Disputa antecipada

Essa polarização corresponde objetivamente ao conflito entre dois extremos sociais

(Foto Lula: Ricardo Stucker. Foto Bolsonaro: Reprodução)

Embora sempre seja recomendável cautela em relação às pesquisas eleitorais com tanta antecedência das eleições de outubro, inegável que se consolida a disputa entre dois polos diametralmente opostos: Lula versus Bolsonaro.

Sem que haja uma relação mecânica, essa polarização corresponde objetivamente ao conflito entre dois extremos sociais: a minoria que cada vez mais concentra a produção, a renda e a riqueza (parte dela aferindo lucros financeiros fantásticos via especulação rentista); e a grande maioria da população às voltas com as consequências da baixa atividade econômica, do desemprego, da inflação e da carestia e da supressão de direitos.

Em sua expressão político-eleitoral, trata-se de uma luta renhida entre uma oposição que cresce e se amplia, em torno da liderança de Lula; e uma situação que esperneia e tenta recuperar forças em sua base conservadora e extremada. E na esteira de uma provável inviabilidade do que se tem chamado “terceira via”, a parte politicamente mais dinâmica do rentismo, do grande agronegócio e dos monopólios industriais e de serviços — com articulação externa — busca interferir na disputa polarizada.

Já não joga todas as suas fichas na aventura bolsonarista e, embora não simpatize com a alternativa Lula, já disputa o programa de um possível novo governo. Diálogos com personagens da frente oposicionista pró-Lula, reverberados na grande mídia, põem à luz a pretensão de abortar a possibilidade de novo modelo econômico que considere efetivamente os interesses e as necessidades da maioria.

Uma disputa antecipada.

Concomitantemente, o próprio PT elabora proposições para um futuro governo; o PCdoB formulou uma plataforma de reconstrução nacional; as centrais sindicais deverão produzir, dentro de alguns dias, sua carta de proposições e assim por diante. Sem prejuízo de um máximo de amplitude e flexibilidade, a pré-candidatura do ex-presidente Lula pode e deve expressar com nitidez o que pretende no governo, demarcando campos com o adversário principal.

Esse confronto no campo das ideias desde já contribui para qualificar a mobilização popular e social indispensável ao êxito eleitoral.

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