências, uma delas ocupada por Wagner Gomes e a outra por Carmem Forro, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), ligada à Articulação Sindical. ''A nova composição sinaliza um processo de pluralidade, fortalecendo a CUT'', declarou Wagner Gomes, que destacou o crescimento classista na nova direção da CUT. A CSC passou de quatro para cinco membros efetivos na executiva nacional, além de uma suplência. As conseqüências das fendas abertas por esse processo turbulento serão analisadas na próxima coluna. 


 


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