Derrubar estátuas não é uma boa saída

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Estátua do badeirante Borba Gato, na Zona Sul da cidade e São Paulo

Uma das polêmicas mais atuais que temos enfrentado se dá, veja bem, por conta de estátuas. Em tempos de pandemia, economia na lama, o capitalismo em mais uma de suas crises e ascensão do fascismo, temos como pauta: estátuas.

Sem entrar no mérito da questão, mas já entrando, é preciso repensar nossas ações e atitudes, será que a derrubada de estátuas é o melhor caminho rumo a ressignificação da História?

Nosso país tem uma relação aberta com suas feridas, elas não foram bem cicatrizadas, seja o fim da escravidão, da ditadura militar, entre outras, sabemos que os principais causadores nunca foram, de fato, responsabilizados. Isso gerou uma sangria histórica, em que tocar nesses temas, causa dores horríveis em muitas pessoas – com razão.

Entretanto, não podemos mudar tudo que aconteceu. Nosso país não nasceu em 2020 nem tampouco nas manifestações de 2013, como acham alguns. Bem ou mal, essas feridas nos ajudaram a ser quem somos, elas fazem parte da construção do nosso Brasil enquanto nação, e não podemos simplesmente fingir que não existiram.

Derrubar uma estátua não apaga nosso passado escravista, como também não resolve destruir o que a ditadura ergueu, vamos pôr abaixo Itaipu? Não é por aí…

Precisamos trazer novos significados para os fatos do passado, ao invés de derrubar estátuas não é mais interessante colocar um mural explicando quem era aquela pessoa, o que ela fez e as consequências de suas ações?

Nosso pais tem poucos monumentos nacionais comparados com outros países, é preciso mais. Precisamos de mais Zumbis, Dandaras e Osvaldões pelo país afora, isso sim é uma saída, criando estátuas dos nossos mártires do mesmo jeito que um dia foram criadas de nossos algozes.

Não podemos cair no erro de destruir tudo, nossa identidade nacional se dá também pelas chagas que foram abertas e mal curadas, negar nosso passado não me parece o melhor caminho, o correto é aceitar o que somos, como somos e mostrar que esses episódios foram tragédias, que precisam ser contadas para que nunca mais voltem a acontecer.

Na Alemanha tem o museu do holocausto, por óbvio todo alemão tem (ou deveria ter) vergonha de seu país ter um dia um líder como Hitler, mas isso é um fato histórico, algo que precisa ser lembrado para que todos saibam o horror que foi o nazismo.

Isso vale inclusive para o nosso atual período histórico: a eleição de Bolsonaro é uma vergonha que todo democrata vai carregar para sempre, mas essa história não pode ser apagada, ela precisa ser contada para que os erros que culminaram na vitória desses extremistas em 2018 nunca mais se repitam!

É hora de mantermos de pé nossas estátuas e recontarmos nossa história, mas não podemos achar que tudo começa agora, são mais de 500 anos da chegada dos portugueses e muitos mais de indígenas em nossa nação.

Se somos o que somos, é porque vieram outros antes de nós, para o bem e para o mal.

Até a próxima.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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