Ditadura Militar, lembrar para nunca mais acontecer

Foram duas décadas de revezamento de generais, o regime foi endurecendo, passou a prender e perseguir seus opositores, praticando inclusive torturas e desaparecimentos de militantes, aplicando técnicas ensinadas por instrutores da CIA enviados à América Latina

Na madrugada de 31 de março de 1964, deu-se um golpe militar contra o governo do então presidente João Goulart. As mudanças propostas nas reformas de base do governo Goulart, com possível reforma agrária e outras de caráter democrático, foram o estopim do movimento que levou a derrubada do governo, promovido por militares e apoiado por setores da burguesia nacional. Os Estados Unidos foi patrocinador do golpe militar no Brasil em 1964, mas também em vários outros países latino-americanos como, por exemplo, o Paraguai em 1954, no Chile e no Uruguai, ambos em 1973, e na Argentina em dois momentos, 1966 e 1976.

A tese sustentada pelos golpistas da época é historicamente a de uma “ameaça comunista”, farsa repetida para tentar isentar os militares de todos os crimes perpetrados contra os brasileiros durante os 21 anos de ditadura. Mas há consenso internacional sobre os crimes de lesa humanidade dos ditadores militares, inclusive tendo a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenado o Estado brasileiro em 2018 pela falta de investigação, julgamento e condenação dos responsáveis. A narrativa militar foi, desde o começo, de que o Brasil passaria um breve período de “reorganização”, inclusive com um primeiro vice civil, e uma volta para a condução por civis no governo. A farsa durou pouco, foram duas décadas de revezamento de generais, o regime foi endurecendo, passou a prender e perseguir seus opositores, praticando inclusive torturas e desaparecimentos de militantes, aplicando técnicas ensinadas por instrutores da CIA enviados à América Latina.

Foi um período de interrupção democrática, de censura, perseguição, assassinatos, um período de exclusão e de cerceamento. A retomada foi dura, custou vida de centenas de brasileiros e brasileiras, vários seguem desaparecidos. Mesmo durante a repressão, as ruas receberam grandes manifestações, como a marcha dos 100 mil e os protestos contra o assassinato do secundarista Edson Luís de Lima Souto no Rio de Janeiro. A Ditadura foi perdendo força, aumentou a resistência do nosso povo ao regime de exclusão e também a pressão internacional. O Brasil construiu uma grande campanha pelas Diretas, que acabou derrotada no Congresso, na sequência a solução encontrada foi a eleição via Colégio Eleitoral, com o confronto entre Paulo Salim Maluf, civil apoiado pela ditadura, e Tancredo Neves, candidato das forças de oposição ao regime, vitorioso no pleito.

Na passagem de mais um 31 de março é preciso relembrar a História, valorizar os fatos e documentos e defender com unhas e dentes a democracia e o direito dos brasileiros elegerem seus governantes, e também estudarem o passado, para que nunca mais tenhamos o Brasil governado por quem não foi eleito para tal e nem o Estado assassinando quem discorda dos ditadores de plantão. Ditadura Nunca Mais.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor